Curta Paranagua 2024

Crítica: Robin Hood – A Origem

Flechas, capuz e mais alguma coisa

Por Vitor Velloso


A saturada história do ladrão que roubava dos ricos e dava aos pobres, retorna ao cinema carregando as influências super-heróicas que foram incessantemente solidificadas em Hollywood. A esquemática é a mesma de sempre, uma figura que nasce de um problema/trauma, possui determinadas características, sejam elas físicas ou psicológicas, mas que precisa de um treinamento mais assíduo a fim de aprimorar suas habilidades. No caso, foi utilizado um mestre para o trabalho, que claramente eles romperão ideologicamente em algum momento, mas no fim, tá tudo resolvido e sem problema nenhum.

“Dirigido” por Otto Bathurst, a trama deste novo longa sobre “Robin Hood – A Origem” é a mesma que todos já conhecem com pequenas diferenças estruturais que aproximam ele dos dogmas marvelescos. Primeiramente, eles consideram um filme de origem, dado o histórico já podemos esperar algumas coisas…, segundamente temos um vilão caricato que parece controlar uma política neonazista ou Helghast, do Killzone (não que haja muita diferença nos dois). Desta vez o lendário encapuzado, é interpretado por Taron Egerton, conhecido como o menino de Kingsman, e toda sua inabilidade com a dramatização de seus personagens. O mestre é encarnado pelo, sempre carismático, Jamie Foxx, mas que Otto conseguiu, de forma impressionante, criar um personagem odioso e esquecemos a presença do ator em cena. E o vilão, por Ben Mendelsohn, que já possui uma carreira repleta de antagonistas. Quando a projeção se inicia e vemos a cidade de Nottingham, é possível notar onde estamos nos metendo, repleta de efeitos especiais tenebrosos e um blurr irritante, seguimos. A história de ninar, conhecida como história de amor pelo diretor, entre Robin e Marian (Eve Hewson), se inicia, com uma trilha brega, planos clichês e uma falta de química beirando a comicidade. Aí em dez minutos somos jogados à guerra que servirá de problemática dramática e à formação do protagonista, e a apresentação da batalha é… única. Percebemos o tempo inteiro, tanto pela misancene quanto pela cenografia, que estamos em um estúdio e toda a coreografia soa um ensaio com correção de cor.

Enquanto o autor tenta dar alguma voz ao seu estilo, mais fica claro que o produto veio da xerox e até uma característica que ele se esforça em impor, de simular o impacto e a velocidade das coisas através de uma mudança na fluidez da imagem e com uma câmera que aparenta receber essa energia de forma direta. A questão é antiga, são artifícios datados e de uma estética empobrecida, mas que acredita estar realizando uma proposta inovadora. Tais escolhas influenciam diretamente no ritmo da narrativa, acelerando e desacelerando quando achar mais conveniente. E esta tentativa constante de cadenciar o andamento da obra, é de longe seu pior momento. Com uma hora e quarenta de duração, a projeção parecia ter quatro. E ainda mais grave era perceber que o momento onde o tédio reinava, era durante cenas de batalha, justamente por causa desse recurso estético bobo. Em diversos momentos a vontade era de dormir, uma pena eu ter ido à cabine sem sono.

Conforme acompanhamos a progressão da história, notamos o quão aquilo é esquemático. Todo o sistema por trás do filme é uma repetição preguiçosa de um arquétipo de heróis e estereótipos de ação contemporâneo. Se existisse um filho entre “A Grande Muralha” e “Arrow” sairia esse “Robin Hood”, sem dúvida. A justificativa dada pelo roteiro ao início das atividades de “Hood” são as mesmas de sempre, o povo está sendo massacrado pelos impostos e ele passa a roubar do Estado e dar aos necessitados. Porém toda a questão provinciana que é característica das narrativas do personagem fica ainda mais fechada a uma concepção de estúdio. Sem possuir dinheiro necessário para realizar os desejos da produção, vemos uma Nottingham se repetir diversas vezes, porém, sempre com o ar de que aquilo que estamos vendo não passa de uma estrutura cinematográfica. Até mesmo o mercado onde a maior parte da plebe está concentrada não consegue ser vivido.

A conclusão que temos é próxima do longa de Ridley Scott, é desnecessário e frágil em todas as estruturas possíveis, a maior diferença é que este novo se propõe a ser uma aventura com “a” maiúsculo, e apenas gera tédio, enquanto o de 2010 tentava ser mais denso e dramático, e era tão entediante quanto.

1 Nota do Crítico 5 1

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