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Antes do Fim

A queda das certezas pela via da incerteza

Por Francisco Carbone

Durante a Mostra de Cinema de Tiradentes 2017

Antes do Fim

Não lembro de ter assistido ultimamente a uma experiência como essa, um projeto em desenvolvimento pedindo para ser testado, analisado, terminado, concluído. E uma conclusão que poderia ou não passar pelo olhar da crítica e do público. Nesse processo, creio que Cristiano Burlan criou uma armadilha pra si, dando voz a diferentes nichos em um debate, que quase em uníssono concordou que o filme “Antes do Fim”, que integra a vigésima edição da Mostra de Cinema de Tiradentes 2017, estava pronto, quando claramente na cabeça do diretor não estava, verbalizando isso inclusive. Os filmes de Burlan tem uma característica interessante que foi debatida ao final da sessão. O tanto da vontade de parecer um organismo vivo e pulsante enquanto peça de cinema, é o mesmo tanto que o realizador encontra armas para se alijar e estruturar por demais projetos que anseiam por liberdade; talvez fosse necessário um pouco menos de zelo com seus materiais. Pois bem, nesse projeto inacabado temos a impressão que finalmente Burlan alcança o lugar que seu talento aponta: se permita não ter amarras, parece gritar cada cena de “Antes do Fim”.

Jean sente-se preso na lógica de longevidade que a indústria farmacêutica lhe impõe e decide planejar um suicídio consciente. Ele convida Helena para que o suicídio seja a dois. Ela, por sua vez, hesita, sabe que viverá bem inclusive se precisar viver só, mas o ajuda em suas intenções. O silêncio entre eles não revela distância, mas intimidade. São anos de um afeto compartilhado. Juntos, eles prepararão todos os detalhes para o funeral. Ele dança a morte enquanto ela segue ensaiando a vida. Nesse processo, os dois se dão conta de que antes do fim, ainda há uma vida inteira. “Antes do Fim” parece de fato pronto, uma declaração de amor a vida através da liberdade que a decisão da morte nos joga. Num encontro muito feliz, Burlan passeia ao lado de Jean-Claude Bernadet e da melhor Helena Ignez possível, numa de suas maiores interpretações, sempre rebelde e altiva agora de encontro com uma serenidade e uma leveza incomum para alguém tão emblemático quanto o ser Helena Ignez. É como se observássemos o futuro da arte, o futuro da vida, o futuro do amor, o futuro do tempo e Burlan nos convidasse a contemplar o melhor em nós, e como podemos melhorar para o todo.

Num manancial de referências imagéticas e conceituais que vão de François Truffaut a Kazuo Ono, chega o momento onde Burlan precisa ouvir o grito de seus personagens pela falta de estruturação extrema que ele quer se impor. “Antes do Fim” está pronto e livre, e nada poderia ser mais positivo ao seu cinema agora que a injeção de vitalidade que o combo Bernadet + Ignez pode trazer, em cenas inesquecíveis que constroem a conexão exata que só existe entre aqueles que se despedem, dando a essa autor a chave para observações futuras principalmente pelo feedback de um elenco de peso: Helena Ignez, Jean-Claude Bernardet, André Gatti, Ana Carolina Marinho, Henrique Zanoni, Adriana Guerra, Rodrigo Sanches, Gustavo Canovas.

4 Nota do Crítico 5 1

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