Tudo Sobre a 18ª edição do CineOP 2023
De 21 e 26 de junho acontece a maior referência nos festivais brasileiros por ser o “único evento a enfocar o cinema como patrimônio, preservação, história e educação”
Por Vitor Velloso (baseado no release oficial)
A Mostra de Cinema de Ouro Preto, pioneira desde sua criação em 2006, chega a sua 18a edição, sendo a maior referência no calendário de festivais brasileiros por ser o “único evento a enfocar o cinema como patrimônio, preservação, história e educação”.O evento acontece entre 21 e 26 de junho e possui programação inteiramente gratuita.
A programação está estruturada em três temáticas – preservação, história e educação e será realizada na Praça Tiradentes e no Centro de Artes e Convenções e prevê exibições de filmes em pré-estreias nacionais e retrospectivas, homenagens, seminário, debates, oficinas, sessões cine-Escola, Mostrinha de cinema, exposições, cortejo, shows musicais e atrações artísticas e, ainda, a realização do 18º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e do Encontro da Educação: XV Fórum da Rede Kino – Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual ocupam o cenário da histórica Ouro Preto. Toda programação é oferecida gratuitamente para um público estimado em mais de 20 mil pessoas.
A CineOP 2023 terá cobertura, in loco, deste vertenteiro. Estarei presencialmente em Ouro Preto, durante todo período, à convite da Mostra. Leia também a cobertura de 2021 e 2020.
Serão exibidos 125 filmes em pré-estreias e mostras temáticas – (30 longas, 9 médias e 86 curtas-metragens), vindos de 5 países (Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, EUA) e de 14 estados brasileiros ( AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, PB, PR, RJ, RN, RS, SC, SP) distribuídos em nove mostras – Contemporânea, Homenagem, Preservação, Histórica, Educação, Valores, Mostrinha e Cine-Escola.
A grade, em seis dias de atrações e exibições, ainda será acompanhada de debates, diálogos, rodas de conversa e atividades que dialogam direto com a experiência dos filmes. As exibições vão ser no Centro de Artes e Convenções e na Praça Tiradentes, tudo com entrada gratuita. Além das sessões presenciais, o público poderá assistir a filmes na plataforma do evento – cineop.com.br, na plataforma do Itaú Cultural Play, na TV UFOP e no Canal Educação, ampliando as janelas de exibição para quem não puder estar em Ouro Preto.
MOSTRA HISTÓRICA
Sob o recorte “Imagens da MPB (Música Preta no Brasil)”, a Temática Histórica enfatiza a presença da criação musical de artistas pretas e pretos nas trilhas sonoras e nos elencos dos mais variados filmes. A curadoria de Cleber Eduardo e Tatiana Carvalho Costa buscou colocar as sonoridades pretas em evidência dentro de contextos históricos e culturais nos séculos XX e XXI como formas de invenção de universos populares. A ascensão do soul, a chegada do funk e vários outros momentos importantes dessa trajetória estarão representados numa série filmes.
Entre eles, o filme de abertura da CineOP, na noite de 22 de junho, dá o ritmo: “Baile Soul”, de Cavi Borges, documenta um período entre anos 1960 e 70 quando as equipes de som realizavam bailes blacks em centenas de clubes espalhados pelo subúrbio do Rio de Janeiro, dando origem ao movimento “Black Rio”. O fenômeno colaborou para a consolidação do movimento negro em todo o país. Tony Tornado, ator e cantor, homenageado este ano pela Mostra, teve participação fundamental nesse processo e aparece no longa-metragem.
“A ideia do filme surgiu por causa de um prêmio que eu ganhei para fazer uma série sobre Black Music, que englobaria o Soul, o Funk, o Charme e o Hip Hop. Cada episódio ia para um movimento. E no meio do processo, desde antes da pandemia, descobri o universo da Soul Music, que no Brasil durou uma década, de 1969 a 1978. Foi um fenômeno que deu origem aos bailes, que atraíam mais de um milhão de pessoas em vários lugares do subúrbio. O material era muito rico e percebi que dava para fazer um filme. E assim nasceu, quatro anos depois. Essa história ainda não tinha sido contada. O Clementino Junior fez “O Trem do Soul”, mas antes não tinha nenhum registro, até as fotos eram raras. Eu mostrei o filme ao Luciano Vidigal e ao Bruno Rodrigues e eles não conheciam a história. “Baile Soul” é um documento com depoimentos inéditos, que registra uma época, um movimento, uma galera, uma geração. É histórico. Os bailes começaram como entretenimento e diversão, mas se tornaram uma semente do movimento negro, de luta contra o racismo, de preservar essa cultura musical e de tudo que a gente vive hoje”, disse o diretor Cavi Borges ao Vertentes do Cinema.
Outros títulos da Mostra Histórica resgatam especialmente grandes nomes da música, mas não sob o viés hagiográfico ou apenas biográfico, como destaca a curadora Tatiana Carvalho Costa: “A proposta é de fabulação preta nos filmes, de arte reformuladora e inventiva, tendo a música como afirmação de um modo de vida e de uma vitalidade existencial e coletiva não apenas no mundo, como também no cinema”.
Clássicos como “Rio Zona Norte” (Nelson Pereira dos Santos, 1957) e o raro “Uma Nêga Chamada Tereza” (Fernando Coni Campos, 1973) dividem a programação com títulos contemporâneos, entre eles “Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor” (Alfredo Manevy, 2022), “Paulinho da Viola: Meu Tempo é Hoje” (Izabel Jaguaribe, 2003) e “Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei” (Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, 2008).
Para a celebração a Tony Tornado, além da abertura com “Baile Soul”, a CineOP exibe mais um clássico, “Quilombo” (Carlos Diegues, 1984), no qual interpreta a figura histórica de Ganga Zumba, líder de Palmares e de uma revolta dos escravizados contra a opressão dos brancos que se confronta com o herdeiro e afilhado Zumbi.
MOSTRA CONTEMPORÂNEA
Os filmes da Mostra Contemporânea são assinadores pelos curadores Cleber Eduardo (longas e médias), Camila Vieira (longas e médias) e Tatiana Carvalho Costa (curtas). Ainda que não seja essencial, a presença de trabalhos com pensamentos em torno de arquivos ou de reflexões sobre o passado aparecem bem evidentes na Mostra, devido a seu caráter de valorizar a preservação e o debate sobre o presente a partir do olhar para a história. Além disso, a temática também afetou a escolha de alguns títulos, em especial a relação com a música.
“Há um enfoque em filmes que lidam com memória, com arquivos, com a relação do presente e do passado. Também se buscou obras que tivessem força de experiência e irradiação na versão presencial do evento”, diz Cleber Eduardo. Entre os selecionados em longa-metragem, estão retratos documentais de figuras importantes da cultura brasileira, casos de “Diálogos com Ruth de Souza”, de Juliana Vicente; “Lô Borges: Toda essa Festa”, de Rodrigo de Oliveira; e “Antunes Filho: Do Coração para o Olho”, de Cristiano Burlan.
Para além dos retratos, filmes como “Amanhã”, de Marcos Pimentel; “Caixa Preta”, de Saskia e Bernardo Oliveira; “Filme Particular”, de Janaina Nagata; e “Zé”, de Rafael Conde, reconfiguram imagens de arquivo para reinterpretareme refletirem acontecimentos e relações que, num grande conjunto, formam uma história oculta do Brasil. O cinema em si mesmo é também tema de alguns trabalhos, casos de “Confissões de um Cinema em Formação”, de Eugenio Puppo, e “O Cangaceiro da Moviola”, de Luís Alberto Rocha Melo.
Os curtas-metragens seguem caminho semelhante, equilibrando-se entre filmes mais conceituais a outros de relação imediata com o espectador – nos dois casos, a relação com as imagens de ontem e de hoje são fundamentais. Alguns dos títulos são “Nada Haver”, de Juliano Gomes; “A Jornada do Valente”, de Rodrigo de Janeiro; “Nossa Mãe Era Atriz”, de André Novais Oliveira e Renato Novaes; e “Temos Muito Tempo para Envelhecer”, de Bruna Schelb Corrêa.
Além disso, uma programação exclusiva de cinco curtas-metragens foi selecionada para ser exibida na TV UFOP, numa parceira da Mostra com a universidade.
MOSTRA PRESERVAÇÃO
Os filmes da Mostra Preservação expandem as atividades dos Encontros de Arquivo, que este ano vão debater o Plano Nacional de Preservação e ainda reflexões uma série de questões surgidas a partir da temática “Patrimônio Audiovisual Brasileiro em Rede”, proposta pela curadoria de Fernanda Coelho e Vitor Graize.
O “case de preservação” esse ano é o clássico “Rainha Diaba” (Antônio Carlos da Fontoura, 1974), que tem circulado numa nova cópia e feito bastante sucesso inclusive em circuito comercial. Outros filmes trafegam pelo retrato reflexivo tal como alguns da Mostra Contemporânea, retrabalhando os arquivos para uma nova sobrevida, como o ensaio audiovisual “Ligya Pape”, de Paula Gaitán; “Perto de Clarice”, de João Carlos Horta; e “Mira, um Imigrante”, de Rubens Gerchman e João Carlos Horta.
A Rainha Diaba (Ficção | Colorido | Digital | 99 min | RJ | 1974 | Direção: Antonio Carlos da Fontoura). Exibição da nova versão digital do clássico de Antonio Carlos da Fontoura, recentemente digitalizado a partir dos negativos em 35mm preservados no Arquivo Nacional e de uma cópia 35mm preservada pelo Centro Técnico Audiovisual (CTAv). Estrelado por Milton Gonçalves, A Rainha Diaba é um marco do cinema da década de 1970 que completa 50 anos em 2023 e uma referência importante para o cinema queer brasileiro. Nesta edição da CineOP, o público terá a oportunidade de assistir ao filme e debater o processo de digitalização da obra com o diretor e a equipe técnica que coordenou o trabalho.
Um programa especial da Mostra Preservação em 2023 é a sessão do Brazilian Film and Video Preservation Project (BFVPP), iniciativa de preservação do Ostrovsky Family Fund (OFF) dedicada a salvaguardar imagens em movimento realizadas de 1960 até 1984 ligadas à arte contemporânea e à videoarte e que tenham usado diferentes suportes (filme super-8, U-matic, 1/4 de polegada, dentre outros). Será exibido o filme dedicado à artista plástica Anna Bella Geiger, realizado dentro do projeto com direção de Sônia Andrade.
MOSTRA EDUCAÇÃO
Na temática “Cinema e educação digital: Deslocamentos”, as curadoras Adriana Fresquet e Clarisse Alvarenga põem em destaque os desafios das redes e da tecnologia no processo de ensino e aprendizado. Desafios tanto em termos de novos ganhos e possibilidades quanto em riscos e vulnerabilidades provocados por uma realidade cada vez mais virtualizada. Os filmes, muitos deles produzidos em ambiente de sala de aula ou de ensino, devem ilustrar em detalhes muito do que estará nos debates.
Um dos recortes adotados são os processos, educacionais ou de criação com o cinema, que se relacionam a uma aproximação com a terra. Projetos de educação audiovisual, de mídia e de comunicação que colocam as formas de produção em relação com outros seres vivos e com a política estarão no centro de algumas conversas e sessões. A relação da cultura digital com a produção também estará representada em vários trabalhos de alunos e professores, apresentados ao longo do evento.
MOSTRA VALORES
A Mostra Valores é o espaço da programação da 18a CineOP planejado para valorizar e destacar filmes, projetos, ações e personalidades de Ouro Preto que fazem a diferença na cena da cidade, em Minas Gerais e no Brasil. Para edição, foi escolhido para integrar este recorte de programação, o filme mineiro “As Linhas da Minha Mão”, de João Dumans, que foi o título vencedor de melhor longa-metragem da Mostra Aurora na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes realizada em janeiro de 2023. Um documentário sensível, que aposta no corpo, na voz e no carisma de sua personagem para falar de afetos, vivências, saúde e relações urbanas.
O prêmio foi concedido pelo Júri Oficial, formado por críticos, pesquisadores e profissionais do audiovisual. No texto de justificativa, apontou-se, entre os méritos do “As Linhas da Minha Mão”, “um cinema que convida a desenquadrar o sujeito para além de uma categoria, de conceito ou signos fechados. O quadro se torna a abertura de uma pessoa que a todo momento desafia a noção de bordas, expande limites e se prova uma fabuladora maior que a vida”.
João Dumans é roteirista, pesquisador, montador, realizador. E o público vai conhecer o premiado documentário que foi realizado e produzido na cidade de Ouro Preto.
CINE-ESCOLA E MOSTRINHA
Espaço de confraternização e aprendizado entre estudantes a partir do cinema, o Cine-Escola segue no objetivo de formação de novos públicos e olhares para a produção. As sessões, agendados diretamente pelas escolas da região de Ouro Preto, contêm curtas adequados para cada uma das faixas etárias montadas na seleção: entre 5 e 7 anos; de 8 a 10 anos; e entre 11 e 13 anos. A sessão Mostrinha tem objetivo similar, incluindo pais e familiares que estejam em Ouro Preto para poderem acopmpanhar a programação com os pequenos. Esse ano será a animação “A Ilha dos Ilus”, de Paulo G. C. Miranda, uma produção de Goiás.
SESSÃO VER OUVIR
Apresenta filmes que se relacionam, de maneiras distintas, com a trajetória e as obras de três importantes artistas. O desenhista e pintor Mira Herschmann (ou Gerchman) tem sua biografia e criações apresentadas pela dupla de diretores Rubens Gerchman, seu filho, e João Carlos Horta em Mira, um Imigrante (1903-1978). Horta, importante diretor e diretor de fotografia, falecido em dezembro de 2020, também assina Perto de Clarice, a partir de depoimentos de amigos e de uma entrevista concedida pela escritora Clarice Lispector à TV Cultura meses antes de sua morte. Os dois filmes foram recentemente digitalizados a partir de materiais preservados pelo Centro Técnico Audiovisual (CTAv), instituição pública que conserva um importante acervo de cinema brasileiro. A digitalização de Perto de Clarice foi realizada pelo Instituto Moreira Salles, enquanto a digitalização de Mira, um Imigrante (1903-1978) foi realizada pela família Gerchman. Encerra a sessão o média-metragem Lygiapape, da cineasta Paula Gaitán, gravado em Umatic, que parte das instalações da artista plástica Lygia Pape para recriar seu universo visual e sonoro em vídeo.
FILMES
Ligyapape (Documentário / Ficção | P&B | Digital | 42 min | 1991 | RJ – Direção: Paula Gaitán)
Mira, um imigrante (Documentário | Colorido | 35MM | 8 min | 1979 | RJ – Direção: Rubens Gerchman e João Carlos Horta)
Perto de Clarice (Documentário | Colorido | Digital | 13 min | 1982 | RJ – Direção: João Carlos Horta)
SESSÃO BRAZILIAN FILM & VIDEO PRESERVATION PROJECT | ANNA BELLA GEIGER
Apresenta obras da artista Anna Bella Geiger restauradas pelo projeto de preservação Brazilian Film and Video (BFVPP), iniciativa focada na produção brasileira de filmes e vídeos de arte do período 1960 a 1984. As obras de Geiger apresentadas neste programa, datadas da década de 1970, foram produzidas em vídeo (Centerminal, Passages I e Local da Ação) e em portapak (Declaração em Retrato I), sistemas de gravação que revolucionaram a arte. Estas obras são complementadas, no programa, pelo documentário Anna Bella Geiger (2023) dirigido por Vivian Ostrovsky, que contextualiza as obras na carreira da artista e no cenário artístico e político brasileiro, em meio à Ditadura Civil-Militar.
FILMES
Anna Bella Geiger (Documentário | Colorido | Digital | 25 min | RJ | 2023 – Direção: Vivian Ostrovsky)
Centerminal (Videoarte | Digital | 2min | P&B | RJ | 1974 – Direção: Anna Bella Geiger)
Declaração em Retrato (Videoarte | Digital | 16min | P&B | RJ | 1974 – Direção: Anna Bella Geiger)
Local da Ação (Videoarte | Digital | 2min | Cor | RJ | 1978 – Direção: Anna Bella Geiger)
Passagens (Videoarte | Portapak | 12min | P&B | RJ | 1974 – Direção: Anna Bella Geiger)
SESSÃO MUSEU DA MARÉ
Três obras do acervo do Museu da Maré, no Rio de Janeiro. Fundado em 2006, o Museu tem uma importante coleção de documentos sobre a história do Rio de Janeiro e dessa comunidade, como o filme em Super 8 intitulado Rola-Rola na Maré. Rodado no mês de maio de 1977, apresenta as diversas paisagens do território e uma tecnologia de transporte de água potável desenvolvida pela comunidade. O documentário Joga a rede no mar: histórias e memórias dos pescadores da Maré, de 2011, detém-se sobre a relação da comunidade com a pesca artesanal. O Museu também realiza um projeto audiovisual intitulado Contos e Lendas da Maré. Um exemplo dessa produção é O Casamento na Palafita, um curta-metragem de ficção que reencena com humor uma das histórias da comunidade.
FILMES
O casamento na palafita (Documentário | Colorido | Digital | 14 min | RJ | 2021 – Direção: Camila Moura, Frazão Luz e Jefferson Melo)
Joga a rede no mar: histórias e memórias dos pescadores da Maré (Documentário | Colorido | Digital | 35 min | RJ | 2011 – Direção: Studio Line filmes em cooperação com Museu da Maré/CEASM)
Rola-Rola na Maré (Documentário | Colorido | Digital | 12 min | 1977 – Direção: Jairo Costa)
FILMES DA MOSTRA HISTÓRICA
Baile Soul (Documentário | Colorido | Digital | 80 min | 2023 | RJ – Direção: Cavi Borges) Filme de abertura
LONGAS
Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor (Documentário | Colorido | DCP | 96 min | SP | 2022 – Direção: Alfredo Manevy)
Paulinho da Viola, meu tempo é hoje (Documentário | Cor | Digital | 83min | RJ | 2003 – Direção: Izabel Jaguaribe)
Rio Zona Norte (Ficção | P&B | Digital | 86min | RJ | 1957 – Direção: Nelson Pereira dos Santos)
Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei (Documentário | Colorido | Digital | 84min | RJ | 2008 – Direção: Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal)
Sou Feia, Mas tô na Moda (Documentário | Cor | Digital | 60min | RJ | 2005 – Direção: Denise Garcia)
Trem do Soul (Documentário | Cor | Digital | 83min | SP | 2021 – Direção: Clementino Jr.)
Uma Nêga Chamada Tereza (Ficção | Colorido | Formato original 35mm | 80min | SP | 1973 – Direção: Fernando Coni Campos)
CURTAS
A Voz e o Vazio: A Vez de Vassourinha (Documentário | P&B e Colorido | Formato original 35mm | 16min | SP | 1998 Direção: Carlos Adriano)
Alma no Olho (Experimental | P&B | Formato original 35mm | RJ | 11min | 1973Direção: Zózimo Bulbul)
Aniceto do Império em dia de alforria (Documentário | Cor | Digital | 11min | RJ | 1980 Direção: Zózimo Bulbul)
As Mina do Rap (Documentário | Cor | Digital | 14min | SP | 2015 Direção: Juliana Vicente)
Brasilianas: Cantos de trabalho – Música Folclórica Brasileira (Documentário | P&B | Formato original 35mm | 10min | MG | 1955 Direção: Humberto Mauro)
Elekô (Ficção | Colorido | Digital | 6min25 | RJ | 2015 Direção: Coletivo Mulheres de Pedra )
Gurufim na Mangueira | Ficção | Cor | Original 35mm | 26min | RJ | 2000 Direção: Danddara
Inocentes 30 anos | Documentário | Cor | Digital | 29min | SP | 2011 Direção: Carol Thomé
Nelson Cavaquinho | Documentário | P&B | Original 35mm | 14min | RJ | 1969 Direção: Leon Hirszman
Nelson Sargento | Documentário | Cor | Original 35mm | 21min | RJ | 1997 Direção: Estevão Ciavatta
Partido Alto | Documentário | Colorido | Digital | 22min | RJ | 1982 Direção: Leon Hirszman
Tim Maia | Documentário | Cor | Digital | 15min | RJ | 1984 – Direção: Flávio Tambellini
Trangressão Parte II (Vídeoclipe | Colorido | Digital | 4min3 | SP | 2020 Direção: Jup do Bairro, Felipa Damasco e Rodrigo de Carvalho)
MOSTRA HOMENAGEM
TONY TORNADO
Tony Tornado – nascido Antônio Viana Gomes – é paulista de Mirante do Paranapanema e sua história e imagem se fundem com o que compreendemos como parte substancial do Cinema Brasileiro e da Música Preta do Brasil. Aos 93 anos, sua trajetória foi de um menino em situação de rua no Rio de Janeiro nos anos 1940, a engraxate, paraquedista do exército e lutador de boxe. Teve uma atuação controversa no submundo do Harlem, em Nova York, nos anos 1960, e se estabeleceu como um dos precursores do movimento da black músic brasileira inspirada na luta pelos direitos civis, tornando-se, logo na sequência, um dos rostos negros mais conhecidos da TV e do cinema, mesmo sem ter sido protagonista em grandes produções. Incansável, Tornado é a síntese do trabalhador da imagem, numa rara longevidade que revela a complexidade e os paradoxos da presença negra nas telas e na cultura brasileira.
A Mostra Contemporânea da CineOP em 2023 conta com oito filmes em sessões presenciais e dez filmes em sessões online. A soma dos 18 títulos, 16 longas e dois médias metragens, têm algumas ênfases, alinhavadas com as prioridades da CineOP. São filmes imbuídos da valorização da memória, do uso dos arquivos visuais, audiovisuais e sonoros, da palavra como instrumento de atualização do passado, às vezes centrados em pessoas, em lugares, em situações históricas, em revelações, investigações e ocultamentos. Treze dos 18 filmes lidam, de modos distintos, de maneira menos ou mais direta, com áreas da cultura, com arte e artistas, do teatro, da televisão, da música, do cinema e da dança. Em parte, isso pode ser visto como uma das tendências documentais de nossa produção no país: reverenciar a própria arte e cultura brasileiras. Menos ou mais legitimadas.
Em um ano cuja Temática Histórica está centrada nas imagens da música preta no Brasil, músicos e músicas – não só de pessoas negras – estão mais evidentes como universos e como vivências dos filmes, com cinco títulos encarregados de lidar com diversos ângulos de suas manifestações. Também há filmes que, sem lidar diretamente com a arte, lida com a arte de viver e de sobreviver, seja em razão da condição social, seja em virtude da circunstância política e histórica. Esse conjunto é um interessante e rico recorte sobre as maneiras, nunca homogêneas, que o cinema brasileiro olha para seu passado e produz memória com esses olhares. A importância da palavra, maior expressão de memórias pessoais e coletivas desses filmes, não é exclusiva, mas certamente primordial. No começo, havia a palavra e, por meio dela, uma memória.