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Jia Zhangke, Um Homem de Fenyang

Um retrato preciso do cineasta do cotidiano

Por Fabricio Duque

Jia Zhangke, Um Homem de Fenyang

No documentário “Jia Zhangke, Um Homem de Fenyang”, sobre o cineasta chinês do “cotidiano”, que aborda sua “cidade em quadro”, título este que já representou uma mostra de cinema no Brasil, o diretor brasileiro Walter Salles imprime aqui sua característica mais marcante: a de humanizar histórias pelo viés da própria emoção, vide suas ficções “Central do Brasil” e “Terra Estrangeira”. Quando “caminha” pela realidade-encenada-editada, seus personagens “andam” por suas próprias pernas, sem a intervenção da “figura” que está por trás das câmeras.

“Sem a câmera, eu ficaria sozinho com as minhas sensações”, “Um oceano humano”, confessa, em modo terapêutico, o protagonista homenageado – “um ator desastroso”, “que morava em uma casa que era uma ex-prisão”, que busca o dialeto para “conservar” sua cultura, “um moleque Lailai”, que é apaixonado por filmes indianos e por bastidores, que se utiliza de sua espontaneidade e sensibilidade natas, que usa sua câmera como um curioso observador, que aborda personagens “não detentores de poder”, que filma o cenário real não glamouroso e não seu inverso: a reconstrução da ilusão nostálgica, que não tem problemas em estender “imperfeições à tenacidade”, que mescla tradições com o hoje.

Em “Jia Zhangke, Um Homem de Fenyang”, a narrativa, de descoberta junto ao espectador, conjuga entrevistas, bate-papos com um “que” de naturalista (que logicamente não pode ser devido à presença da câmera próxima), trechos de filmes, lugares como World Park em Pequim, abertura com artigos e críticas de jornal, e tentando uma tradução por revisitações a uma China contemporânea, lugares que ficaram “vinte e nove anos” sem visitar. Em “Plataforma”, por exemplo, Jia usou o tom pessoal, como um diário ficcional filmado ao pai, para contar dez anos (1979-89) a transformação da juventude chinesa e do “perigo” da música pop, que era “o som da decadência por causa de suas melodias leves e suaves”. O chinês “colocou” em seus filmes as memórias da infância, registrando tudo para que não se apagasse, visto que seu país busca a “globalização da americanização” em se “livrar do passado para dar lugar ao novo”.

Assim, Jia, com quarenta e três anos – mas com rosto de menino, filma planos longos “ociosos” e abertos (que o possibilitam mitigar o sentimento de “cerceamento”). “Só hoje eu digo que sou do meu país porque um dia o deixei”, diz. E finaliza, “É só na solidão que pode se alimentar a inspiração”. Walter Salles é cirúrgico em “Jia Zhangke, Um Homem de Fenyang” ao “encontrar” o tom certeiro com o qual descreveu por memórias relembradas seu “objeto” personificado do novo cinema atual mundial. Recomendado. Este ano, Jia recebeu no Festival de Cannes 2015, o prêmio Carrossel de Ouro, uma homenagem por seu trabalho, que foi esmiuçado e definido por “entendedores” em um texto “preciso”. Mais que merecido.

5 Nota do Crítico 5 1

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