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Bate Coração

Sub Plot Transplantado

Por Felipe Novoa

Bate Coração

Bate Coração” é uma propaganda a favor de transplantes de órgãos com um sub plot de pluralidade sexual travestido (you see what I did there?) de plot principal. Se Glauber Filho quer contar uma história sobre doação de órgãos que conte, não precisa adaptar três outras obras para conseguir armar uma história que no fim lembra um episódio dramático de algo que Paulo Gustavo meteu o dedo.

Antes de continuar devo dizer que a maior parte dos problemas em “Bate Coração” são técnicos. Se você sentar e quiser ver um filme relativamente simples como um certo drama essa é uma opção aceitável. A atuação é boa, não há muito o que dizer quanto a isso, os atores fizeram um bom trabalho mesmo com um roteiro que soa pouco natural. Você encontra pequenos buracos na história que causam certo desconforto pra quem está prestando atenção mas que o espectador médio não vai notar. Infelizmente as diversas inconsistências no roteiro são desconcertantes. Algumas informação são jogada na sua cara esperando que você faça algo com elas sem motivo parar isso, como a namorada de Davi, o filho abandonado de Isadora, declarar que com as habilidades dela em moda eles podem trazer de volta a boate onde Isadora e Cassandra se apresentavam. Ela cita isso como se ela já tivesse alguma outra fala além de ter se apresentado e me fez perder alguns minutos matutando sobre do que raios ela estava falando.

Quanto aos dramas, você se perde nos muito que o filme te apresenta. Tem a morte de Isadora, a dor da ex esposa, o filho que aparece do nada, a rivalidade com Cassandra (que teve a vida salva por Isadora numa das cenas de atropelamento mais tétricas que já vi e mesmo assim de nega a perdoar sua falta num espetáculo até que vê Davi de Isadora, ninguém guarda uma mágoa tão forte e perdoa por algo tão banal), a evolução pessoal de Sandro que é ínfima e merecia muito menos atenção durante o filme e seu romance com sua médica que é forçado demais.

Reclamar de montagens em um filme de orçamento relativamente baixo é quase desleal mas francamente o balão de coração lembra uma abertura de novela infantil do SBT que e te tira completamente qualquer preparo emocional que você teria perante um filme que aparentemente trata de um tema sério. As cenas de drone tentam te passar algum tipo de visão superior, do ponto de vista da travesti Isadora (Aramis Trindade) e seu guia espiritual Otto em momentos mais reflexivos; até que funcionaria se esse artifício não fosse usado de forma tediosa e previsível. Abusam de tecnologia tentando passar um conceito profundo que na realidade é raso.

E aqui eu começo a descrever a desordem nos personagens falando nesse Otto que é um bom exemplo das diversas tangentes que a história abre com muitos detalhes sem justificativa e que não adicionam muito a história: Otto é o guia do pós vida para a protagonista Isadora e ele também é um ex militante de esquerda presumivelmente morto na ditadura E o finado marido de uma de suas fiéis clientes no salão de beleza (isso é algo abusado pelo melodrama); esse mesmo salão Isadora toca com sua ex esposa (que felizmente tem uma das atuações mais honestas em seus momentos de dor e alegria apesar de uma direção confusa nos momentos mais intensos).

Depois você acha essa menininha sensitiva que vê o espírito de Isadora e acaba dando apoio emocional nessa “jornada de evolução pessoal” do Sandro (que está sendo lentamente possuído pela feminilidade de Isadora), o estranho é que em nenhum momento ela faz qualquer menção em pedir ajuda ou se mostra desconfortável com um homem adulto desconhecido aparecendo em seu quarto de hospital e lhe mostrando o peito nu, se nesse universo pedófilos não existem tudo bem, mas mostrar isso como normal é o insano.

Há também a história plausível entre o ajudante/melhor amigo Igor que tem o desenvolvimento emocional de um chinelo, ele parece viver exclusivamente através dos impulsos de um homem hétero solteiro genérico que é incapaz de não pensar em algo além de sexo através de todo o filme, ele não é ruim mas é tratado apenas como um acólito do protagonista, seja como seu wingman em momentos de caça ao sexo feminino ou quando executa o serviço de detetive para o mesmo.

Em diversos momentos de “Bate Coração” você nota o diretor apanhando dos patrocinadores para incluir propagandas que são mais do que apenas explícitas, são tapas grosseiros na cara do espectador. Isso gera algumas cenas muito familiares aos espectadores globais que sofrem desse male diariamente, ou a quem gosta dos últimos filmes de Adam Sandler e sua trupe. Você sabe qual o carro do protagonista (um VW) e sabe em qual hospital ele fica internado, tanto que as vezes o filme parece querer te vender um bom hospital para se fazer um transplante de coração e depois ter uma crise nervosa homofóbica. Os médicos não te deixam na mão mesmo quando você usa sem autorização um computador no hospital e acessa dados sigilosos de outros pacientes.

Finalizando você tem um plot estranhamente similar a “Do Que as Mulheres Gostam” com o Sandro ocupando o lugar do Mel Gibson, só que no lugar de um marqueteiro americano machista que passa por uma experiência traumática e muda sua visão de mundo acessando seu lado mais sensível você tem um marqueteiro brasileiro machista que passa por uma experiência traumática e muda sua visão de mundo acessando seu lado mais sensível.

 

2 Nota do Crítico 5 1

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