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A Frente Fria Que a Chuva Traz

O exagero artificial de uma batida beatnik

Por Fabricio Duque

A Frente Fria Que a Chuva Traz

Talvez a grande coragem de “A Frente Fria Que a Chuva Traz” seja continuar “apertando a tecla” de uma época utópica-datada de discursos-monólogos desesperançosos-catárticos-libertários à estrutura de Rogério Sganzerla (de buscar a ruptura da lógica dramática). Seu conceituado e autoral diretor, Neville D’Almeida (de “A Dama do Lotação”, “Os Sete Gatinhos”, “Matou a Família e Foi ao Cinema”, “Rio Babilônia”, “Navalha da Carne” – tanto estimado que ganhará um documentário sobre sua vida por Mario Abbade), “retornou” a estética após dezenove anos sem filmar (por inadequação à realidade do mercado cinematográfico).

Seu mais recente longa-metragem corrobora seu estilo escrachado (de realizar a “necropsia” do falso moralismo e da hipocrisia do politicamente-oportunista correto social) sem tabus e sem pudores; e “abraça” o universo livre, maldito, imediatista, marginal, desbocado e escatológico do honorário da geração “beatnik”, Charles Bukowski. Aqui, há drogas, sexo, prostituição por “moda”, linguagem depreciativa-preconceituosa; uma abertura-apresentação moderna de “Mashup” (mistura de música eletrônica com uma batida de funk “proibidão”); uma crítica da antagonista “interesseira”-realista aos playboys riquinhos que brincam de pobres” com festas na laje e “artistas” de sertanejo universitário que “falam deles mesmos na terceira pessoa”; e um elenco global “desconstruído” do padrão “Malhação” de ser (quebrando a atmosfera Galã “Disney” de se comportar).

Contudo, talvez, a responsabilidade destes atores tenha sido excessivamente alta, e seus vícios televisivos de “gravar rapidamente cenas” tenham atrapalhado o resultado, soando anti-naturalista, forçado, teatralizado, artificial, com gírias ultrapassadas (“chamar na chincha”) na tentativa espontânea de jovens vazios, futeis, que aumentam o próprio vitimismo de “pobre menina (o) rico (a)”, que convivem com a nova “sensível ao extremo” liberdade sexual (“Viado é bom para fazer compras e cheirar uma carreirinha”, diz uma garota que faz “boquete por drogas”).

“A Frente Fria Que o Vento traz” tem aura caseira com cara de cinema (ou melhor, mais para um seriado HBO – “Preamar”, por exemplo). É performático, encena a cena (sem nenhuma química entre eles), tenta-se uma naturalidade que não convence, e reverbera exponentes fragilidades (totalmente fora do tom) de vidas economicamente superiores (mas que “andam” na perdição errante do querer – uma novidade – e não por necessidade). O longa-metragem transcende a ingenuidade e encontra a pretensão, porque acredita realmente que está transgredindo a atualidade de “brincar de povão” e “retornando” a nostalgia do passado dos anos sessenta-setenta.

“A Frente Fria Que a Chuva Traz” atinge o nível da caricatura clichê (como a tatoo de uma seta nas costas apontando para a bunda). E além de tudo é um filme contra a a classe social menos favorecida que mora na comunidade-favela (como na cena do roubo e do iminente estupro). É um ensaio “design de alma” sobre o comportamento existencial da sociedade atual e seus “papos surreais”. Uma metáfora-picardia à moda de “Game of Thrones” sobre o inverno “apocalíptico” que está chegando, uma explícita alusão à política pró-PT-Dilma.

Concluindo, “A Frente Fria Que a Chuva Traz” é um filme exagerado, que não se sustenta tampouco pelo argumento da crítica “beat”, tudo por causa, única e exclusivamente, de seus atores que não conseguiram deixar de ser para vivenciar plenamente seus papéis, mesmo com a preparação de elenco da Bruna, a antagonista que confronta o mundo “Matrix” com sua agressiva intolerância ao indivíduo médio.

1 Nota do Crítico 5 1

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