Cobertura da 16a Mostra de Cinema de Ouro Preto
CineOP 2021 e a Revisão dos Mitos de Formação
Por Vitor Velloso
O debate de “Revisão dos Mitos de Formação” com as convidadas: Ana Carolina – diretora de Amélia | RJ, Carla Camurati – diretora de Carlota Joaquina – Princesa do Brazil | RJ, Lúcia Murat – diretora de Brava Gente Brasileira | RJ, com a mediação de Marcelo Miranda – crítico de cinema | MG, foi um evento particular da 16ª CineOP (acesse o site da mostra aqui). O texto de apresentação da conversa era sintético e abria uma possibilidades de discussões para as obras que eram citadas.
“Geralmente os mitos de formação de um país positivam seus eventos fundadores, elegem seus pais fundadores e buscam criar um consenso coletivo entorno de episódios paradigmáticos. Filmes como Carlota Joaquina – Princesa do Brazil, Amélia e Brava Gente Brasileira desmontaram as teses mais conciliatórias sobre a formação do Brasil.”
A proposta de abrir direto para as falas das diretoras foi organizada a partir das datas de lançamentos de cada uma das obras. Assim, Carla Camurati (Carlota Joaquina – Princesa do Brazil, 1995) abriu o debate reforçando que o período era muito complicado e que a transição de atriz para diretora se deu a partir de uma vontade particular. A partir de uma pergunta que Marcelo Miranda fez, em torno da comédia e da paródia que a obra escancara, a diretora comentou o tom “satírico” e “fantasioso” que seu filme possui. Além disso, não era possível realizar um longa realista por conta de limitações explícitas no orçamento.
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Já Ana Carolina (Amélia, 2000), comentou como os mais de dez anos que separavam “Sonho de Valsa” (1987) até a produção do próximo filme foram duríssimos. Falou também sobre a dificuldade de ser brasileira tendo em perspectiva a falta de visibilidade diante dos europeus. Sua fala foi amparada por uma história particular, de quando foi à Paris e não era identificada pelos franceses como nada. “Achavam que eu era colombiana”. A cineasta construiu um discurso em torno do “sentimento latino”, “do subdesenvolvido” e trouxe a conversa para um campo distinto de Camurati.
Mais uma troca de norte, Lúcia Murat trouxe histórias particulares da produção de “Brava Gente Brasileira” (2000) e algumas situações curiosas que aconteceram durante as gravações, com direito a um ator que se recusou a montar em um cavalo que desconhecia. Porém, Murat reforçou sua posição histórica diante da ditadura militar brasileira e como essa identidade fazia parte de si.
O debate foi bastante informal e não havia um norte particular a ser discutido, apesar do título da conversa. Cleber Eduardo tentou puxar uma diretriz através dos comentários, falando sobre a incomunicabilidade que era um traço em comum das três obras. E sobre esse assunto, Ana Carolina buscou sintetizar a incomunicabilidade como: “cacoete humano definitivo”. Apesar de boa parte do chat concordar com a cineasta, acredito que essa visão é mais fatalista que a realidade. Procurar uma universalidade que ultrapasse as barreiras linguísticas parece um sonho pouco honesto. Além disso, é uma reatividade comum ao deslocamento do subdesenvolvido.
Devo fazer um comentário pessoal. A ideia de um Mito de Formação no caso brasileiro, me parece uma tentativa muito programática e dependente dos “Pais Fundadores” norte-americanos. O Brasil não possui mitos de formação e quando tentamos criá-lo, saiu Macunaíma.
A CineOP está chegando ao seu fim, mas a cobertura no Vertentes do cinema segue até o último dia da programação.