“Criatura”, de María Silvia Esteve, chegou a competição da Pardi di domani: Concorso Corti d’autore com alguns nomes de peso na concorrência. Yann Gonzalez, Bertrand Mandico e Marco Bellochio (os dois últimos sem exibição online), figuravam na lista. O curta-metragem de co-produção Argentina/Suíça é um desses casos onde a forma está a serviço das divagações intelectuais e de certos irracionalismos disfarçados de proposições na linguagem.

Acaba sendo um projeto que exibe belas imagens, apostando que o espectador construa parte dos seus significados no conteúdo diletante que é projetado. O rigor da montagem dá essa estrutura “provocativa” que insiste no esgarçamento do tempo e na deformação da imagem. Diferentemente da estrutura através do sonho ou do caráter fantasioso da cultura latino-americana, “Criatura” está mais interessado no trajeto sombrio da personalidade, das sombras psicológicas etc. Nessa perspectiva do subjetivo e de uma dialética que vai se perdendo no objeto etéreo das representações, é curioso notar que os prêmios e menções da Pardi di domani buscaram um certo pluralismos nas produções, uma marca que fica evidente no próprio discurso de abertura que preza por essa multiplicidade.

Dores e romances que possuem seu potencial primário se permitem à liga estrutural. Quando a narrativa é atravessada pelo “off” o breve desenho dramático consegue criar algum interesse pela proposta, com essa descoberta que vai se deformando diante dos olhos do espectador, ao passo da dissolução material, porém é um compêndio que não se sustenta nem na própria obra, quanto mais no público, e o tempo não ajuda a confirmação. Assim, não existem grandes aspirações que procurem um sentido concreto, mas sim essa suspensão da razão para universos possíveis, compreensões mutáveis e possíveis racionalizações em torno da estética em sua idealização mais utópica. É a herança de uma notória política de produção que se aproxima dos louros europeus, a cacofonia dos trópicos.