Capitães de Areia
Ficha Técnica
Direção: Cecília Amado
Roteiro: Cecília Amado e Hilton Lacerda
Elenco: Jean Luis Amorim, Ana Graciela Conceição, Robério Lima, Marinho Gonçalves, Ana Cecília Costa
Fotografia: Guy Gonçalves
Trilha sonora: Carlinhos Brown
Direção de arte: Adrian Cooper
Figurino: Marjorie Gueller
Edição: Eduardo Hartung
Produtor: Bernardo Stroppiana e Cecília Amado
Produtora: Lagoa Cultural e Esportiva Ltda.
Duração: 96 minutos
País: Brasil
Ano: 2011
COTAÇÃO: BOM
A opinião
“Capitães de Areia” baseia-se na obra literária homônima de maior sucesso de Jorge Amado. Vendido mais de cinco milhões de exemplares em todo o mundo. O longa-metragem é realizado por sua neta, Cecília Amado, estreante na direção, que também é a responsável pela adaptação às telas. O filme faz parte da comemoração do centenário (em 2012) do escritor baiano, falecido em 2001. A diretora escalou não atores (escolhidos a partir de pesquisas em comunidades carentes de Salvador, realizadas através de ONGs locais, tendo início em 2007 e mobilizando 22 ONGs) a fim de fornecer uma maior imersão aos costumes e comportamentos do que objetiva apresentar. O elenco, um dos pontos altos do filme, passou dois meses de preparação sob o comando de Christian Duurvoort, profissional mais do que acertado. Este tempo foi necessário para que pudesse imprimir naturalidade (propositalmente encenada – transpassando suavização e distanciamento) e economicidade interpretativa, conservando o humor com sotaque. A narrativa retrata o lugar, em estilo videoclipe, com agilidade visual, antes de apresentar a história. Pedro Bala (Jean Luís Amorim), Professor (Robério Lima), Gato (Paulo Abade), Sem Pernas (Israel Gouvêa) e Boa Vida (Jordan Mateus) são adolescentes abandonados por suas famílias, que crescem nas ruas de Salvador e vivem em comunidade no Trapiche junto com outros jovens de idade semelhante.
Eles praticam uma série de pequenos delitos, que ocasiona constantes perseguições pela polícia. Um dia Professor conhece Dora (Ana Graciela) e seu irmão Zé Fuinha (Felipe Duarte), que também vivem nas ruas. Ele os leva até o Trapiche, o que desencadeia a excitação dos demais garotos, que não estão acostumados à presença de uma mulher no local. Pedro consegue acalmar a situação e permite que Dora e o irmão fiquem por algum tempo. Só que, aos poucos, nasce o afeto entre o líder dos Capitães da Areia – que chamam uns aos outros por apelidos, referentes às características intrínsecas (físicas e ou comportamentais) de cada um – e a jovem que acabou de integrar o bando. Busca-se o realismo pela poesia crua. Captar a atmosfera dos meninos chamados Capitães de Areia. O filme possui fidelidade ao livro, por isso Cecília consegue transpor atemporalidade e nostalgia, principalmente pela exuberante fotografia, que mescla saturação ao brilho, reflexos, sombras e envelhecimento atual. A câmera complementa este universo com leveza ingênua – porém sóbria – e simplicidade. Com trilha sonora de Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes. Mas nem tudo é perfeito. Um dos deslizes é o excesso do recurso utilizado de câmera lenta atrapalha o ritmo e o equilíbrio linear. É como se experimentasse técnicas cinematográficas, inserindo todas sem cortes. Certo momento, adiciona-se edição à la “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles. O que não ajuda também é a interpretação do cantor Zéu Brito. Ele segue pelo caminho da caricatura, extremamente afetada e apelativa. A trama perde-se também por causa das “respiradas”. Há instantes que saem do filme, como o “musical”, por exemplo. O espectador acalma, respira e retorna à história, porém neste meio termo, olha que horas são no relógio.
“Já esperei muito, agora é a tua vez de esperar”, diz-se. “É proibido sonhar”, resigna-se. “Ele desenha até os sentimentos dos outros”, poetiza-se com incrível simplicidade. Eles são sobreviventes aos próprios meios, solidários, existenciais, sentimentais, sem o clichê da retratação, defensivos, com medos, anseios, convivendo com a “bexiga” (AIDS), sem perspectiva do futuro, porém com sonhos, que os impulsionam aos próximos acontecimentos. Não desistem, mesmo não tendo nada. É mostrada outra Bahia, fugindo da imagem padronizada, mais introspectiva, mais regionalizada, mergulhando o espectador de forma totalitária na essência. “Faço música e intriga”, diz-se, com efeito. Ou “Não reze mais, não tá dando certo”. “Ela me chama de Pedro, fico parecendo gente”, emociona a quem assiste do outro lado da tela. Quase ao final, há recorrência de flashbacks mentais e o desejo de se tornar aventura, unicamente. Destaque às suposições de futuro narradas pelo personagem Professor – que conta histórias por saber ler. “Malandro bom sempre acha que o outro é melhor”, finaliza-se. Concluindo, possui excelentes interpretações, incrível fotografia, mas que insere elementos demais, desnorteando o espectador. Um bom filme.
A Diretora
Nasceu em 1976, no Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira cinematográfica em 1995 e fez escola nos sets de grandes produções como “O que é isso Companheiro?” e “Guerra de Canudos”. Na última década, trabalhou no cinema e na televisão como assistente de direção em “Onde anda você” (2004), “Cidade dos homens” (2004 e 2005) e “Batismo de Sangue” (2006) entre outros. Esta é sua estreia na direção de filmes de longa-metragem.

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