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Um Novo Despertar

Abrace o gatilho que se tem na mão

Por Fabricio Duque

Um Novo Despertar

“Um Novo Despertar” traz na direção a atriz Jodie Foster (de “Silêncios dos Inocentes”, “Acusados”, “Quarto do pânico). O novo longa-metragem é o terceiro em sua carreira. Os outros dois foram “Feriados em Família” e “Mentes que Brilham”. Mesmo com todo aglomerado de polêmicas envolvendo o início deste filme, a diretora encarou o desafio e o levou às telas. Uma delas era o roteiro, que figurava na “lista negra” de Hollywood. Outra era em relação aos escândalos de violência doméstica, que envolviam o ator Mel Gibson (que já trabalhou com Jodie em “Maverick”) e sua ex namorada Oksana Grigorieva. Por causa deste último, o filme teve seu lançamento em 2010 adiado para março de 2011. A história é sobre a depressão física causada pelo estado que a vida atual se encontra. O tom depressivo, melancólico e que busca a solução em um ser imaginário direciona o espectador ao objetivo narrativo pretendido.

O filme começa com a narração de Walter Black (Mel Gibson), que vive uma típica crise da meia idade e encontra esperança (uma catarse terapêutica) em um fantoche de castor que usa na mão e o trata como se o mesmo fosse real. O roteiro usa o humor perspicaz de alguém que está desesperado e não espera mais nada da vida. Assim, as palavras são transpostas sem amarras e sem o “politicamente correto”. Em “Um Novo Despertar”, a câmera acompanha mostrando detalhes, contando a história de forma sóbria e direta e passeando ao seu redor como por exemplo pelo ângulo visto da quina desfocada de um cama qualquer. A atmosfera destrutiva, como tentativa de suicídio, durante um tango, é suavizada pela graça exagerada do momento apresentado. A televisão simboliza a crítica à inexistência do silêncio dos dias de hoje. É nesta hora que um “bichinho de pelúcia” ganha “vida”, falando pelo seu tradutor, que é o nosso protagonista. O castor diz sempre a verdade, sem o questionamento do certo e ou errado, do necessário e ou do excessivo.

Ele se torna um homem melhor, mais dedicado, melhor pai, melhor marido e melhor profissional em seu trabalho. “Você quer sarar”, pergunta-se desestimulado numa letargia. Walter tem a percepção exata de que transfere ao seu “animal de estimação não animado” as verdades que possui vontade de dizer. A própria loucura, acreditada por muitos, para ele é projetada e criada, criando assim distância psicológica. “É radical, mas eficiente”, diz. Cada individuo social busca a libertação de seus problemas, podendo ser por resiliência, resignação, ou simplesmente batendo a cabeça na parede, como o filho do nosso personagem principal. O simbolismo metafísico do “boneco” que assume a vida de Walter Black alfineta a necessidade da parada a fim de que possa não apenas passar pelas coisas mundanas, mas sim ver e perceber o que se passa em volta. O castor toma a vida dele. Vira diretor da empresa. “Grandes superfícies são lixos. Não se enquadram”, diz-se. A forma excêntrica com que lida com seus problemas, transforma a visão majoritária de estranheza em aceitação comum pela massificação.

Cada vez fica o surrealismo participa da realidade dele e dos próximos, incluindo quem assiste a “Um Novo Despertar”. A caixa de memória, a auto-punição, tudo faz inferir a famílias não convencionais, que é o padrão atual da convivência social. “Falando com as mãos? Quem está louco? O que fala por um boneco ou quem toma pílulas?”, questiona-se. A correria e a pressão do universo o qual vivemos desencadeiam o estresse, a insônia, gastrites, dores de cabeça. O ser humano precisa conviver com isso, não sendo possível a mudança. Então, a solução apresentada pode ser a imersão em vícios ilegais ou legais (como os remédios anti-depressivos). Quem está errado? É uma fuga da realidade. Todos tem problemas. A “loucura” dele enxerga o real pedido de ajuda dos outros. Seguir adiante é esquecer o passado. Começar de novo é loucura, que é fingir ser feliz”, diz-se. O tom de auto-ajuda às avessas funciona, mitigando clichês e fornecendo diversão pensativa do que se é transmitido.

“Novidade de antes, o lixo de agora”, enfoca-se. Mas como não podia deixar de acontecer em um gênero como esse, há recorrência do efeito melodramático, emocional, principalmente no final, com a previsibilidade e obviedade, convergindo à luz da felicidade e aos momentos de alegria. Mesmo com isso, o contexto é extremamente interessante e competente. Jodie consegue manter um equilíbrio narrativo. Os atores principais (Gibson e Foster) estão fantásticos. E são acompanhados na plenitude por seus coadjuvantes. Vale a pena assistir. Recomendo. Antes de Mel Gibson ser contratado, Steve Carell e Jim Carrey foram cogitados para o papel principal do filme, que teve orçamento aproximado de US$ 19 milhões de dólares e que foi rodado em diversas locações de Nova York, nos Estados Unidos. “Um Novo Despertar” é dos mesmos produtores de “O Suspeito”.

Jodie Foster apresentou o seu novo longa no Festival de Cannes, que como atriz mirim, participou de Taxi Driver, de Martin Scorsese – que ganhou a Palma de 1975. Ela sabe que todo diretor se utiliza dos atores. “Gibson é incrivelmente amável e sensível”, diz a atriz em entrevista ao Hollywood Reporter. E completa “Ele não é santo, tem uma boca grande e faz coisas que seu sobrinho faria. Mas eu soube no momento em que o conheci que iria amá-lo para o resto da vida. Esse não é um filme mainstream. Tem atores mainstream, mas o filme não é isso. Eu não preciso fazer esse tipo de produção porque a minha carreira como diretora é uma busca espiritual particular. Não preciso ter sucesso nesse caminho para ganhar uma identidade. Eu já tenho uma”.

4 Nota do Crítico 5 1

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