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Um Sonho de Amor

A Ficha Técnica

Direção: Luca Guadagnino
Roteiro: Luca Guadagnino
Elenco: Tilda Swinton, Flavio Parenti, Edoardo Gabbriellini, Alba Rohrwacher, Pippo Delbono, Diane Fleri
Fotografia: Yorick Le Saux
Música: John Adams
Figurino: Antonella Cannarozzi
Edição: Walter Fasano
Produção: Carlo Antonelli / Silvia Venturini Fendi
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: First Sun
Duração: 120 minutos
País: Itália
Ano: 2009
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM

A opinião

“Um Sonho de Amor” homenageia um dos maiores diretores italianos de todos os tempos, Luccino Visconti. O espectador capta a referência desde o início do filme. As primeiras cenas acontecem em Milano, lugar o qual Visconti nasceu, viveu e dirigiu seus longa-metragens e da presença da atriz Marisa Berenson (que trabalhou em “Morte em Veneza”). É complementado pela narrativa clássica e pela fotografia gelo, quase sem cor, buscando a dicotomia da nostalgia com a atualidade. O diretor do filme em questão, Luca Guadagnino, ganhou notoriedade em “Mellissa P”, baseado no romance escandaloso por Melissa Panarello. A sua antiga parceria com Tilda Swinton (de “A Praia” e musa do cinema de Derek Jarman), gerou até um curto documentário sobre a atriz em 2002, “Tilda Swinton: The Factory Love”.
Não poderia ter escolhido melhor seu elenco. A protagonista transmite elegância natural e não conquistada, permitindo conviver com regras sociais (e hipócritas), sem o abalamento de uma iniciante. A camera interage com quem assiste por assumir o status de espectador, observando ora se intrometendo na imagem, ora se afastando do que se vê, ora gira ao redor dos personagens. Os elementos para que se possa montar o entendimento da trama são apresentados. A narrativa é de construção. Caso a caso. Uma ação gerando uma próxima. A história nos mostra a preparação de um jantar de família. Quando o filme realiza a sua abertura, com os créditos iniciais, a imagem não possui coloração, por causa do gelo que cobre o lugar. Já dentro da casa, há cor, mas apagada, seca, fria, quase artificial. O roteiro deixa-se acontecer. A naturalidade é quase um pré-requisito para que a ação aconteça. Os familiares chegam, elegantemente.
O papel da camera é recorrente, aproximando sutilmente. Os convidados conversam sobre banalidades, nada muito aprofundado. A construção clássica ambienta para aprofundar. Aos poucos, as rachaduras, fragilidades, futilidades, defesas, crueldades são desmascaradas, mesmo envoltos numa aura inteligente e extremamente culta. O comportamento demonstrado soa falso, superficial. A montagem opta por ser direta. Não suaviza, não cria excessos e ou dramas. Corte seco. No momento do jantar, a forma rude da matriarca deixa todos desconcertados. Ali, discutem quem irá substituir o patriarca na empresa, gerando a rixa familiar (contida dentro destas regras impostas). Algum tempo depois, a trama passa-se em Napoli. Há o desejo de transmitir uma atemporalidade, mesmo fornecendo elementos da modernidade. A grua chegando à personagem, a narração interativa com a tela, isso direciona o espectador a um outro universo: o da manipulação.
Desde esse momento, o roteiro não transpassará a certeza se é sonho, se é realidade, se a ação aconteceu ou se apenas foi um delírio, uma vontade e ou um desejo. O filho inicia uma amizade com um chef, que o ganhou em um campeonato. Neste início, ainda há a percepção das imagens surreais, desencadeadas por sonhos. O tom blasé e lounge intensifica a elegância nata. Ao provar a comida do amigo do filho, ela apaixona-se, ocasionando orgasmos gastronômicos. Esse ato a muda, inclusive a cor de seu vestido: vermelho. A atriz (Alba Rohrwacher, de “O que mais posso querer”) interpreta a irmã lésbica. “Não é um capricho, tenho certeza”, diz. Já em San Remo, a manipulação entre realidade e fantasia ganha força. Daí, a incerteza sobre algo é a única coisa que resta ao espectador.
Assim, clichês óbvios para resolver reviravoltas podem acontecer, já que não se tem mais domínio sobre nada. Há a música de perseguição ao personagem, depois a música romântica que insinua o que poderá acontecer. A protagonista, com a libido extremamente aguçada, procura, flerta, vivencia plenamente o tesão. Porém a imagem perde o foco. Será que aconteceu algo? As elipses temporais confundem ainda mais. O filme torna-se um jogo de tentativa e erro para quem assiste. Há a imaginação dele. Há a imaginação dela. Outros personagens são manipulados também. Troca-se de tempo, propositalmente, como se o lado da verdade se misturasse com o outro não verdadeiro. Os detalhes transformam-se nos principais personagens. A atenção tem que ser dobrada e redobrada.
A cena lembrando uma pintura, com o sol incidental, supõe um sexo sem pudor, extremamente natural. Ela é uma estrangeira. “Uma russa que aprendeu a ser italiana”, diz. A natureza, o corpo respirando, a natureza, o corpo do homem, a natureza, novamente a respiração humana. Indica-se: London. É um filme de instantes, como o filme exibido na televisão “Filadélfia”, na cena da “La mamma morta”. Outro jantar acontece. A comida mostra a verdade ao filho e a mãe. Uma dica: preste muita atenção ao prato apresentado. Isso gerará a revolta, a tragédia, a culpa, o silêncio, o sofrimento, o choro e a loucura. Após os créditos finais, há uma cena com a velocidade da imagem lenta e não tão visível assim. Loucura? Realidade? Concluindo, um filme que está nos detalhes, que busca a naturalidade intrínseca da elegância e que manipula até o último minuto se é ou se não é. É estranho, avoado, arrastado. Valendo a pena assistir. Indicado ao Oscar 2011 de Melhor Figurino e indicado ao Globo de Ouro 2011 de Melhor Filme Estrangeiro.
O Diretor
Luca Guadagnino, nascido em 1971, em Palermo, mas foi criado na Etiópia, é um diretor de cinema italiano. Ele ganhou fama dirigindo “Melissa P.”, baseado no romance escandaloso de Melissa Panarello. “Um Sonho de Amor” ganhou o prêmio de melhor direção no d’oro 2010 Alabarda festival de cinema.

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