Festival Curta Campos do Jordao

Crítica: Dois Coelhos
Ficha Técnica
Direção: Afonso Poyart
Roteiro: Afonso Poyart
Elenco: Alessandra Negrini, Caco Ciocler, Fernando Alves Pinto, Thaide, Marat Descartes, Thogun, Neco Villa Lobos
Fotografia: Carlos André Zalasik
Música: André Abujamra
Edição: Lucas Gonzaga, Afonso Poyart e André Toledo
Efeitos especiais:Sergio Farjalla Jr.
Produção: Afonso Poyart
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Black Maria Filmes
Duração: 104 minutos
País: Brasil
Ano: 2010
COTAÇÃO: BOM
A opinião
A forma cinematográfica do cinema americano possui grande influência aos diretores iniciantes. Tiros, explosões e perseguições funcionam como gatilho para que se possa extrair o máximo de entretenimento visual. Um excelente exemplo do nosso cinema é “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, que ganhou notoriedade mundial ao apresentar a favela, com câmeras e lentes especiais que posicionava o espectador no meio de um fogo cruzado estilizado, versando violência extrema e realismo crônico. Então era de se esperar que o querer de outros cineastas viesse quase como conseqüência. No filme em questão aqui, “Dois Coelhos”, estreia na direção de um longa-metragem de Afonso Poyart, um publicitário que acreditou na ideia. Tanto que as principais funções incluem roteiro, produção e edição. É um filme de autor, até porque seria difícil delegar a outro a essência do que realmente o cineasta queria. Afonso mesclou referências à cultura pop por meio de narrativa de videogame, acelerada, fragmentada, manipulando, propositalmente, as percepções e entendimentos de quem assiste.
É inevitável não reparar nas técnicas de outros cineastas, de forma explícita, quase uma homenagem ao cinema francês, a Tim Burton (e sua versão “Alice no País das Maravilhas”), a Quentin Tarantino e Guy Ritchie, complementada com músicas de Radiohead, fornecendo uma atmosfera existencialista dentro de toda paranóia pretendida pelo roteiro. Há o ditado popular de diz “Ganhamos de um lado, perdemos de outro”. A sábia expressão consegue resumir a quesito interpretativo do longa-metragem. Os diálogos não convencem, não passam realismo, necessidade quase obrigatória, direcionando e dividindo a narrativa. Uma com efeitos especiais incríveis, como a cena da batida do carro; já a outra extremamente teatral e caricata. Não combinam. São dois filmes independentes. Podemos definir a estrutura contextual como ação psicodélica e diversão lisérgica (um acrônimo da droga LSD), tentando agradar gregos e troianos, tanto o público cult, quanto o grande público, este sim que movimenta a industria do cinema. “Dois coelhos” experimenta estilos e limitações técnicas (gastos R$ 3,5 milhões) de um gênero meio complicado de se fazer no Brasil, visto o baixo custo das produções.
O filme utiliza duas formas estéticas para contar a história. Uma delas é o Time-lapse, versão extrema de uma técnica cinematográfica de manipulação lenta e pode ser por vezes confundida com animação de paragem de movimento (stop motion). A outra é Bullet-time (tempo-de-bala), uma modalidade de efeito especial de câmera lenta idealizada para mostrar o movimento de personagens e/ou objetos em período de tempo extremamente curto – o que faz jus ao nome, quando uma ação é mostrada em “tempo de bala”; remetendo a praticamente parar no tempo para obter-se uma visão detalhada. A técnica foi popularizada pelo filme “Matrix” (1999). Concluindo, o filme foi filmado entre 1º de outubro e 10 de novembro de 2009, no Guarujá e em São Paulo. Vale à pena assistir pela ousadia, inovação e pela vontade do diretor de bater na tecla da realização de um gênero tipicamente hollywoodiano. Portanto, mensagem ao espectador: sem expectativas interpretativas.
Foto: Alexandre Bragança

O Diretor
Diretor e roteirista, iniciou sua carreira em Santos, litoral de São Paulo, como artista de motion graphics e na pos-produção em publicidade. Dirigiu videoclipes de artistas como Charile Brown Jr., Marjorie Estiano, Felipe Dylon, entre outros. Com seu curta Eu te darei o céu (2005), ganhou quatro prêmios no Festival de Gramado, incluindo melhor filme pelo júri popular. Seu primeiro longa é o policial “Dois coelhos”. Em 2005, “Eu te darei o céu”, curta-metragem ganhou o prêmio de melhor filme pelo júri popular, melhor ator, atriz e roteiro no Festival de Gramado.

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