Ainda não é o suficiente
Por Vitor Velloso
Quando o projeto foi anunciado, uma coisa chamava atenção: uma equipe inteira asiática ou descendente, a novidade em Hollywood veio acompanhar a hecatombe de notícias divulgadas com “Pantera Negra”. “Podres de Ricos” está longe de ser um marco cinematográfico, mas utiliza bem diversos clichês das comédias românticas a fim de gerar um autenticidade mínima.
Dirigido por Jon M.Chu (G.I Joe e Truque de Mestre), o longa possui uma construção narrativa bastante batida, une a ideia de apresentar um(a) noivo(a) à família e todas as problemáticas de roteiro que o gênero permite apresentar. Não há, de fato, nada na trama que chame atenção, além do detalhe básico que Nick Young (Henry Goldin) é filho de uma das famílias mais importantes da aristocracia asiática. E Rachel (Constance Wu), professora de economia, sua namorada, desconhece todo o arcabouço de riqueza que rodeia a vida de Nick. A família desaprova completamente o relacionamento deles e fará de tudo para impedir que se concretize.
Toda a centralização do romance deles, é bastante cansativa e pouco original, é uma demonstração clara de um desenho prático e direto na história que pretende contar. O que facilita ao espectador já que não há necessidade de um investimento intenso para criar uma conexão com os personagens. O carisma dos dois é inegável, ambos possuem uma presença cênica que corrobora com o clima descontraído proposta pela película. A misancene da comédia romântica sempre foi um problema a ser contornado, já que o tom dos projetos são, na maioria das vezes, inconstantes. Em “Podres de Rico” há uma consciência sólida do desenvolvimento de tudo, a progressão é feita com precisão, ainda que lotada de lugares comuns e problemas clássicos, diálogos expositivos, piadas prontas e uma falta de autoria gritante.
As tentativas de comentários políticos não são necessariamente bem sucedidas, apenas uma busca de contextualização histórica, se esforçando para manter um tom ácido, no fim, não consegue sair da superfície e não gera nenhum debate, o dogmatismo Hollywoodiano vence mais uma vez. A questão que pode incomodar alguns é a inflexibilidade com relação à cultura norte-americana, mesmo que satirizada, pois, trata-se de um filme 100% asiático, em inglês. E mesmo essa representatividade não torna-se uma centralização temática do longa, apenas um esqueleto que será trabalhado para que tenhamos uma história. Essas fragilidades são notórias durante a projeção, o que faz perder o interesse pela pseudo-militância que havia sido noticiada, porém, a concepção da obra como uma comédia-romântica funcional e um entretenimento minimamente interessante consegue fisgar o público através de um roteiro simples e clichê, mas que demonstra eficiência em divertir com o clima romântico.
Um dos lugares comuns deste tipo de trama, algum familiar que pega no pé da(o) noiva(o), está mais uma vez presente. Eleanor Sung-Young (Michelle Yeoh), é a “vilã” da vez. Todo seu problema com a nora está envolvido em ordem de classe social, a personalidade mesquinha não permite compreender as diferenças da vida que possui com o mundo ao seu redor, já que a redoma a sua volta impede que ela olhe para algo além de seu próprio umbigo.
As questões dos conflitos de classe são pontos diluídas na narrativa, não como presença de tela, já que a história inteira é baseada nisto, mas sim nas porta abertas, que não são desenvolvidas por falta de interesses mercadológicas, afinal, atingir diretamente a cultura norte-americana, principal consumidora deste tipo de produto, pode reduzir os lucros da produtora. Não quer dizer que não há alfinetadas deste tipo, uma delas está presente até mesmo no trailer, envolvendo uma questão de etnia x atitude. Essa discussão sobre o que te faz um ser político pelo simples fato de existir, relacionado a sua atitude, é majoritariamente um dos pontos de maior discussão étnica do século XXI, já que vivemos momentos onde a ausência de posicionamento político é abraçar um dos dois lados (em um mundo bipolarizado) e como já conhecemos qual lado vai morrer, o humanismo deve vencer.
No frigir dos ovos “Podres de Ricos” não passa de um produto Hollywoodiano que passa demais a mão na cabeça do mundo ocidental, mesmo com suas diversas críticas, mas o mesmo problema aconteceu em “Pantera Negra”. Devemos comemorar a iniciativa, porém, saber que não é o suficiente para o cinema. Precisamos de mais.