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Brizola

Fama de caudilho

Por Vitor Velloso

Durante o Festival É Tudo Verdade 2024

Brizola

Símbolo invocado com pouca propriedade e honestidade em momentos de crise política, Brizola é uma figura contraditória em diversos eixos de debate político. Não por acaso, a interessante polarização entre políticos de esquerda no Brasil contemporâneo: os que invocam Brizola para conseguir algum tipo de engajamento imediato, quase como um discurso de práxis, urgência e combatividade, e os que parecem temer tocar em seu nome, pois o mesmo carrega uma enormidade de significados e opiniões. 

“Brizola”, de Marco Abujamra, é uma espécie de registro prático e resumido da trajetória de um dos nomes mais efervescentes da política nacional. O documentário não procura retratar contradições, polêmicas e desavenças, mas sim a criação de um retrato tão direto e cronológico que se apressa na conclusão, sem mirar uma abordagem que complexifique tanto seu protagonista, quanto o depoimento de pessoas próximas, biógrafos etc. Não por acaso, um dos maiores problemas do filme é a constante sensação de que as entrevistas são artifícios da montagem. Os montadores, Paulo Henrique Fontenelle, Marx Braga e Alexandre Gwaz, são hábeis em transitar entre os diferentes momentos da trajetória de Brizola, com uma quantidade extraordinária de material de arquivo, imagens raras e conexão entre entrevistas do Brizola, mas possuem alguma dificuldade em trabalhar com os depoimentos gerais, com a inserção de comentários expositivos ou de pouca contribuição para o longa. Nesse sentido, existe um caráter que acompanha a obra, uma espécie de postura dispersa, especialmente no fato de não haver um direcionamento que esclareça ao espectador a própria presença destes convidados, por mais introduzem elementos que são capazes de somar na personalidade do político. 

Por essa razão, “Brizola” soa como uma introdução, um projeto que assume um caráter tão didático, que recusa se debruçar nos pormenores de suas pautas. Um dos exemplos disso é a forma como o filme atravessa com tamanha velocidade sobre a campanha da legalidade, um dos fenômenos e atos políticos mais importantes do Brasil até os dias de hoje. Também há uma certa negligência com a família de Brizola, que não aparece no longa, mal é citada e que possui forte importância para sua carreira, como as acusações do político de que parte da sua família era utilizada como alvo para atacar sua pessoa. Desta forma, o documentário vai atravessando por momentos políticos do Brasil com o traço personalista de seu protagonista, quase que uma mitificação do personagem. Assim, debates contemporâneos, como uma determinada cobrança de rememorar suas investidas contra a ditadura, a exemplo das guerrilhas, cujo fracasso teve alto preço para os que foram assassinados, torturados e/ou presos pelos militares, são deixados de lado para que possamos seguir com sua trajetória. Um dos poucos momentos onde o Brasil contemporâneo aparece no filme de Marco Abujamra são nas falas que assumem que o “Rio de hoje é a derrota do Brizolismo” se referindo ao combate da violência no Estado e em uma certa ironia que a montagem provoca ao demonstrar como alguns simbolismos de Collor remetem à um certo político contemporâneo. 

Porém, deve ser mencionado que o trabalho de “Brizola” quanto à cobertura dos jornais impressos, matérias de ataque e as notícias transmitidas de forma tendenciosa, é realmente impressionante, pois consegue transmitir ao espectador que havia um projeto que visava deturpar o político perante o debate público, construindo assim uma imagem grotesca para a “opinião pública”. O Jornal Globo e a figura de Roberto Marinho, intimamente ligados ao interesse dos militares e de Washington, são personagens que são construídos a partir destas matérias, bastante ricas e frequentes ao longo do filme. Além disso, o depoimento que afirma que Roberto Marinho pede que Collor interrompa seu projeto de CIACs é a demonstração da falência moral deste país. Outro ponto de destaque é a contribuição do documentário para reforçar o que sabemos sobre a influência dos EUA na ditadura empresarial-militar brasileira, pois em tempos recentes o negacionismo quanto ao assunto tornou-se de forte caráter ideológico. 

“Brizola” é uma introdução que não procura mais que uma longa exposição de seu personagem e realmente se mantém na superfície de diversos temas que são projetados ao longo do filme. 

3 Nota do Crítico 5 1

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