Tudo Sobre Guerreiros do Sol em Recife

Guerreiros do Sol em Recife

Tudo Sobre Guerreiros do Sol em Recife

Globoplay faz evento durante o Festival Cine PE para lançar a ótima adaptação para as telas de Guerreiros do Sol

Por Clarissa Kuschnir

Durante a minha estadia no Recife para cobrir o Cine PE – Festival do Audiovisual 2025 (leia minha cobertura aqui), tive a oportunidade de participar do evento que lançava oficialmente a novela original da Globoplay “Guerreiros do Sol”, na sede da Rede Globo da capital pernambucana. Para mim, esta obra é muito mais que uma novela, pois o conteúdo se aproxima muito mais da linguagem cinematográfica do que da televisiva. Sim, sem dúvidas, no fundo tudo é audiovisual vislumbrado nesse hibridismo, nos tempos atuais. Não é ruim, pelo contrário, pois contempla um número muito maior de espectadores nas telinhas.

Para quem não sabe, “Guerreiros do Sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil” é o título do livro do escritor, historiador e advogado Frederico Pernambuco de Mello, considerado o maior especialista em cangaço no país. Eu, que sempre tive um fascínio enorme pelo assunto e nos festivais de cinema pelo Nordeste, pude conhecer de perto a Grota de Angico no Sertão de Sergipe, local da emboscada que resultou na morte de Lampião, Maria Bonita e mais uma parte de seu bando de cangaceiros. E no cinema tenho meus longas-metragens de cabeceira que são: “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (de Glauber Rocha); “Baile Perfumado” (de Lirio Ferreira e Paulo Caldas); “Corisco & Dadá” (de Rosenberg Cariry), e os mais recentes “Sertânia” (de George Sarno) e o documentário lançado, nas últimas semanas, em circuito comercial, “Lampião, o Governador do Sertão“, de Wolney Oliveira, que inclusive traz depoimentos de familiares de Lampião.

Em “Guerreiros do Sol” adaptado para a TV, George Moura em parceria com Sergio Goldberg criam um ficção baseada na vida de Lampião e Maria Bonita, sendo que os protagonistas levam os nomes de Rosa (Isadora Cruz) e Josué (Thomás Aquino). No evento estavam presentes: George Moura, o diretor artístico Rogério Gomes, Juliana Castro (produtora), a atriz Isadora Cruz e os atores ítalo Martins e Vitor Sampaio.

A novela tem 45 capítulos e está na plataforma da Globoplay desde o dia 11 de junho. Todas as semanas entram 5 capítulos (a mesma estrutura que a novela “concorrente” “Beleza Fata” adotou). Já as gravações segundo a produtora Juliana Castro foram realizadas em sete meses e com parte do elenco indo antes para conhecer o universo do sertão. A produção esteve em locais onde muitas pessoas não acessam e com uma equipe de 150 pessoas em Canudos, Paulo Afonso, Água Branca e Piranhas.

“Foi envolvida muita logística, preparação porque tivemos que adentrar e respeitar essa natureza de uma maneira correta e que pudesse proporcionar equipamentos e infraestrutura e os recursos necessários. Foi um grande desafio. Vocês assistindo hoje um capítulo da novela, terão dúvida se é o sertão ou tudo o que preparamos no Rio, pois também fizemos um sertão no Rio De Janeiro, com uma direção de arte maravilhosa da nossa equipe. Então o link que conseguimos do que é o sertão e o que ficou no Rio é também muito interessante. É um realismo muito importante que nós imprimimos”, disse Juliana.

George ainda complementou que tem mais planos, dando exemplo do primeiro capítulo inicial em que o primeiro plano está no sertão e o seguinte com o mesmo ator em movimento, dentro dos estúdios. “É um plano que em segundos se distancia em três mil quilômetros, e alguns meses”, disse o autor e o diretor Rogério Gomes. E complementou: “O elenco já veio preparado, viemos com uma representatividade do elenco nordestino que traz essas raízes, sotaque e a histórias nas costas. Então, eu tive uma facilidade muito grande em relação a isso, porque 60 % do elenco é nordestino. Então, isso está estampado em Guerreiros do Sol, quando se assiste”.

Guerreiros do Sol em Recife

E sim, eu já tive a oportunidade de assistir a seis episódios (o sexto foi passado aos jornalistas com exclusividade no evento, antes de entrar no canal) e o que se vê na tela, além de uma fotografia solar deslumbrante, há também uma direção de arte e figurino à altura e uma entrega total dos atores.

“Era realmente um figurino muito complexo que a gente pode explorar naquele calor. Tivemos o episódio na Grota de Angico que foi muito forte. E para mim esse momento trouxe a gente para um entendimento da seriedade do compromisso que estávamos assumindo. Não estávamos só contando uma história. Estávamos honrado consciências da vida real que estavam ali presentes. E a gente precisava pedir uma licença e entrar com muita humildade nesta história, para poder retratar da melhor forma possível. Então eu acho que essa hora que chegamos na gruta caiu a ficha, da importância e seriedade deste trabalho”, disse Isadora Cruz.

Sobre a preparação do elenco Isadora Cruz disse que passou alguns dias no sertão usando as roupas de cangaceiros para que pudesse vivenciar a personagem. Para entender que corpo e que indumentária os Cangaceiros levavam.

“A Rosa na verdade estava mais próxima da Dadá nas suas versões, do que da própria Maria Bonita, porque ela ia para a frente de batalhas. Ela era muito guerreira e a Maria Bonita na vida real, nunca deu um tiro. Então ela virou esse mito de uma mulher forte, guerreira e batalhadora, mas ela não tinha essa força de guerrilhar mesmo, que a Dadá tinha e que a Rosa tem”, complementou Isadora Cruz sobre sua protagonista.

E essa é a graça das livres adaptações: poder transformar personagens da vida real para a ficção. E Isadora disse que leu diversas obras sobre as mulheres no Cangaço. Sem contar que por ela ser nordestina sentiu estar acessando uma ancestralidade das mulheres sertanejas que vieram antes dela, como a avó, bisavó, tataravó, ou seja, uma geração de mulheres fortes e batalhadoras que existiram antes dela. E isso de uma certa forma ela sentiu que estava curando e ressignificando de todas a mulheres para hoje ela estar vivendo de arte.

“Minha avó queria ser atriz de Hollywood e quando tinha 14 anos ela mandou uma carta endereçada para Hollywood. Então acho que foi muito forte. É uma luta de mulheres tentando encontrar uma voz e de mulheres que foram apagadas da história”, finalizou Isadora.

“Todo esse cenário que é o Sertão que é extremamente rico não tem como isso não ajudar na composição dos personagens. Foram cenários muito incríveis para carregar para a vida. Tivemos uma parte dos cenários no Rio de Janeiro, mas o sertão é sertão. A energia, o calor e os mosquitos, tudo estava compondo ali”, disse Ítalo Martins, que faz o papel de Milagre, um dos cinco irmãos que fazem parte do bando de cangaceiros que se juntam para vingar a morte do pai.

Sobre as inspirações de Vitor que faz o personagem de Sabia, também um dos irmão de Josué, disse que quando fez o teste, ele leu o livro Guerreiros do Sol e todas as referências sobre o Cangaço. E que sua personagem nasceu do encontro com irmãos. “Pegando uma coisa específica da personagem que é ele ser cordelista esse foi o meu maior desafio, pois eu não tinha uma referência de um cordelista. Eu acabei trocando experiências com um rapaz aqui de Pernambuco, que no Irandhir (Santos) me passou e ele foi uma fonte de conteúdo sobre o cordel”.

Além de Isadora Cruz, Thómas Aquino, ítalo Martins e Vitor Sampaio, o elenco de “Guerreiros do Sol” complementa-se com Irandhir Santos, Alice Carvalho, Marcélia Cartaxo, Aline Moraes, Nathalia Dill, José de Abreu, Daniel Oliveira, Alexandre Nero, Luis Carlos Vasconcelos, Carla Salle, Allan Jacinto Santana, Cadu Libonati, Claudio Jaborandy, Danilo Grangheia, Enio Cavalcante, Gustavo Machado, João Fontenele.

Um grande elenco em mais uma obra feita com muito cuidado, fazendo a gente ficar imersa ali com uma história que é parte de nossa cultura tão brasileira e tão cheia de diversidade, ao sair da realidade do Cangaço que fascina e gera curiosidade a tantas pessoas, e sem deixar de lado a visão crítica e o contexto político da época, principalmente nas lutas femininas. A novela também passa na Globoplay Novelas, novo nome do Canal Viva.

Apoie o Vertentes do Cinema

Deixe uma resposta