Mostra Um Curta Por Dia Marco mes 9

Hamlet

A metalinguagem teatral de Burlan

Por Fabricio Duque

Hamlet

Uma das características já marcantes no diretor Cristiano Burlan (de “Amador”, “Mataram Meu Irmão”) é a metalinguagem teatral. Em seu mais recente filme, “Hamlet”, mais uma vez em fotografia preto-e-branco, sobre a versão “filosófica” e adjetivada escrita por William Shakespeare, corrobora-se a desconstrução da narrativa clássica ao inserir elementos de estética videoarte com inferências cinematográficas do cinema-teatro de Peter Greenaway, experimentando ficções, dramaticidades, jogos de cena (a Eduardo Coutinho), ângulos fotográficos, improvisações e bastidores com a forma do documentário e trazendo o erudito ao contemporâneo (interações com passantes em uma praça pública e em um trem de uma metrópole – com estrutura coloquial e de amadorismo convidativo e epifânico; com câmeras de segurança; e com explicações sobre técnicas e rumos da história adaptada a própria câmera – tela). “Hamlet não é bossa nova, é rock´n´roll, é música eletrônica, é cocaína”, diz-se, intercalando esses estilos musicais com planos longos sequenciais (estendidos) de contemplação por uma câmera estática, mas com ação (movimento ao redor).

Hamlet” nos conduz por um teatro filmado, em encenações monólogos ora exacerbando o limite da raiva, ora analisando o “trabalho” dos atores, que “mesmo na paixão, exprime-se a sobriedade, mas nada de moderação exagerada”. Textos “referenciais” são conjugados com os “reais” (do roteiro propriamente dito). Mais uma vez, Burlan “escala” Jean-Claude Bernardet (o pensador que mais e mais se torna um ator) e seu alter-ego Henrique Zanoni.  Não podemos negar que Burlan é corajoso, ambicioso, autêntico, autoral e conceitual, porque mesmo buscando a “simplicidade natural”, não permite ao espectador uma zona de conforto palatável, sendo “cruel para ser justo” e se utilizando da utopia discursiva.

Quebra-se o equilíbrio quando narrativas são fragmentadas por colagens exemplificadas da própria trama “tragédia” de “desconstrução do si mesmo”, “enfrentamento das próprias contradições”, e de “mergulho na eterna questão sobre o sentido da existência”. “Hamlet” é um filme de momentos, de textos, de palavras, de metáforas físicas, reflexivas e silenciosas, e de unicidade estética até quando se perde no próprio conceito objetivado.

3 Nota do Crítico 5 1

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