Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos
Bagunça em negociação
Por Vitor Velloso
“Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” de Brenda Chapman é um projeto que desafia o espectador a se manter diante da tela. Sem saber se dialoga com um público mais adulto ou infantil, o filme faz um esforço monumental para ser uma espécie de “Labirinto do Fauno”, entre um Peter Pan e Alice no País das Maravilhas, mas como um Midas do tédio, vai tornando tudo excessivamente burocrático.
As investidas dramáticas buscam compreender esse lugar do “fantástico” como uma alternativa à realidade, sempre surgindo como uma espécie de escape necessário. Porém, os personagens funcionam de maneira unilateral, sempre movidos por uma linha particular que nunca encontra amparo nos demais eixos narrativos. “Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” é como um motorista ruim, é incapaz de dar ré e desfazer ao mesmo tempo para estacionar. A monotonia generalizada não surge apenas de um texto frágil que não consegue explorar as relações entre os personagens, suspendendo todas elas de acordo com as necessidades comerciais, a montagem aparece como um dos problemas mais graves de um projeto que ou está perseguindo o sofrimento, ou o sonho. Essa suposta felicidade que encontra no lúdico, é artificial, programática, conservada.
Nada funciona aqui. Nem mesmo o elenco repleto de estrelas hollywoodianas é capaz de atrair com algum carisma. David Oyelowo, Angelina Jolie e Michael Caine são coadjuvantes das patacoadas desengonçadas e bagunçadas de todas as decisões criativas que envolvem o título. O luto que aparentemente move a narrativa para caminhos mais drásticos, pouco sugere algo na própria relação de seus protagonistas. O fantástico não consegue uma assimilação menos forçada em meio à desorganização da trama. As crianças estão deslocadas, os adultos não se encontram, os sonhos não convencem e “Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” se torna um ciclo de desgastes, uma corrida contra o relógio, companheiro que o espectador fita a todo tempo.
A experiência pode ser amenizada caso a boa vontade seja vista como algo relevante na balança final, ou seja, apesar de tudo, é possível ver aquilo que o desenvolvimento almejava. Mas essa aposta é uma perda visível de paciência, que não recompensa, não entrega algo que possamos carregar em defesa ou mesmo sustente algumas das pontas soltas da obra. Aliás, a falta de resolução de “tantas frentes dramáticas” que o longa vai abrindo, exclui qualquer possibilidade de funcionamento do clímax, monótono, burocrático e que apelando para algum sentimentalismo, reforça que o maior jogo de interesse aqui possui nome e cor: dólar. O produto recorre a símbolos práticos para realizar a manutenção do interesse em seu arquétipo dramático, para cada situação, um novo apoio de sustentação.
Sem direcionamento, foco e honestidade, “Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” passa longe de conseguir algo que não seja o bocejo e a troca de olhares com o ponteiro do relógio, um martírio que se encerra na percepção de que “nada aconteceu”. Longe de ser uma atitude precipitada, muitos irão desistir do filme, e poucos irão julgar. Claramente alguns milhões mal movimentados e uma bagunça generalizada, uma síntese de como a proposta “instantânea de Hollywood” já está em decadência há décadas. Onde claramente tudo deu errado, sobra falar de como Jolie anda escolhendo mal seus projetos, e Oyelowo segue uma trajetória peculiar…
A falta de liga entre as ideias ficará clara para o leitor que ainda não se aventurou no universo citado, mas cuidado… A muito tempo atrás, em um lugar distante… ao norte… a equipe de produção fabricava algumas pérolas que nossos heróis deveriam temer!
“O livro de Eli”, “A Orfã”, “Navio Fantasma”, “Blithe Sirit” e por aí vai! Porém, os heróis só precisavam acumular um pouco mais para retornar ao caminho que trilhavam… Um ciclo de acúmulo que rendeu um bocado de propriedades, lucros e até o sinceríssimo amor dos tubarões de Beverly Hills. Ah, o amor e seus valores… Trecho retirado de “Hollywood uma fantasia capital, terra de prosperidades!. Autor: Valor a negociar.
Apenas um aviso aos leitores que planejavam um passeio em família, “Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos” não é um filme para crianças, mas pode ser brevemente acessível.