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8 Presidentes 1 Juramento: A História de um Tempo Presente

Cinismo em Brasília

Por Ciro Araujo

8 Presidentes 1 Juramento: A História de um Tempo Presente

Em uma crescente produção nacional de documentários que visam a história política recente brasileira, a diretora Carla Camurati apresenta para todos um épico sobre o tema em “8 Presidentes 1 Juramento: A História de um Tempo Presente”. Pelo menos em sua estrutura. Querendo ou não, a extensiva produtividade vista no assunto já dificulta a sua inserção, uma vez que a cineasta produz o que é uma obra simplória e ampla até demais.

É difícil na realidade analisar o longa de Carla. Não porque é um filme complicado, mas porque é realmente, e com perdão ao trocadilho, longo. O assunto circulado tanto no texto quanto até visualmente – sim, o subtítulo do filme é circulado assim como outros elementos gráficos diversas vezes. O trabalho que se busca ao realizar uma obra assim, pelo menos geralmente, é compreender a nossa própria atualidade. Afinal, história é uma questão de se auto-conhecer. A biblioteca de filmes que podem passar por uma curadoria que se assimilam nesse contexto político é tranquilamente selecionado e há algo até em comum nos que mais se destacam: existe um recorte mais preciso. Em “8 Presidentes 1 Juramento: A História de um Tempo Presente”, a diretora decidiu aplicar imagens de arquivo. São mensagens simbólicas, onde ela própria inclusive encontra ironias do destino, personagens que seriam cruciais para o xadrez político contemporâneo. Michel Temer, Jair Bolsonaro, Dilma Rouseff. Porém, ainda assim mantêm o mesmo pulso já visto. São filmagens de arquivos utilizados em várias produções, não adicionam. Basicamente, sem força visual além da conexão da forma do filme. É uma grande linha do tempo, como uma apresentação. Um power-point. Mas já visto tantas vezes que perde seu sensorial.

Filme de montagem. Para os mais céticos, talvez seja um dos estilos mais difíceis de se trabalhar. Requer um olhar tão aguçado e tempo para maturar, tempo para pesquisar. Em “Funeral de Estado” de Sergei Loznitsa, o diretor se deleita de inéditas imagens do funeral de Joseph Stalin. Procura compreender a criação de um líder, em horas e mais horas de filmagens restauradas. Carla aqui entrega nada além do já disponível. Uma linearidade que as vezes encontra o capilar, isto é, se desmembra para se expôr o máximo à audiência em uma tentativa quase desenfreada de pensar na audiência como já relativizada. Quer dizer, diante da atualidade sistemática de impunidade das notícias falsas, mentiras e mais, realmente o questionamento é válido. Mas até que ponto é possível jogar a montagem na tela e esperar que exista algo a mais ali? Como já mencionado, seu poder de olhar se demonstra mais naturalizado no momento em que nota figuras históricas pequenas em certos momentos dos arquivos e que cresceriam logo após. A sugestão, talvez válida, seja desse recorte mais preciso, quem sabe assim o documentário de quase duas horas e meia não se empobreça na pura repetição cíclica histórica que nota e realmente explique como estamos (politicamente, claro) aqui.

Para tanto, “8 Presidentes e 1 Juramento: A História de um Tempo Presente” é simplesmente cínico. A obra de Carla Camurati é sarcástica e irônica em seus poucos momentos de personalidade fora dos próprios cortes, um perfeito herdeiro do pensamento que afastou o brasileiro médio da política. Ela encontra meios e justificativas para cada presidente e como foi seu governo e seus erros, uma forma de centralidade branda, turva. “Nem de esquerda nem de direita, muito pelo contrário”. Hoje ser assim é perigoso. E as reviravoltas, claro. Uma escrita simplesmente pobre, transformando o que tem ali de história para puxar como um gancho o espectador. O filme já está ali para simplesmente resumir, da forma mais próxima ao jornalismo possível. Não é à toa os agradecimentos já iniciais à GloboNews. Um bocado de cineastas assistiram essa frágil democracia sendo construída como uma forma de oportunidade para gravar, enquanto nascia dali um reacionarismo pulsante e assustador. Não existe nada mais para gravarem sobre, a política brasileira é frágil por fora e todos já assistiram essa história. Recontar ela, apenas relativizando-a ou dissecando-a, nada mais. Já gravaram até as privacidades da presidenta Dilma, ora. O tema está bem fechado, resta aos voyeurs encontrarem formas novas de canibalizar enquanto o próprio sistema grita, dominado. É uma espetacularização da política, ora, então.

1 Nota do Crítico 5 1

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