Rebimboca da Parafuseta do Hassum
Por Vitor Velloso
Enquanto o Brasil atravessa momentos turbulentos no mercado cinematográfico e em sua ideologia política bipolarizada, que o afeta, é claro, paramos nossas militâncias, para focarmos na beleza deste remake tenebroso: “Não se Aceitam Devoluções”.
A refilmagem brasileira usa de modelo o igualmente horroroso “No se Aceptan Devoluciones” de 2013, dirigido por Eugenio Derbez, que por ter todos os clichês possíveis para um filme blockbuster de família, ganhou mais de uma versão ao redor do mundo. Louvando sempre que pode os Estados Unidos, a obra reproduz fielmente o colonialismo e os preconceitos do original. Leandro Hassum faz aquilo que se espera dele, nada.
A trama conta a história de Juca (Leandro Hassum), um homem mulherengo, que recebe certo dia um visita de um caso antigo, que deixa para ele uma filha e parte para os EUA. Em seguida, ele vai atrás dela e por causa de uma situação ridícula com efeitos especiais vergonhosos, é convidado para trabalhar de dublê em Hollywood. Gostaria muito que ele não tivesse voltado.
É triste ver como o cinema nacional se rendeu a estas chanchadas atrozes. O público não quer mais pensar, ele se agarra a ganchos baratos para usar o cinema como entretenimento. O que a priori não é um crime, o problema é quando a única coisa que consegue se pagar neste país é produção da Globo com atores globais e esses troços assustadores. Chegamos ao ponto de ter cota para filmes nacionais, o que deveria ser o contrário, é óbvio. Sendo que como ninguém tem dinheiro para distribuir suas obras, ou os exibidores não tem o menor interesse nos mesmos, o que vai às telonas? Bom, você já sabe.
“Então, Morri” da Bia Lessa, é um dos retratos mais humanos que o cinema já viu. É uma obra-prima. É uma produção independente, marginal, que foi exibida em festivais e foi ignorada pelo mercado. Busca introduzir uma noção horizontal da vida do ser humano em situações de subdesenvolvimento, não cultural, mas de dignidade enquanto ser vivo. Mas que através de suas relações, e infelizmente de sua ignorância, sobrevive com o sorriso no rosto. Uma produção que deve ter custado o relógio do Hassum, que não terá chance de ser exibido na tela do povo brasileiro, pois, cultura do pão e circo ganhou um novo nome no currículo, Hassum sempre esteve, a bola da vez, é André Moraes.
Voltando a gangrena fílmica. Se o filme tenta fazer graça eu não sei, apenas entendi que temos um show de horrores na tela. A montagem não sabe que história tá contando, o sósia do Ozzy tá perdido na gravação e apareceu de gaiato e o diretor viu Avenida Brasil e achou que sabia fazer cinema. Um breve recado, cinema não é publicidade.
O filme vai à UTI ao tentar dar tons brasileiros na narrativa. É um estado grave, sem volta. Eu não sei o que significa ser brasileiro para o roteiro, mas meu conceito é um tanto quanto diferente. Uma comédia digna de choro, um drama que provoca ânsias e atuações que não valem a folha de pagamento, condenam a obra, à morte. Se não fosse o suficiente, seu término trás uma amarga lembrança: Que suas horas não terão retorno. Não trata-se de um filme chato, tolo e infantilóide, mas sim de uma ofensa ao espectador que investirá não só seu dinheiro e tempo, como também seus olhos para presenciar esse massacre intelectual. É uma proposta agressiva de se fazer cinema.
Manuela Kfouri, que interpreta a filha do protagonista, possui uma atuação muito frágil, afinal, sua personagem é tão unidimensional quanto a leitura cultural que se propõe entre as gerações e as nações que seu roteiro transita.
Vá ao cinema assistir Lavoura Arcaica e Terra em Transe! Se eles não estiverem em cartaz em sua cidade, pena. Mas dá pra correr e assistir Arábia.
Lembre-se de Jairo Ferreira: “Já perdi meu dinheiro, não vou perder meu tempo”
O remake brasileiro é clichê, fútil e televisivo. E ainda assim, o filme fará algum dinheiro. Pois independente do que se faça, Hassum vende. Este tipo de obra, que já entra em saturação no mercado, não deixará de fazer dinheiro tão cedo. O público acredita que o mercado cinematográfico nacional, em geral, é ruim.