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A Última Viagem

Lei de Murphy?

Por Vitor Velloso

Cinema Virtual

A Última Viagem

“A Última Viagem” de Aoife Crehan é um daqueles produtos britânico que transita entre o humor e o drama de viagem, apostando em alguns vínculos que o espectador irá construir ao longo da projeção. Mantendo a estrutura de excessiva divulgação de projetos que compreendam a moral cristã no cerne de seus personagens, o longa chega às terras tupiniquins mantendo a repulsa do streaming pelo cinema nacional. 

O eixo central do projeto até investe nos absurdos comuns à comicidade britânica, creditando aos diálogos expositivos uma liga para o humor, ainda que o desenvolvimento de seus personagens esteja mais próximo de um institucional ortodoxo. A fórmula é reproduzida de acordo com a indústria: um retorno às origens, uma série de problemas novos e antigos vêm à tona, uma avalanche de diálogos que buscam sintetizar um julgamento moral da sociedade em torno do caso, a concretização dessa dicotomia sociedade x estado. Não por acaso, o maior intermédio para isso vem de uma estagiária da polícia, que demonstra sua indignação de como as coisas estão funcionando no processo. “Se precisamos punir quem está fazendo bem, não sei qual o sentido disso tudo”. Apesar de tudo, não é um dos piores lançamentos na plataforma dos guardiões da moral dogmática. 

Isso porque “A Última Viagem” reconhece a estrutura programática e tenta condensar todas as resoluções em imagens síntese de seus objetos de exposição. Poucas coisas são mais diretas que o percurso que cruza o país, carrega um caixão nas costas, utiliza um trator para chegar ao litoral e um barco para atravessar. Tudo isso em nome da solidariedade cristã, também formalizada em outro personagem, Louis (Samuel Bottomley) e em parte, Mary (Niamh Algar). A proposta do filme é compreender que essa trajetória se confunde na estrutura dramática proposta, entre um rigor direto entre a postura de seus protagonistas e a própria construção do humor. O longa investe em uma representação humorística à britânica, com seus duplos sentidos característicos e a fisicalidade particular. Contudo, pouco engraçado e tampouco emocionante, o projeto não consegue ser eficaz na proposta, falhando duplamente, e ainda que consiga manter o mínimo de interesse até o fim da projeção. 

Na linha familiar, existe alguma construção consciente na relação de Louis e Daniel (Michiel Huisman), mas o padrasto aparece como um elemento narrativo que está ali para ser inserido em momentos de caos mais direto, gerando algum atrito imediato. Mas as escolhas pouco criativas para tentar criar o dinamismo de sua própria trajetória, transformam as duas horas e quarenta em mais um subproduto genérico da indústria, que reproduz massivamente uma espécie de gênero de reconciliação com o próprio passado e problemas pessoais. São obras que entendem seu lugar no mercado e se propõe a salvar uma janela para as produtoras e distribuidoras entregando algo programático. “A Última Viagem” sofre com seu fim desestruturado, em uma indecisão catatônica de como amarrar as pontas para que seus personagens possam seguir “depois da projeção”. A crença da prosperidade aqui, é transferida não apenas nas propriedades e capital, mas para a unidade institucional de um dos grandes pilares dogmáticos. É a comunhão disso que move o filme. A história do enterro começa até engraçada, mas rapidamente serve de pretexto para criar alguns diálogos absurdos posteriores. 

“A Última Viagem” tem figurino Irlandês, mas a gênese é da indústria imperialista. Não se promove como nada de diferente, assumindo no próprio pôster seu caráter genérico, mas acredita na força de sínteses da fé e da promessa. Não por acaso, conseguiu a distribuição em uma plataforma que acredita nos princípios. De alguma forma entretém mais que boa parte do catálogo, ainda que esteja alinhado com todas as fórmulas. 

E para os rigorosos formais e criacionistas, poucas coisas aqui poderiam ser menos relevantes, desde a tentativa exaustiva (já saturada) de um naturalismo comercial, ao “joguinho” mais barato de ação e consequência na falta de um rigor “misancênico” que seja capaz de explorar esses espaços a seu favor.

2 Nota do Crítico 5 1

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