Nem todos os caminhos levam à Roma
Por Filippo Pitanga
Durante o Festival Cine Ceará 2019 (*com versão em espanhol)
Contando um relato baseado em fatos reais sobre a investigação de sequestros de crianças nos andes peruanos de 1988, “Canção sem nome” de Melina León foi o primeiro longa exibido na competição íbero-americana do 29º Cine Ceará e ainda permanece como um dos favoritos, agora que ultrapassamos a metade do Festival. E podemos dizer isto por inúmeros fatores. A começar por sua esplêndida fotografia Preto-e-Branco na lente de Inti Briones, ao recriar tanto de forma literal quanto metaforicamente um clima de época naquele período opressor a partir de fatos históricos revisitados. Além de jamais deixar de criar tensão em meio a todo o lirismo da linguagem estética, mesmo que o clima sóbrio e seco pudessem falar mais à alma humana do que necessariamente à linguagem de gênero.
O hercúleo trabalho de pesquisa do filme consubstancia o assunto sobre os bebês sequestrados em falsas clínicas de maternidade num período bastante conturbado da história do Peru, especialmente afetando as populações mais humildes e as de descendência indígena. Além disso, é interessante saber que o disparador da pesquisa foi o fato de o próprio pai da cineasta Melina León ter sido um jornalista investigativo, a inspirar o papel do protagonista interpretado por Tommy Párraga.
As matérias sobre o caso real possibilitaram que, agora no tempo recente, uma das crianças roubadas, ora adulta, encontrasse sua mãe biológica anos depois, graças a estas reportagens do pai da cineasta. – É curioso também denotar que Melina atualizou o assunto para o tempo presente, acrescentando a temática LGBTQIA+ ao personagem do jornalista, à parte da inspiração original de seu pai, para que o personagem pudesse entender e se identificar com o que era ser perseguido por sua própria identidade.
Para além deste personagem, a história também é guiada por outra importante protagonista, encarnada na pele da soberba interpretação da atriz Pamela Mendonza, que engordou dezessete quilos para realizar o papel de uma gestante que impulsiona a trama ao dar a luz e ter sua criança roubada pela clínica, num ato que era muito comum principalmente nas populações menos favorecidas, periféricas e indígenas do Peru. Além da performance física, é nítido também o trabalho de resgate e reapreciação de sua própria ancestralidade de descendência indígena, a qual historicamente o Peru durante muito tempo tentou invisibilizar e sufocar (assim como vários países da América Latina, vide o Brasil com a recente crise do incêndio na Amazônia), Vide também filmografias mais raras de chegar às nossas telas como o exemplar da Guatemala, “Ixcanul”, de Jayro Bustamante, que tangencia esta mesma revalorização ao pé de um vulcão e traz de forma similar outro problema de maternidade numa trama ao sopé de um vulcão, demonstrando que linhagem, oralidade e sucessão cultural são questões identitárias imprescindíveis em erupção latina.
E isto está presente nas roupas, na musicalidade (ela voltou a se conectar com as músicas da mãe e avó, revelou em entrevistas), bem como com os cerimoniais e rituais. Além disso, há uma relação muito íntima de Pamela com o trabalho de câmera, que alterna entre os planos abertos quando retrata grandes ritos culturais, mas que alterna para uma aproximação bastante intimidante e que tanto a diretora Melina León e o fotógrafo Inti Briones souberam aplicar sua direção, dando liberdade para a atriz se desenvolver, antes de se aproximar em closes.
A colaboração entre a cineasta, o fotógrafo Inti Briones e o corroteirista Michael J. White é bastante nítida, até se refletindo no fato de que os três viraram coprodutores do filme para que a produção fosse possível. Talvez por isso que a linguagem esteja tão em sintonia, como com influências que passearam por exemplos como o cineasta Béla Tarr e Ágnes Hranitzky e o mais recente clássico da dupla “Cavalo de Turim”. Esta influência gera fotografias deslumbrantes, como enquadramentos em planos abertos e panorâmicos quando mostram a força da sociedade sobre seus indivíduos, e planos extremamente fechados e próximos quando falam de liberdades individuais (vide o primeiro encontro íntimo do jornalista com o interesse romântico dele dentro de uma cozinha, que fica muito bem integrado à trama, agregando tensão ao clima de perseguição e ameaças de morte que ambos vão sofrer nos planos mais abertos).
Por fim, vale ressaltar que o próprio P&B e a janela de projeção 4×3 ampliam o grau de sufocamento do período, bem como, segunda a diretora, remetem ao fato de que a própria televisão em 1988 era 4×3, acendendo memórias afetivas na população que assistir sua própria história na telona. Isto porque essa história permanece viva, e até mesmo a ressignificação e revalorização da ancestralidade, língua e cultura indígena só anda sendo resgatada mais recentemente por movimentos de vanguarda no Peru atual.
Claro que o fato de “Canção Sem Nome” ser em P&B e se comunicar com a ancestralidade indígena, além de também girar em torno de uma gestação complicada, podem aludir para muitos espectadores ao recente sucesso “Roma” de Alfonso Cuarón nos cinemas, mas, sinceramente, quem puder ter a oportunidade de assistir aos dois filmes verá que são obras completamente diferentes. Uma fala criticamente no micro sobre subalternidade colonizadora (“Roma”), e a outra fala no macro sobre uma luta contra a invisibilidade na história através de uma personagem que jamais se permite subalternizar.
A verdade é que “Roma” pode ter aberto muitas portas para o interesse mundial em narrativas dos povos originais das terras latino americanas, mas necessitava desesperadamente, em igual grau ao de sua fama, de obras que ampliassem e debatessem com as lacunas que “Roma” opta por não focar. Palmas para “Canção Sem Nome”, que ficará guardado na prateleira do meu coração um passo à frente nesta jornada de revolução.
*Versão em Espanhol
Con un relato basado en hechos de la investigación del secuestro de niños en los Andes peruanos de 1988, “Canción sin nombre” de Melina León fue el primer largometraje que se proyectó en la 29a competencia iberoamericana de Cine Ceará y sigue siendo un favorito, ahora que estamos más de la mitad del festival. Y podemos decir esto por varios factores. Comenzando con su espléndida fotografía en blanco y negro en la lente de Inti Briones, recreando, literal y metafóricamente, una atmósfera de época en ese período opresivo a partir de hechos históricos revisitados. Además de nunca dejar de crear tensión en medio de todo el lirismo del lenguaje estético, incluso si el clima sobrio y seco podría hablar más al alma humana que necesariamente al lenguaje del género.
El trabajo de investigación hercúleo de la película corrobora el problema de los bebés secuestrados en clínicas de maternidad falsas en un momento muy problemático en la historia del Perú, que afecta especialmente a las poblaciones más humildes e indígenas. Además, es interesante saber que el detonante de la investigación fue el hecho de que el propio padre de la cineasta Melina León era un periodista de investigación, inspirando el papel del protagonista interpretado por Tommy Parraga. Las historias de casos reales hicieron posible que uno de los niños robados, ahora crecido, encontrara a su madre biológica años después, gracias a estos informes del padre del cineasta. – También es curioso notar que Melina actualizó el tema hasta la actualidad, agregando el tema LGBTQIA + al personaje del periodista, además de la inspiración original de su padre, para que el personaje pudiera entender e identificarse con lo que estaba persiguiendo. identidad propia.
Además de este personaje, la historia también está guiada por otro protagonista importante, encarnado en la piel de la excelente interpretación de la actriz Pamela Mendonza, quien ganó 17 libras para interpretar el papel de una mujer embarazada que maneja la trama dando a luz y robando a su hijo. por la clínica, en un acto que fue muy común principalmente en las poblaciones pobres, periféricas e indígenas del Perú. Además del rendimiento físico, también está claro el trabajo de rescatar y reconsiderar su propia ascendencia de ascendencia indígena, que históricamente el Perú siempre ha tratado de hacer invisible y sofocar (como muchos países latinoamericanos, ver Brasil con la reciente crisis Fuego amazónico). Y esto está presente en la ropa, en la musicalidad (se reconectó con las canciones de su madre y su abuela, reveló en entrevistas), así como con los ceremoniales y rituales. Además, existe una relación muy estrecha entre Pamela y el trabajo de cámara, que alterna entre planos abiertos al retratar grandes ritos culturales, pero alterna con un enfoque bastante intimidante y que tanto la directora Melina León como la fotógrafa Inti Briones han podido aplicar su dirección, dando a la actriz libertad para desarrollarse antes de acercarse en primeros planos.
La colaboración entre el cineasta, el fotógrafo Inti Briones y el coguionista Michael J. White es bastante clara, incluso reflexionando sobre el hecho de que los tres se convirtieron en coproductores de la película para hacer posible la producción. Quizás es por eso que el lenguaje está tan en sintonía, como con las influencias que han paseado con ejemplos como el cineasta Béla Tarr y Ágnes Hranitzky y el último clásico del dúo de Turín. Esta influencia genera fotografías deslumbrantes, como el encuadre en planos abiertos y panorámicos cuando muestran la fuerza de la sociedad sobre sus individuos, y planos extremadamente cercanos y cercanos cuando se habla de libertades individuales (vea el primer encuentro íntimo del periodista con su interés romántico dentro de un cocina, que está muy bien integrada con la trama, lo que agrega tensión al clima de persecución y amenazas de muerte que ambos sufrirán en los planes más abiertos).
Finalmente, es digno de mención que el B & W y la ventana de proyección 4×3 aumentan el grado de asfixia del período y, según el director, se refieren al hecho de que la televisión en 1988 era 4×3, lo que encendió recuerdos afectivos en la población que miraba tu propia historia en la gran pantalla. Esto se debe a que esta historia sigue viva, e incluso la resignificación y la revalorización de la ascendencia, el idioma y la cultura indígenas han sido rescatados recientemente por los movimientos de vanguardia en el Perú actual. Por supuesto, el hecho de que la película esté en blanco y negro y se comunique con la ascendencia indígena, además de girar en torno a una gestación complicada, puede aludir a muchos espectadores a la reciente superproducción “Roma” de Alfonso Cuarón, pero, sinceramente, Cualquiera que tenga la oportunidad de ver ambas películas verá que son obras completamente diferentes. Uno habla críticamente en el micro sobre la colonización de la subordinación (“Roma”), y el otro habla en la macro sobre una lucha contra la invisibilidad en la historia a través de un personaje que nunca se deja subordinar. La verdad es que “Roma” puede haber abierto muchas puertas al interés mundial en las narrativas de los pueblos originarios de tierras latinoamericanas, pero necesitaba desesperadamente, en el mismo grado que su fama, obras que ampliaran y debatieran las brechas que “Roma “Elige no concentrarse. Aplauda por “Canción sin nombre”, que se almacenará en el estante de mi corazón un paso más en este viaje de revolución.