A pior animação do ano?
Por Vitor Velloso
Ao se iniciar a projeção de “Fantástica”, a primeira coisa que passará na cabeça da audiência é a qualidade da animação em si. Cada forma, textura e pequenos detalhes são horrendos. Perdão o uso da palavra, mas não há melhor. Todos os pontos da imagem do longa dói os olhos do público, tudo é tão pixelado e mal acabado que nos resta tentar embarcar na aventura ignorando um elemento óbvio e primário num projeto como este.
O enredo é a base mais clichê para uma aventura, temos os herói: 2 ursos, 1 robô e um anti herói como a figura humana dos protagonistas, que depois ganha uma integrante. Eles devem proteger o reino de “Fantástica”. Apenas. Qualquer detalhe que eu possa dar além disso não vai mudar nada. A quantidade de desagrados provocados pelo filme, me geram sensações confusas. A dublagem é completamente descaracterizada, as vozes não combinam com os personagens, mesmo em uma animação. Os sons, são ultra artificiais, secos, mal mixados e quando notamos sua presença. Busca o tempo inteiro criar uma estética mais próxima dos animes, na composição dos movimentos, na caracterização dos personagens, modo de agir e o bombardeio constante de presenças fofas na tela. Ainda que haja uma busca de estilização do projeto, tudo que se conquista é falta de identidade o tempo inteiro. Isso porque grande parte da cultura japonesa proveniente dos animes vieram de uma tradição que já sofre com o imperialismo cultural norte-americano.
A música segue essa mesma ideia, nada é essencialmente japonês, não à toa, as músicas são em inglês e sempre colocadas nos momentos mais bregas e desnecessário, apenas como uma transição entre as cenas, tentando aquela aproximação com o público através de pequenos gatilhos de emoção que tentam acompanhar a melodia e/ou a letra. Quando tudo parece fora de lugar, há o que piorar. Um dos ursos tem algum retardo mental gravíssimo, poucas vezes antes visto na história do cinema, e esta óbvia deficiência, não possui essencialmente algum caráter narrativo que justifique a sua presença. Apenas, tenta gerar humor através de suas atitudes completamente imbecis, mas não fez nenhuma criança da sessão rir, o que retrata, nitidamente, que nem o público-alvo aprovou efetivamente. Ao falar do espectador, é importante dizer, que é abusadamente infantil, existe um setor das animações em geral, capaz, de subestimar a inteligência das crianças, “Fantástica” é um desses casos.
Ao revelarem o vilão da trama, busca-se uma tentativa mínima de se humanizar as questões em mente, sem compreender o verdadeiro motivo daquilo, preguiça. Pois, todas as construções de personagem que vemos em aventuras fajutas, passam pela mesma subtrama, uma infância conturbada, forte ligação a um objeto/ou animal específico etc. São as mesmas artimanhas sendo repetidas incansavelmente. A empolgação possível com o projeto, equivale a vontade de dizer do homem que lê o título do filme em português “Fantástica”, no tom mais desanimado e decadente que se pode imaginar. E além de todas as problemáticas já apontadas, há uma tentativa de debater uma moral concreta na história, uma brevíssima reflexão sobre a humanidade, tentando relatar alguma lição de moral, que também não é novidade. “Homem de terno mau, Ambição é perigosa, o capitalismo acha que pode comprar tudo…” blá blá blá. O arquétipo mais empobrecido para este debate é mantido aqui como trunfo, deprimente.
“Me leve até lá…”
“Ta bom vamos lá”
É um exemplo de diálogo onde vemos como o texto é expositivo e pobre, além da dublagem que poderia ter realizado um trabalho primordialmente mais independente e modificando alguns problemas de texto e traduzindo para um sistema que funcione melhor. “Fantástica” não é uma bomba, é pior, representa o fruto da ignorância dos produtores e da falta de esmero pelo próprio trabalho. Como não há desenvolvimento de personagem, e tudo é feito à base de mini dispositivos que buscam conectar o público ao carisma que aparentemente está presente na aura do filme, não falarei sobre nenhum deles individualmente, nem mesmo seus nomes, já que a importância deles se resume em pequenos gatilhos que irão promover o culto à cultura densa do “cuteporn”(termo inventado neste exato momento, eu acho), onde há uma adoração pela fofura e qualquer coisa que possa provocar sentimentos de afeto, mas uma reação do público quase sexual a tudo aquilo, uma forma de se corresponder aos estímulos que muito me assusta e provoca pânico, não por acaso, temo aquilo que a cultura e o cinema japonês estão se tornando.