Balanço Geral do Festival Curta Campos do Jordão 2025
Festival completou sua 10ª edição se firmando como um dos principais eventos do Vale do Paraíba e homenageando Lucélia Santos
Por Clarissa Kuschnir
No calendário cultural da cidade mais alta do Brasil com seus 1628 metros e suas agradáveis temperaturas, o mês de fevereiro chegou trazendo o Festival Curta Campos do Jordão com uma agenda repleta de filmes e uma programação paralela intensa. Além do festival que ocorreu entre os dias 15 e 22/02, o evento começou no início do mês com o Cinema Pelegrino que percorreu as cidades vizinhas de Gonçalves (MG), São Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí (SP), levando a projeção de curtas para seus públicos.
“Foram 622 obras audiovisuais realizadas praticamente em todo o território nacional e em alguns outros países que foram submetidas ao olhar apurado da nossa equipe de curadoria, desta vez formada por mim, pelo produtor Paulo Gomes, pela jornalista especializada em cinema Clarissa Kuschnir e pelo critico e também cineasta recém premiado na Mostra Aurora de Tiradentes Wesley Pereira de Castro, que escolheram 109 curtas“, enfatizou Cervantes Sobrinho um dos idealizadores do festival, durante a abertura do evento, que ocorreu no Auditório Claudio Santoro, dentro do Museu Felicia Leirner.
Na ocasião ainda estiveram presentes algumas autoridades, entre elas: Carlos Eduardo Pereira da Silva, prefeito recém-eleito na cidade, seu vice Leandro Cézar, o vereador Gil do Vale (representando o Presidente da Câmara), Fábio Izar, Secretário do Turismo e Alecsandro Piu de Oliveira, representando a Secretaria da Cultura. “Que o ano que vem possamos encher ainda mais esse auditório, com a comunidade jordanense, para que conheça a cultura da cidade Nós sabemos que vocês fazem a parte de vocês. Cabe a nós agora levarmos a cultura a Campos do Jordão”, disse o prefeito.
E esta edição foi especial para o Curta Campos do Jordão que completou 10 anos e que vai muito além das exibições de cinema. Os convidados deste anos tiveram a oportunidade de conhecer os museus da Xilogravura (um dos poucos no mundo), Cinema Paradiso (localizado em São Bento do Sapucaí), com um acervo precioso do cinema mundial e em especial o nacional; o Palácio do Governo e Museu do Carro(ambos com obras de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Candido Portinari; e o museus a céu aberto com esculturas da artista plástica Libanesa Odette Eid, falecida em 2019. E como todos os anos, a 10ª edição do Curta Campos do Jordão teve a oficina do produtor e cineasta de Cavi Borges, que junto com os alunos realizou dois vídeos de três minutos.
Leia também:
Tudo Sobre o Festival Curta Campos do Jordão 2025
Tudo Sobre a Mostra Premiados do Curta Campos do Jordão no Vertentes
Tudo Sobre a Reprise da Mostra Curta Campos do Jordão em Paris
E realmente, eu, que frequento o festival desde 2018, vejo a preocupação da equipe de produção em formar um público cativo da cidade, para que possam ver o que se está produzindo pelo país, através dos curtas, que têm uma janela muito restrita. Sem contar a importância que esses festivais do interior representam para a cultura local, o encontro entre realizadores que fazem seu filmes, contando sua histórias. É sempre muito rico aprender esse cinema do interior. E eu aqui como jornalista, curadora e espectadora, acho que os estados do Sudeste poderiam se mobilizar mais a produzirem mostras e festivais.
Ainda na noite de abertura antes da exibição do longa “Lupicínio Rodrigues – Confissões de um Sofredor“, de Alfredo Manevy, o público foi agraciado pela apresentação musical de Mauro Amorim, homenageando o músico gaúcho, falecido em 1974. “Muito bom o festival curta, um formato tão importante para o linguagem do nosso cinema poder abrir o festival com um longa-metragem. Então é muito bom estar aqui com esses curtas que vou poder assistir a partir de amanhã. Eu quero dizer para vocês é que depois que o filme foi lançado o ano passado, muitas exibições no Brasil tiveram shows junto do filme com artistas que homenagearam o Lupicínio, junto com a exibição do filme. Foi algo espontâneo que foi acontecendo”, apontou Alfredo antes da exibição de seu longa.
As sessões dos curtas metragens concorrentes aconteceram no Cine Glória (conhecido também como Espaço Dr. Além) e o júri formado pelo professor, pesquisador e crítico de cinema Marcelo Ikeda, a atriz Dani Nefussi e o crítico, curador e pesquisador Mateus Brito Jr. foram os responsáveis por premiar nove produções, além de dois prêmios do júri popular, que receberam os Prêmio Araucária de Cinema.
A noite de encerramento recebeu a apoteótica apresentação Telemusik – Incertezas +Silêncios realizada pelo artistas de artes visuais Dudu Tsuda e Marcus Bastos. E a atriz homenageada da 10ª edição foi Lucélia Santos. Com uma vasta carreira tanto no teatro, TV e cinema (onde participou de mais de 20 filmes), Lucélia recebeu diversas premiações ao longo de seus mais de 50 anos de carreira, sendo reconhecida internacionalmente por seus papéis em diversas novelas.
“É sempre emocionante a gente vir a um lugar em que em comum entre nós é o cinema. É essa paixão pelo cinema como linguagem, o que ele significa e até onde ele pode ir e as artes de um modo geral. Parabéns para a secretaria da cultura com esse trabalho de valorização da Cultura. E eu vi no filme do Cavi, que eles fizeram a oficina aqui de como é importante para a cidade este estímulo. Como é importante para as crianças e os jovens que estão começando a despertar para a vida do que se fazer além da bolha das redes sociais. É tão importante ser acolhido em um universo criativo onde você sabe que vai poder projetar toda a sua mente. A mente é muito mais que desejo. E nós vivemos em tempos muito difíceis para a humanidade e até para a nossa condição humana sobre o planeta Terra. Temos que ter muita paixão, muito afeto e muito amor e vontade de transformar esse planeta, em um lugar mais habitável. Para além dessas imagens de todos esses personagens que vocês viram, e para além de toda a minha carreira que já conta com 53 anos de trabalhos mais contínuos desde minha a estreia no teatro tem uma personalidade minha que não apareceu aqui nessa tela que é a minha militância especialmente na questão ambiental. Pouca gente me conhece no Brasil. Esse trabalho que faço é em defesa dos biomas, da vida e das florestas. Há 40 anos lutamos pela Floresta Amazônica em pé. E não é uma homenagem que vai acontecer em Belém na Cop 30. É uma luta que começou dos anos da ditadura Militar no Brasil e depois foi abraçada pelo grande ambientalista Chico Mendes e eu estava lá no Acre, ao lado dele lutando em defesa as Amazonia. E são todos os biomas. E não é só no Brasil que os homens estão destruindo as florestas. Temos que ter a consciência e atenção para o papel que cada um vai ter em sua casa, família, seu universo, onde podemos atuar em defesa da vida, que é o bem maior e mais precioso que temos. Eu falo isso, porque gosto de me apresentar assim. Essa personagem sou eu. As outras são personagens que a minha profissão me dá oportunidade de atuar nelas. E eu faço isso com muito amor, porque eu grito e quero gritar de novo. Viva o cinema e o cinema brasileiro como linguagem e manifestação artística. Nessa altura da minha vida, eu só acredito na arte, cultura e no cinema como elemento de transformação social. Obrigada”, Lucélia Santos encerrou o seu potente discurso.
E os curtas vencedores pelo júri oficial foram: “Pupá”, como melhor documentário, de Acaraí (RN) dirigido por Osani; “A Arte de Morrer ou Marta Díptero Braquícero”, como melhor ficção, de João Pessoa (PA) e dirigido por Rodolpho de Barros; “Alguma Coisa com Plutônio”, como melhor animação, do Recife (PE) dirigido por Raoni Assis; “Circuloativo” (melhor curta experimental), de Niterói (RJ), de Bianca Dantas; “Macoura” (melhor curta regional), de Caraguatatuda (SP) dirigido por Gilda Brasileiro e Rodrigo Pereira; “Habito” (melhor roteiro) de Maceió (AL), dirigido por Fernando Santos; “Bolinho de Chuva” (melhor direção), de Curitiba (PR), dirigido por Cameni Silveira; “A Última Valsa” (menção honrosa), de São Paulo (SP), dirigido por Jean Claude Bernadet e Fabio Rogerio, e “Tecendo Vidas” (melhor curta regional), de Campos do Jordão (SP), dirigido por Luís Henrique Rodrigues.
Como o festival também teve sessões online levando os curtas para diversos locais do Brasil, o público teve oportunidade de votar e os curtas escolhidos foram: “Para Além de Sofia” (melhor escolha popular nacional), de Caucaia (CE), dirigido por JPROL e “Quando eu Crescer” (melhor curta regional), de São José dos Campos(SP), dirigido por Larissa Salles Demétrio.