Vai!
Muito mais que isso
Por Vitor Velloso
Durante o CineOP 2021
“Vai!” de Bruno Christofoletti Barrenha é mais um documentário brasileiro sobre futebol que encerra a discussão colocada por reacionários que dizem “Futebol não tem nada haver com política”. Recentemente, um ex-jogador, atualmente comentarista, pediu o silêncio de um dirigente, alegando que o mesmo “falou pouco de esporte e muito de política… Eu acho que ele tem que falar de esporte”. A tentativa de censura demonstra uma militância política em favor das classes dominantes e contra a vida humana (no caso, a fala envolvia o impeachment e a atual situação sanitária do país). E são diversos casos que poderíamos citar aqui, mas Casagrande é outra figura que sofre perseguição por se posicionar publicamente contra a direita.
Este último foi companheiro de Sócrates no Corinthians. E o documentário de Bruno faz um paralelo em torno da política nacional e de uma período da história do clube, onde apesar de não conseguir levantar uma taça há 23 anos, houve um crescimento exponencial da torcida, o maior do Brasil nesse período. Durante mais de duas décadas, houve o golpe militar no Brasil, o AI-5, repressão, censura e prisões. A torcida jamais deixou de se manifestar, não importa a situação.
O material de arquivo em “Vai!” é riquíssimo. Manchetes e reportagens jornalísticas, registros de áudio da torcida, entrevistas, fotos e narrações. Sem uma utilização programática que apenas busque uma exposição mimética de sua proposta. Em determinado momento uma sequência de fotos mostram uma mulher atravessando o gramado e sendo agredida por policiais e o curta estampa na tela uma notícia: “Maria Madalena derrubou o alambrado, invadiu o campo, apanhou da polícia, mas continuou gritando: Corinthians”.
“Vai!” não é apenas uma declaração de amor à torcida do Corinthians, mas um recorte que discute a importância de compreender o futebol através de uma perspectiva materialista, afinal, um dos entrevistados em determinado momento diz “Eu posso perder o serviço, mas vim ver o jogo do Corinthians”. Futebol é sobre isso. Não se trata da alienação que parte dos intelectuais da classe dominante tentam acusar. Não é a fantasia tecnicista que os europeus tentam impôr. Vale lembrar que “várzea”, refere-se à várzea dos rios Pinheiros, Tamanduateí e Tietê. Bruno consegue costurar essa matéria através do tempo e nos traz aos registros contemporâneos, onde a torcida corinthiana se manifestou a favor da democracia, novamente, já em um cenário de pandemia. O curta consegue traçar parte do movimento através dessas manifestações e da história brasileira. Não apenas improviso, mais que vida ou morte, futebol brasileiro é uma síntese materialista.