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Colômbia Era Nossa

Veias abertas?

Por Vitor Velloso

Amazon Prime Video

Colômbia Era Nossa

Recentemente disponibilizado na Amazon Prime, “Colômbia era nossa” de Jenni Kivistö e Jussi Rastas é um documentário que tenta expor parte da realidade política do país, a partir de uma multiplicidade de visões. Contudo, só um lado possui diagnóstico. Não à toa, o filme assume um lado explícito na discussão, pois reconhece que uma visão totalizante da problemática da violência na América Latina deve estar atenta à demanda do povo e a solucionar a fome em primeiro lugar. 

Quando escutamos os fazendeiros explicarem que não são traficantes, mas devem ter o que plantar para sobreviver, culpar o governo pelas mazelas da população e estar em eterna oposição à democracia burguesa, é possível criar uma dicotomia da realidade em torno de dois personagens centrais no projeto. O aristocrata “progressista” que critica o capitalismo enquanto bebe um vinho servido pelo “empregado” e a neoliberal reacionária que acredita que “prosperidade” e “criatividade” caminham lado a lado com a possibilidade de todos serem milionários. Disputando o palco da hipocrisia e do mau-caratismo, ambos se encontram de um lado amplamente oposto ao soldado que limpa o fuzil com esmero na abertura do longa. 

Os personagens guerrilheiros da “Colômbia era nossa” compreendem que as vias para a derrubada de um Estado opressor, excludente e eugenista não é a democracia liberal. É necessário acreditar na Revolução Armada e enfrentar a violência com uma resistência de fuzil. A tão sonhada paz, sonho moribundo na América Latina, está sempre em sintonia com o natimorto espírito da “reconciliação”. Um verdadeiro diagnóstico coloca por terra esse espécime revisionista acrítico da realidade, para construir uma sociedade que enfrente a fome. O subdesenvolvimento sendo um estado, não mina as esperanças de sepultar o neoliberalismo na Pátria Grande, mas busca nas raízes materiais de nossa História uma maneira de enfrentar essas relações de poder e dependência a partir de uma política que entende que a fome não se sente no bolso, sim no estômago. 

Para isso, o documentário nos aproxima dos personagens, enquadrando uma realidade volátil, prestes a entrar em colapso. De um lado, a guerrilha que está sendo exterminada pelo eugenismo estatal. Do outro, os capitalistas em profunda decadência constante. O dilema latino está mais próximo da denúncia sistemática e do espírito revolucionário, do que do sonho no progresso e na prosperidade. A montagem tenta articular essa distinção em um peculiar jogo de representações, onde esses dois mundos são divididos pela nossa capacidade de querer realizar um diagnóstico. Para isso, a Câmara é constantemente entrecortada e os guerrilheiros possuem uma figura centralizadora, mas todos possuem voz e opinião. Monumentos surgem como objetos fálicos de uma estrutura de poder que perde força a cada nova tentativa de extermínio popular. A decadência moral é uma constante dos capitalistas. 

“Colômbia era nossa” acaba pecando na condução histórica da problemática, suspendendo parte do contexto. O efeito disso é um deslocamento virtuoso de seus personagens centrais, para um imediatismo fabuloso. Tudo é imediato na América Latina. A situação do Estado e das FARC é uma constante que não pode ser compreendida através de um recorte seccionado, mas sim de uma construção histórica que está além da exposição. Por essa razão, o espectador recebe um diagnóstico pouco contundente da totalidade do problema. Ainda que faça uma exposição importante e pouco comum no cinema comercial, o filme não cria grandes esforços para criar uma narrativa mais ampla que a objetiva foi capaz de capturar. Assim, ficamos aguardando as palavras dos entrevistados para que eles ditem parte da narrativa. Logo, a reacionária esbraveja seu ódio, cria uma falsa interpretação da realidade e o documentário não vai atrás de desmentir, apenas dá a palavra aos guerrilheiros, sem criar uma grande contraposição em suas falas. Parece estar querendo amenizar parte de suas escolhas ao enquadrar. Não acredito em covardia, mas sem dúvida não é um embate tão direto quanto poderia. 

Mas estando disponível na plataforma de Beezos, é curioso ver “Colômbia era nossa” circulando as redes sociais como uma “resistência” em meio ao streaming imperialista. 


O filme já está disponível nas plataformas Amazon Prime, Google Play, iTunes, Mowies e Vimeo.

3 Nota do Crítico 5 1

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