Olhinhos azuis e famigerados draminhas
Por Vitor Velloso
O horror contemporâneo vive um revival muito importante. Diversos título conseguiram construir o clima de suspense a partir de um elemento que não se compreende: “A Bruxa” e “Hereditário” são dois exemplos desse. Apenas pensando nesta ideia vê-se que grande parte das obras do gênero surgem deste pensamento, por um fator simples, a violência em si, apenas choca, quando não compreendemos sua origem, que é o problema. Não à toa “Slashers” são filmes conhecidos por não produzirem medo no público, pois, vemos constantemente o assassino e seus atos, salvo raras exceções como “Homem nas Trevas” que temos uma enunciação da brutalidade, mas a mesma é parcialmente vedada aos nossos olhos. Ao analisarmos “A bruxa de blair”, “Exorcista”, “O iluminado”, “Os olhos sem rosto” ou “As Diabólicas” (entre outros clássicos de horror), compreende-se que a chave da construção dramática não está de fato no elemento do medo, mas nos gatilhos psicológicos que os mesmos possuem no espectador, além claro, de um desenho imagético que construa uma ligação direta com suas personagens, muito antes da preocupação com o terror de forma concreta. “Maniac” por exemplo foi um tipo relativamente subversivo neste ponto, já que acompanhamos, em primeira pessoa, um assassino em série, o que nos força a fragmentar sua mente a partir dos acontecimentos a fim de decifrá-lo, porém, a violência é a arma que o filme possui para permitir que a intensidade da misancene devido ao corpo do personagem seja exposta de alguma maneira. Assim como “Atividade Paranormal” e “A visita”, tendo o primeiro um recurso estilístico de narrativa e o segundo subvertendo a ideia a um padrão ainda mais carnal, intenso e visceral.
Após essas construções modernas no âmbito da fantasia/terror no cinema, Diederik Van Rooijen, dirige “Cadáver”, que vem provar o simples: não importa o quanto as pessoas refletem sobre a forma e o estilo, sempre a mediocridade irá reinar. A história segue a protagonista Megan (Shay Mitchell), recém contratada para trabalhar em um necrotério. Tudo ocorre normalmente até que o corpo de Hannah Grace (Kirby Johnson) chega ao local possuído por algum demônio. Tão infantil quanto soa, a estrutura se mantém no mesmo tom dos clichês comerciais de Hollywood, há uma pequena problematização quanto a personalidade da protagonista, a fim de deixá-la mais vulnerável, alcoolismo e um trauma no passado, enquanto ela deve sobreviver a esta ameaça iminente, ui ui ui. Os olhos azuis da criatura geraram uma pequena risada das pessoas. Infelizmente, o recurso da força demoníaca capaz de levantar pessoas e arrastá-las pelo ar como bolinhas de papel, algo frequente na irregular franquia de “Invocação do Mal”. Gritos de histerismo infernal e a câmera tremendo, em aparente reação ao som, são outros recursos utilizados pelo diretor. Sua inabilidade em construir uma background narrativo ou mesmo uma misancene minimamente funcional se tornam ainda mais claras, quando chegamos ao ápice do longa e continuamos olhando à tela e ele acaba. É um caso a ser estudado, o anti-clímax deste projeto é algo único em 2018. De fato, me pegou de surpresa.
Outros elementos narrativos exaustivamente utilizados também testam a paciência da audiência, um romance disfuncional à la novela, um segurança que paga de engraçadinho, alguns personagens que só servem para morrer mesmo. Nada disso está em falta, apenas a inteligência de utilizar isto tudo. E a existência da antagonista é algo que rompe as possibilidades da obra. Ironicamente, “Babadook” e “A Maldição da Residência Hill” nos mostra que o conteúdo psicológico de seus personagens é a maior arma que o diretor do gênero possui. Com Kubrick foi assim. “O Iluminado” não é, de fato, um filme de terror, é um drama com elementos sobrenaturais. E a tentativa de impulsionar a duração à ação de maneira direta, mas se esforçando para criar um suspense mínimo, é responsável pela distorção do tempo de quem assiste, soando excessivamente lento. Outra possibilidade é a repetição intensa de acontecimentos na tela, uma alternativa que Rooijen acreditou ser viável para criar suspense a partir destas repetições, o que além de não funcionar, permite uma previsibilidade nada bem-vinda à obra. E no fim, “Cadáver” entra pra longínqua lista de porcarias em nome do consagrado gênero.