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Assalto na Paulista

Um heist movie como os outros

Por Pedro Mesquita

Assalto na Paulista

“Assalto na Paulista” é um filme cujo título nos conta, sem muitos rodeios, algo a respeito das suas intenções. Destrinchá-lo, inclusive, beira a redundância, mas façamo-lo mesmo assim: ocorreu um assalto, e esse assalto se passou na Avenida Paulista, em São Paulo. A ênfase que o título dá numa convenção narrativa tão genérica, pouco individualizada, nos sugere, portanto, que estamos diante de um filme de gênero; mais especificamente, estamos diante de um heist movie (“filme de assalto”). 

Uma das primeiras cenas do filme confirma essa suspeita. O diretor Flavio Frederico opta por encenar desde muito cedo, já nos 10 minutos iniciais do filme, aquela clássica cena dos heist movies em que o grupo de bandidos se reúne diante de uma mesa enquanto o líder recapitula o plano deles, passo a passo. Esse líder é Rubens (Eriberto Leão), um dos poucos personagens que vai ganhar, ao longo do filme, um tratamento minimamente aprofundado; quanto ao resto do grupo, a maioria dos personagens permanece como verdadeiros estereótipos do gênero: o hacker; o rapaz descontrolado que pode ou não representar uma ameaça à integridade do grupo… Aqui, é bom reforçar que nada disso constitui necessariamente num ponto fraco do filme. Pelo contrário: quando tratamos de gêneros narrativos tão excessivamente replicados como o heist movie, parece interessante que “Assalto na Paulista” esteja interessado em apropriar-se dos clichês e usá-los ao bel prazer, sem a necessidade de introduzir cada elemento no filme como se ele fosse uma novidade (pois nós o sabemos: eles não são). Essa cena, portanto, que usualmente não aparece antes do segundo ato dos filmes, já entra aqui como uma verdadeira introdução ao filme, que se decorrerá quase que integralmente no próprio assalto. A narração é econômica para que a ação receba um maior tempo de tela.

A questão que nos resta agora, então, é: será “Assalto na Paulista” um bom filme de ação? Para respondê-la de maneira bastante diplomática, digamos que este é um competente filme de ação, ainda que pouquíssimo inventivo ou particularmente marcante. Não veremos no filme de Flavio Frederico um esforço particular na coreografia da ação — como alguns dos melhores filmes de ação recentes, que incluem a série “John Wick” ou mesmo os recentes “Missão: Impossível” —, muito menos na estética visual e sonora. No lugar disso, o que vemos aqui, na maioria das vezes, é o recurso ao menor denominador comum, às estratégias de encenação mais usuais em filmes desta natureza: a decupagem analítica, a câmera na mão e a montagem acelerada como signos da urgência com que a narrativa decorre, o uso da trilha sonora para pontuar as dinâmicas de tensão e repouso… 

Eis que “Assalto na Paulista” é, a nível formal, um filme absolutamente genérico. E aqui o julgamento crítico deve pesar mais gravemente que a avaliação da originalidade da narrativa. Pois não faltam exemplos de grandes filmes que pegam emprestado esquemas elementares do gênero, narrativas previsíveis, personagens estereotipados etc, para transformá-los numa experiência visual e sonora única. Aqui, por outro lado, somos conduzidos a uma série de imagens já vistas e sons já escutados, que só produzem em nós uma sensação de ânimo e novidade nos raros momentos em que vislumbramos algo de irregular — o que, contrastando com toda a tediosa regularidade da experiência, acaba por nos surpreender positivamente. Um exemplo disso é a insistência artificial do filme em situações implausíveis que precisam acontecer, independente da implausibilidade, para que a trama avance. Torna-se crescentemente fascinante observar a variedade de maneiras que o grupo de personagens arranja para se desagregar: um deles sofre uma overdose de cocaína no meio do assalto; outro revela-se como um traidor e é morto por Rubens; outro acaba assassinado pelo próprio colega após uma briga fútil, cujo final mesmo o mais ingênuo dos espectadores pode prever…

É possível, então, que o aspecto mais interessante de “Assalto na Paulista” seja o seu flerte com a comédia de erros. É uma pena, por outro lado, que o filme nunca realmente concretize o seu potencial cômico, pois a sua mise en scène retrata todos esses acontecimentos absurdos sob um olhar solene, dramático. O resultado final, portanto, é comedido demais para o êxito cômico e pouco pungente para o êxito dramático. Um meio do caminho frustrante.

2 Nota do Crítico 5 1

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