A pontualidade dos tubarões
Salto das cinco
Por Vitor Velloso
Durante o Fest Aruanda 2020
“A pontualidade dos tubarões” de Raysa Prado é um curta-metragem que anseia em ser decifrado aos poucos e busca instigar no espectador esse interesse em percorrer determinadas camadas da narrativa. Porém, suas tentativas são frustradas e não desperta esse ímpeto no público, pelo contrário, parece estar brincando de pique-esconde sozinho.
É difícil se interessar pelo filme, a inocuidade em cada fragmento do ecrã, as propensas particularidades de seus hábitos cotidianos que deveriam ser um enigma e soam apenas um cacoete narrativo para criar, quem sabe, algum rigor na linguagem. Que ainda é frágil, pois reproduz uma parcela da cinematografia dos curtas e faz o exercício mimético a partir da música, como quem busca um grau de exposição para a própria narrativa. É uma tentativa de condução que não consegue fisgar seu espectador, as lógicas retiradas diretamente do projeto são mais plausíveis pelas pretensões dessa transa entre o som e a imagem, que nunca alcança lugar algum.
E o maior desafio, para o espectador, é assistir “A pontualidade dos tubarões” e entrar em consonância com a obra, para querer caminhar até o final com o projeto e seu protagonista. Ainda que Raysa possua consciência de suas decisões formais, transitando entre um suposto rigor e algumas digressões, como a cena na praia, com suas distorções na imagem simulando uma perspectiva distinta. O negócio é que o barato não funciona, não nos interessamos pela obsessão do protagonista, ele não nos gera expectativa, a digressão parece surgir como elemento de chamariz formal e toda a construção do curta parece estar reverenciando uma estética particular da cinematografia brasileira, burguesa, de apartamento, que implora a atenção de seu espectador, mas não consegue conduzir seus eixos narrativos. E toda esse mosaico de elementos vai se perdendo em um platô discursivo e que reproduz, projeta, mas não impacta.