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Vou Nadar Até Você

Belas imagens num filme confuso

Por Marcelo Velloso

Durante o Festival de Cinema de Gramado 2019

Vou Nadar Até Você

“Vou Nadar Até Você”, de Klaus Mitteldorf e co-direção de Luciano Patrick, traz a história de Ofélia (Bruna Marquezine) que descobre por meio de um jornal que o seu pai, o fotógrafo famoso Tedesco (Peter Ketnath), estará em Ubatuba apresentando um trabalho documental. Ofélia resolve então ir ao encontro de Tedesco, só que nadando de Santos até Ubatuba. Ophelia é filha de Talia, interpretada pela atriz Ondina Claus, que foi musa de Tedesco nos ensaios fotográficos inspirados na Ofélia de Shakespeare. Eles faziam parte de um mesmo grupo de surfistas e de amigos do litoral paulista.

Como o pai é avisado da sua ida por uma carta que Ophelia lhe envia, ele pede que Smutter (Fernando Alves Pinto), um amigo fotógrafo não tão bem sucedido, siga a filha no percurso. A relação de Ofélia com a mãe não parece das melhores, uma vez que aparentemente a mesma deixa a entender que não fazia muita questão que a filha tivesse um encontro com o pai.

O diretor do filme Klaus Mitteldorf é também fotógrafo, tendo realizado muitos ensaios de moda na sua carreira e por isso acaba apostando na plasticidade de “Vou nadar Até Você”(2017), com ambientação num trecho que foi utilizado em grande parte dos seus trabalhos. O filme é rodado no trecho entre Santos e Ubatuba e proporciona uma bela fotografia, com paisagens bonitas, muitas imagens de cima, até exageradamente.

É compreendido que haja uma preocupação com a estética de “Vou Nadar Até Você”, que antes tinha o título de Rio Santos, uma vez que a história gira todo em torno de personagens fotógrafos, mas acaba que esse cuidado de mostrar belas imagens atrapalha o ritmo do filme. Há uma poesia bonita no filme sim e quase que relacionada em sua totalidade às imagens e efeitos utilizados, como no uso do foco e de uma lente que proporciona imagens quase de pintura, mas a história em si acaba perdendo força. São utilizadas no filme registros em vídeo de Klaus da época em que o mesmo era surfista e frequentava o litoral paulista, o que entra no contexto da história para fazer referência do passado entre Talia e Tedesco.

A insistência do início do filme em colocar Ophelia com a câmera no início do filme fazendo registros das imagens de enterro e dentro de casa cai no clichê e fica forçado demais. Essa apresentação da personagem e da sua paixão pela fotografia poderia ser mais sutil. Bruna Marquezine tem uma boa estreia no cinema, pois apresenta uma interpretação correta, na medida, faz o que está ao seu alcance. O roteiro acaba não lhe proporcionando rompantes e seu trabalho fica limitado a uma variação muito tênue de emoções. Grande parte do filme, ela está na água, nadando. No percurso acaba não tendo encontros que rendam nuances na história e essa seria uma forma até de prender mais o público. Esses encontros poderiam ter sido mais desenvolvidos.

Outra coisa que incomoda no filme são as situações em que Ofélia se envolve no desenvolvimento da história, ao se encontrar com estranhos, sempre na maior tranquilidade do mundo. Algumas delas parecem bem improváveis, como um encontro certeiro com a filha de um pescador amigo de seu pai no meio do nada e outro com um sofá vermelho em meio a uma praia deserta. Ok, poderíamos relevar pela linguagem onírica que o filme se utiliza em certo momento, mas se tivermos muita boa vontade para isso.

O personagem de Dan Stulbach é extremamente caricato e destoa de todo o universo do filme e até se entende a pretensão, mas o ator “erra na mão”, insiste numa risada forçada e acaba caindo em exageros. Fernando Alves Pinto apresenta um bom trabalho como Smutter, sendo quem proporciona a virada da história e sabe aproveitar essa oportunidade. Tedesco segue como uma figura misteriosa durante todo filme e algumas de suas decisões ficam difíceis de serem digeridas pra quem assiste.

O final de “Vou Nadar Até Você” surpreende e faz definitivamente a gente concluir que embora o filme apresente uma linda fotografia, a história é muito confusa e o roteiro deixa a desejar, faltando desenvolver a trama e trabalhar mais os personagens, principalmente os masculinos, e também faltou criar situações para prender o público. Um filme não pode se garantir só com belas imagens.

2 Nota do Crítico 5 1

Pix Vertentes do Cinema

  • Não é Santos, mas São Vicente. E tem um aspecto emblemático: a Ponte Pênsil sempre foi um cenário de suicídios.

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