Alien: Romulus
O filme não autorizado de "Resident Evil"
Por Vitor Velloso
Trabalhar com a franquia “Alien”, tão maltratada nos últimos anos, é uma tarefa que muitos diretores almejam, mas poucos têm coragem de imprimir uma identidade própria a qualquer nova obra da franquia. Supostamente, essa era a tarefa de Fede Álvarez, que conseguiu alguma notoriedade com o remake de “A Morte do Demônio” (2013) e com o interessante “O Homem nas Trevas” (2016): trazer sua atmosfera claustrofóbica e violenta para um universo já estabelecido, propondo algo diferente dos últimos filmes “Prometheus” (2012) e “Alien: Covenant” (2017), ambos de Ridley Scott. “Alien: Romulus” é um projeto que se preocupa tanto em trabalhar com a contextualização inicial e com uma atmosfera de tensão progressiva, que acaba sendo um longa com mais alma de emulador do que algo próprio ou inédito.
Aliás, é o melhor filme de “Resident Evil” já feito, seguindo toda a cartilha da famosa franquia, incluindo cenários claustrofóbicos e dominados por coisas grotescas, contando até com um temporizador e um elevador para escapar do local de perigo. Nesse sentido, Fede Álvarez é capaz de transformar a tensão vista em suas obras anteriores em algo palpável ao longo da projeção, seja através do som quase maniqueísta para ditar o ritmo das cenas de ação/terror ou até na apresentação das criaturas. O problema é que há uma sensação de incerteza nos caminhos percorridos, especialmente em uma certa ambiguidade entre querer prestar um tributo aos longas clássicos, especialmente “Alien, o 8.º Passageiro” (1979), de Ridley Scott, e tentar trazer alguma identidade particular, especialmente na dinâmica das sequências. Contudo, “Alien: Romulus” parece mais um “Resident Evil” (videogame) do que um Alien propriamente dito, o que pode ser interpretado de forma negativa ou positiva. Se o terror não é exatamente o forte aqui, a ambientação e a progressão do perigo são os pontos mais relevantes, com as criaturas possuindo uma imposição nas cenas, pela característica dos efeitos práticos que retiram a possibilidade da grande sensação de artificialidade causada em outras ficções científicas contemporâneas, como no caso de “Covenant”.
Não por acaso, conforme avançamos na projeção, somos surpreendidos pelo dinamismo das cenas de ação, pela quantidade de criaturas e por decisões estéticas que estão longe de serem revolucionárias, mas criam algum grau de entretenimento, como uma espécie de raio-X que mostra o parasita no corpo dos humanos, evoluindo e se movendo. Também, nesse pragmatismo quase imediatista das cenas de ação e na (re)apresentação do universo, o novo filme da franquia evita os caminhos filosóficos de Prometheus, indo direto para uma representação mista entre o clássico de 1979 e sua continuação, “Aliens: O Resgate” (1986). Na verdade, a diretriz aqui é apresentar um contexto social de profunda degradação humana, a necessidade de sair do rolo compressor que eles vivem, bastante capitalista, aliás, e introduzir uma estrutura dramática para o andróide da vez, para que possamos ter alguma conexão com o personagem. Essa introdução geral é um pouco arrastada, criando uma sensação amarga nos primeiros minutos, mas, após atravessarmos esse momento, o projeto funciona em um ritmo mais acelerado, chegando a não ceder muito espaço para o terror em si, já que sua intenção é utilizar a velocidade das criaturas para representar o horror nos personagens, criando a sensação de perigo já mencionada. Além disso, há uma certa repetição formulaica ao longo do filme, de usar as sequências como uma “fase” de videogame, com novos desafios, evoluções etc.
“Alien: Romulus” é menos ambicioso do que poderia, tendo em vista os últimos projetos da franquia, mas é capaz de caminhar por uma certa zona de segurança entre a homenagem e algum frescor estético em momentos isolados. Infelizmente, há algumas fragilidades realmente difíceis de escapar; tanto os minutos iniciais quanto os minutos finais são burocráticos, cíclicos e parecem reciclados de outros “Aliens” ou da estrutura de um “Resident Evil”. Há momentos divertidíssimos de criaturas perseguindo os personagens, e as sequências mais tensas, envolvendo a condição de uma personagem específica, são capazes de prender a atenção do público para além do entretenimento fugaz ali exposto. O novo filme da franquia Alien está longe de se aproximar do clássico de Ridley Scott, mas não apaga a memória das vergonhas recentes acumuladas pelo diretor e pela marca. Vamos ver se, no próximo projeto já confirmado, Fede Álvarez irá tentar algo mais ousado para se destacar dessa lista ou se manterá na zona de conforto para garantir mais contratos em Hollywood.