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Tudo Sobre o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2024

57o Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro 2024

Tudo Sobre o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2024

O mais longevo festival de cinema do país acontece de 30 de novembro a 7 de dezembro de 2024, com 79 filmes divididos em nove mostras

Por Fabricio Duque

O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro sempre trouxe no próprio nome uma tradicional cinefilia embutida preocupada em exibir e difundir os filmes nacionais em todas as suas vertentes, formas, possibilidades, lutas político-sociais. E muitas das vezes, gerou-se também sinônimo de polêmica. Cada obra sempre buscou representar o máximo da força criativa. E cada cineasta encontrou a liberdade para defender suas ideias e posicionamentos identitários. Há anos é assim, desde sua primeira edição. Isso é muito bem analisado no documentário Candango: Memórias do Festival, de Lino Meireles, e que em 2018 lançou no Festival de Brasília o livro homônimo. Sim, eu sou apenas um novato. Ouço histórias, mas só as vivo desde 2017 e também presenciei momentos polêmicos. Um deles na coletiva de imprensa de “Vazante, de Daniela Thomas, em que ninguém respirava após um debate muito acalorado. Lino, quem sabe você pode fazer uma continuação do seu documentário! Causos-verdades não faltam e não faltarão. E neste ano, estarei de volta a solos brasilienses para realizar mais cobertura para o Vertentes do Cinema.

O ano de 2024 do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro tem mais uma vez a direção artística de Eduardo Valente e o aviso de ser uma “gestão compartilhada”, e a edição quinquagésima sétima não poderia ser diferente em termos de pautas identitárias, decolonialistas e sócio-comportamentais (mais no coletivo que no individual), até porque, é nítido e indiscutível, que o mundo mudou e que todas essas transformações precisam ser evocadas e impressas bem mais didáticas, transparentes, diretas e menos conceituais. O festival também se assume como um espelho da realidade, exibindo uma seleção de filmes que traduzem o que o público deseja assistir neste momento atual. 

Sob a presidência do secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Claudio Abrantes, e a direção geral da produtora Sara Rocha, o 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro tem direção artística do crítico, cineasta e programador Eduardo Valente. A edição apresenta “um mosaico do mais novo cinema brasileiro, com produções de Norte a Sul do país”. “As comissões de seleção do Festival puderam mergulhar num universo amplo de filmes, que comprovam a vitalidade e a diversidade da produção do país. Foi um processo ao mesmo tempo prazeroso e difícil, porque mesmo com uma ampliação do número total de obras exibidas, uma quantidade enorme de bons filmes sempre precisa ficar de fora”, reconheceu Valente.

Na metáfora do casamento do público com o festival, a 57a edição pode representar Bodas de Lápis-lazúli, uma pedra preciosa que “favorece a clareza mental, o senso de força e vitalidade, amplia o pensamento e atrai a verdade”. E para comemorar “nada melhor” que fazer um “bolo com recheio de doce de leite e nozes com um toque de lemon curd”.

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O mais longevo festival de cinema do país, uma “referência histórica que atravessa gerações”, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro deste ano acontecerá mais uma vez no Cine Brasília, entre os dias 30 de novembro e 7 de dezembro de 2024, com 79 filmes exibidos, distribuídos em nove mostras, sendo elas: as tradicionais Competitiva Nacional e Mostra Brasília, três mostras paralelas, sessões especiais, exibições de mercado, Festivalzinho e FestUni, com produções universitárias. Além de um volume ampliado de filmes, a 57ª edição apresenta como novidade uma estrutura inédita montada ao redor do Cine Brasília. A Arena do Festival de Brasília, que já comporta a tradicional praça de alimentação e a área de convivência, neste ano agregará mais três auditórios. A tradicional sala de projeção do Cine Brasília foi rebatizada com o título oficial de Sala de Cinema Vladimir Carvalho, segundo o decreto 46.498, publicado no DODF na terça-feira (5/11).

O Troféu Candango de homenagens será entregue a Zezé Motta, veterana atriz, ganhadora do Candango por sua atuação em “Xica da Silva”, no Festival de Brasília de 1975. O festival presta também um tributo póstumo a um dos maiores documentaristas brasileiros, o cineasta e professor paraibano radicado em Brasília Vladimir Carvalho, e à produtora, atriz e cantora Mallú Moraes. São duas figuras que marcaram o cinema nacional e, particularmente, se tornaram referência do cinema candango. 

O 57º Festival de Brasília apresenta seis longas-metragens e 12 curtas na Mostra Competitiva Nacional, selecionados entre 1180 títulos (953 curtas e 227 longas) inscritos; quatro longas e oito curtas da Mostra Brasília – 26º Troféu Câmara Legislativa, voltado para as produções do DF; 13 longas para as mostras paralelas Caleidoscópio, Festival dos Festivais e A Formação dos Brasis, sete produções infanto-juvenil que integram o Festivalzinho, sessões especiais, filmes de abertura e encerramento, e três exibições conectadas ao mercado. Os selecionados para as mostras competitivas nacionais serão remunerados com cachê de seleção nos valores de R$ 30 mil para longas-metragens e R$ 10 mil para curtas. Há ainda prêmios em dinheiro, como o Prêmio Canal Brasil de Curtas, que concede R$ 15 mil ao Curta eleito por júri montado pelo canal; e prêmios em mídia, como o do Canal Like, que concede R$ 50 mil em anúncios no canal ao Melhor Longa pelo Júri Oficial. Na Mostra Brasília, o audiovisual candango concorre a R$ 240 mil reais em prêmios concedidos pelo 26º Troféu Câmara Legislativa.

Criaturas da Mente

A Cerimônia de Abertura acontece amanhã, no dia 30 de novembro, apresentada pela atriz e influenciadora acreana Gleici Damasceno. O filme escolhido é o novo do realizador Marcelo Gomes, “Criaturas da Mente”, filme que investiga o sonho como motor da revolução humana, acompanhando o trabalho e a vida do neurocientista e escritor brasileiro Sidarta Ribeiro. Já o Encerramento contará com “O Menino d’Olho d’Água”, de Lírio Ferreira e Carolina Sá, um documentário sobre mestre do instrumental brasileiro, Hermeto Pascoal, filmado no sertão alagoano, lugar onde nasceu e de onde vem suas primeiras referências sonoras.

A Mostra Competitiva, que conta com Júri oficial composto por Affonso Uchôa, Carina Bini, Heitor Augusto, Mariana Nunes e Sandra Kogut, traz o tão aguardado novo filme de Ruy Guerra, “Fúria”, A Fúria, conclusão de sua trilogia política iniciada com o clássico “Os Fuzis” (1964) e “A Queda” (1977). Já “Suçuarana”, de Sérgio Borges e Clarissa Campolina, é sobre a retirante Dora em busca de trabalho e de uma terra antiga de sua mãe em uma região mineradora, até encontrar um vilarejo repleto de afeto e coletividade. Há ainda a a produção indígena “Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá”, de Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna, que relata sua busca pelo pai, Luis Kaiowá, de quem foi separada pela ditadura militar.

Há também o longa-metragem de estreia do diretor brasiliense Guilherme Bacalhao, “Pacto da Viola”, que traz grande elenco local para contar a história de um músico sertanejo que precisa ajudar o pai doente, um capitão de folia que tem uma dívida com os santos e demônios. Outro título é da diretora amazonense Christiane Garcia, que também faz sua estreia em longa de ficção com “Enquanto o Céu Não me Espera”. Estrelado por Irandhir Santos, o filme narra a história de um agricultor que luta contra as dificuldades climáticas em um pequeno sítio afetado pelas cheias dos rios da Amazônia. Já “Salomé”, de Pernambuco, é o segundo longa da carreira do diretor André Antônio, que se tornou uma referência do cinema queer brasileiro contemporâneo ao integrar o coletivo Surto & Deslumbramento. Aqui ele narra a história de uma jovem modelo que se apaixona por um rapaz envolvido em uma estranha seita, que cultua a sanguinária princesa bíblica Salomé.

O festival forma, ainda, o Júri do Prêmio Zózimo Bulbul, a conferir os troféus para os melhores filmes com temática afirmativa. O júri é montado a partir de indicações do Centro Afro Carioca de Cinema e da Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro – Apan, e em 2024 é composto por Aristótelis tothi, Vitor José Pereira e Larô Gonzaga. 

Tesouro Natterer

Na seleção de curtas da Mostra Competitiva, com o Júri Oficial formado por Lila Foster, Mirella Façanha, Paola Malmann, Simone Zuccolotto e Thiago Costa, temos: “Inflamável”, do diretor estreante Rafael Ribeiro Gontijo; “Descamar”, dirigido pelo escritor, professor e curta-metragista Nicolau; “Confluências”, novo documentário da veterana cineasta e professora de cinema Dácia Ibiapina sobre o saudoso mestre quilombola Nêgo Bispo; “Javyju – Bom Dia”, estreia da cacica Kunha Rete, que divide a direção com Carlos Eduardo Magalhães; “Mãe de Ouro”, de Maick Hannder; Yuri Costa traz “E Seu Corpo é Belo”; Samuel Lobo e Rodrigo de Janeiro apresentam o documentário “Dois Nilos”; Antonio Fargoni, que idealizou o movimento do Cinema Instantâneo, apresenta “E Assim Aprendi a Voar”; “Kabuki”, única animação da competição, realizada em stop motion pelo premiado quadrinista e curta-metragista Tiago Minamisawa; “Chibo”, dirigido por Gabriela Poester e Henrique Lahude; “Maremoto”, de Cristina Lima e Juliana Bezerra; e “Mar de Dentro”, de Lia Letícia. 

A Mostra Brasília – 26º Troféu Câmara Legislativa, com o Júri composto por Antonio Grassi, Catarina Accioly e José Delvinei, traz os filmes: Tesouro Natterer, de Renato Barbieri; “Nada”, de Adriano Guimarães; “Manual do Herói”, de Fáuston Silva; Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão exibem pela primeira vez no Brasil o documentário “A Câmara”. Do lado mais experimental, estão os documentários “Caravana da Coragem”, de Pedro B. Garcia; “A Sua Imagem na Minha Caixa de Correio”, de Silvino Mendonça; e a ficção “Cemitério Verde”, de Maurício Chades. Há ainda Clarice Cardell, com a animação “Kwat e Jaí – Os Bebês Heróis do Xingu”; Rafael Lobo volta com “Xarpi”, João Campos com “Via Sacra”; e os irmãos Diego e Danilo Borges com seu segundo trabalho, “Manequim”.

Na Mostra Caleidoscópio, que conta com júri especial formado por Adirley Queiróz, Sara Silveira e José Geraldo Couto, nova mostra competitiva do festival com prêmios próprios, cinco títulos destacam trabalhos que desafiam os olhares dos espectadores do Festival de Brasília pela maneira como se aproximam de temas e universos surpreendentes, através de um ponto de vista inquieto e criativo de seus realizadores e realizadoras. “Trópico de Leão”, de Luna Alkalay; “Future Brilliant”, Abílio Dias; “Topo”, de Eugenio Puppo; “Palimpsesto”, de André Di Franco e Felipe Canêdo; “Filhas da Noite”, Henrique Arruda e Sylara Silvério. 

A Queda do ceu

Não competitiva, a mostra A Formação dos Brasis reúne quatro documentários que ajudam a entender aspectos formadores da cultura e da sociedade brasileira. As produções apresentam retratos de grandes artistas fundamentais, seja através de figuras históricas importantes a quem a historiografia oficial não deu a devida importância, seja por uma reflexão sobre a realidade contemporânea nas escolas secundárias brasileiras, que formam os Brasis de amanhã. “Fotógrafo das Lentes Nuas”, de Miguel Freire, abre as exibições desta mostra, com uma homenagem ao mestre Luiz Carlos Barreto; Ana Carolina Soares exibe “Ausente”; Mariana Jaspe apresenta “Quem é Essa Mulher?”; e “Brasiliana: a história do musical negro”, de Joel Zito Araújo. 

A seleção da mostra Festival dos Festivais traz pela primeira vez em solo brasiliense alguns dos mais comentados filmes brasileiros: Apocalipse nos Trópicos, de Petra Costa, Kasa Branca, de Luciano Vidigal; A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha; e Oeste Outra Vez, de Erico Rassi. Já as sessões especiais, quatro títulos complementam as exibições. O clássico “Xica da Silva”, de Cacá Diegues, ganha exibição única em homenagem aos 80 anos de Zezé Motta. André Luiz Oliveira também exibe um clássico, “Meteorango Kid: Herói Intergalático” (1969) em cópia restaurada e ainda inédita e “Procura-se Meteorango Kid – Vivo ou Morto” (2023), de Marcel Gonnet, em homenagem ao clássico do diretor candango. Há também “E Sinfonia da Sobrevivência”, de Michel Coeli. No Festivalzinho, sete obras foram selecionadas entre as 153 infantis inscritas na seleção do evento. São três longas e quatro curtas-metragens, exibidos no Cine Brasília e nas RAs para escolas públicas e em sessões abertas. Entre os exibidos estão “Abá e sua Banda”, de Humberto Avelar, “Marraia”, de Diego Scarparo, “Joãozinho – o filme”, do candango Faustón da Silva, e “A Menina e o Flautista”, de Lara Dezan.

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