A Guerra do Amanhã
Genérico e pouco eficiente
Por Vitor Velloso
Amazon Prime Video
Com um marketing estrondoso e uma brutalidade de anúncios, a Amazon Prime Video chega com seu novo “blockbuster dos streaming”: “A Guerra do Amanhã” . A direção é assinada por Chris McKay (“LEGO Batman: O Filme”) que faz um trabalho bastante formulaico no subproduto da plataforma Bezos.
O barato aqui se propõe ao entretenimento mais direto possível: um herói (Chris Pratt), alienígenas, um bocado de tiros, destruição em massa e plot-twists previsíveis. A proposta da obra é trabalhar em torno dos arquétipos que fundaram o subgênero, sem renovações ou mudanças. Por essa razão, a escolha de Pratt para protagonizar o americano médio com passado militar e frustrado pela não inserção no grande capital privado, é acertada. Vale lembrar discursos recentes do ator em apoio às alas mais conservadoras estadunidenses que combinam perfeitamente no imaginário de uma cultura patriótica, aos moldes de Hollywood. E está claro que ele funciona relativamente bem no papel, aliás seu personagem é excessivamente unilateral e seus traumas estão ligados às instituições que preconizam parte dos mito-fundadores do norte.
Essa relação imediata com a ação, um pipocão genérico que promete um divertimento por mais de duas horas, não funciona muito bem. As razões são diversas, desde uma terrível construção dramática que nunca dá peso às atitudes de seus personagens, sendo alçadas ao nível introdutório e cessando por ali, como as sequências de ação cíclicas e entediantes. “A Guerra do Amanhã” é mais um longa que não consegue superar os próprios obstáculos industriais para gerar o entretenimento desejado, os clichês se acumulam e a incapacidade de McKay em conseguir estruturar uma unidade capaz de empolgar em alguma escala, é o tiro de misericórdia.
O produto apresenta o problema, introduz o protagonista na linha de ação e despeja o espectador nesse desespero pelo futuro. Esses esforços não tentam criar alguma coerência didática nos conceitos ali trabalhados, essa escolha poderia ser excelente se o eixo central da obra fosse o entretenimento pragmático. Mas tudo aqui é muito bagunçado, a relação com o pai (J.K Simmons), sua família, Muri (Ryan Kiera Armstrong) e Emmy (Betty Gilpin), meio ambiente etc. As coisas são jogadas a esmo, para investir em alguma complexidade na narrativa, mas são abandonadas rapidamente. E esse acúmulo de informações superficiais vai fomentando um profundo desinteresse nessa aventura. Em determinado momento o filme se perde e como todo conservador em desespero, ataca seus adversários mais óbvios. A Rússia é colocada como governo totalitário, a China é atirada ao meio da discussão sem o menor sentido, e toda essa velha dicotomia que Hollywood fomenta para o ódio asiático retorna com força.
Se “A Guerra do Amanhã” fosse capaz de construir uma sequência de ação minimamente funcional, na íntegra, até que o entretenimento poderia resultar em alguma coisa, mas nem a cena que apresenta os “garras brancas”, maiores inimigos do filme, consegue ter impacto. A esquemática é iniciar com efeitos especiais grandiosos, partir para uma geral que mostra toda a destruição da cidade, fechar a ambientação em um espaço menor para que o confronto possa minimizar o ser humano nesse cenário e trabalhar com os cortes rápidos para um dinamismo nas mortes dos soldados. Com pouquíssima imaginação e efeitos especiais pra lá de duvidosos, o longa vai levando a mesma estrutura de suas cenas de ação até o fim da projeção. Sem versatilizar em alguns momentos, trabalhar o drama de maneira mais profunda ou mesmo finalizar problemas que apresentou. Não por acaso o clímax é uma das piores coisas dos 138 minutos absolutamente tediosos que desafiam a paciência do espectador.
Um roteiro genérico, uma ideia conservadora na mente e um McKay com a câmera só poderiam resultar na deselegância de um fiasco à altura de um subproduto Bezos Prime: “A Guerra do Amanhã”. O diretor é mais que incompetente em articular um drama ou sequências de ação funcionais, é um agente dessa mentalidade guru, onde os clichês são balas de prata na perpetuação dos mito-fundadores da Hollywood contemporânea. É difícil acreditar que o cineasta um dia irá conseguir trabalhar com um “arrasa-quarteirão” de respeito.