Mostra Sessões Especiais Mais uma Edicao

Trolls 2

A música como poder de união

Por Fabricio Duque

Trolls 2

Em 2016, os “Trolls” da Dreamworks Animation passaram a mensagem de que a alegria, com purpurina e música pop, só acontece pela diversão intermitente do “cantar, dançar e abraçar”. Quatro anos depois, a continuação da vila colorida encontra a diversidade dos gostos (para unir e não separar) quando Poppy (agora a Rainha Pop) reverbera coragem ao desbravar o mundo com o intuito de agregar a igualdade de cores, estilos musicais e formas existenciais. Neste, “Trolls 2 – World Tour” (integrante dos 25 anos da Dreamworks) descobre-se que há novas vidas além de sua “caverna platônica” e que a “vibe triste” das canções lamentosas do Sertanejo é mais que possível para se viver em harmonia, apesar das diferenças, que criam confrontos entre essas tribos, à moda de outros filmes “concorrentes”, como “Divertida Mente” e “Procurando Nemo”, da Disney-Pixar.

“Trolls 2 – World Tour” conduz sua narrativa por dois artifícios embrionários: o visual como uma explosão de cores e “fofuras” (destinado às crianças) e os aprofundamentos filosóficos de auto-ajuda empírica (aos adultos), cujos aspectos amalgamados produzem a sensação terapêutica e direta de se estar entrando em uma terapia psicodélica. De sinestesia paralisante. De alimento às sinapses, gerando satisfação, endorfina, prazer, conflito e redenção em nossos córtex mais inacessíveis. Esse algoritmo mental é meta e objetivo para manipular nossos sentidos. Dito isso, o longa-metragem potencializa-se pelas músicas, apresentadas em performances, ora por medley pop anos setenta, oitenta e noventa, ora pela rave da eletrônica “One More Time”. Todas buscam significados de diversão espirituosa, especialmente quando “zoam” as características típicas de cada “tribo”, que chega ao K-Pop, Reggaeton e até do Jazz Suave (que deixa “molinho” até os mais “brutos”).

Ainda que o filme imprima uma fórmula já estabelecida (quase óbvia) no anterior, que é a quebra da seriedade do momento da cena com o humor awkward (de constrangimento desajeitado e irregular como a vida), aproximando-se assim da própria junção de doçura e amargura da vida de todos nós, e um roteiro menos apurado do primeiro, que se pauta mais na facilidade de suas reviravoltas (e de suas músicas, sem o mesmo impacto), ainda assim, “Trolls 2 – World Tour” é um amplo e plural manancial de referências radiofônicas e de metáforas, muitas das vezes, pela cacofonia, demonstrando o repertório de seus roteiristas ao observar com sagacidade e perspicácia os comportamentos humanos. Aqui, não há o maniqueísmo do bom e do mau. A Rainha do Rock não é uma “vilã” mimada, egocêntrica e manhosa (quase uma ditadora “Hitler do Heavy Metal” – que quer criar um mundo “regido pelo Rock”), e sim, uma troll com problemas de relacionamento, baixa auto-estima e necessidade de aceitação por uma carência solitária latente e entranhada, encontrando no poder uma fuga “solução” do medo da autorreflexão.    

“Trolls 2 – World Tour”, realizado por Walt Dohrn (que neste co-dirige com David P. Smith, e que co-dirigiu com Mike Mitchell o primeiro “Trolls”, e escreveu a série de curtas “Trolls: O Ritmo Continua”), é baseado na história “Good Luck Trolls”, criada por Thomas Dam, e conta neste com mais três roteiristas (Maya Forbes, Wallace (Wally) Wolodarsky, Elizabeth Tippet, além dos dois do “Trolls” anterior (Jonathan Aibel e Glenn Berger, estes também os roteiristas que adaptaram o conto original). Como foi dito, por mais que esta estrutura já possa soar “batida”, seus criadores conseguem encontrar novos “tesouros” para trabalhar. Há uma arqueologia da ressignificação. Uma antropologia moderna, condensando o coloquial ao tema universal. Dessa forma, nós espectadores somos imersos na procura incondicional dessa felicidade reinante e não binária dos ritmos harmônicos (clássico, rock, pop, eletrônico, funk, country), entre glitter, cores e novas possibilidades de identidade de gênero.

Em um estudo publicado na Ciência e Arte do G1, toda e qualquer música, independente de seu estilo, reverbera uma cadeia de sinais eletro-químicos no córtex auditivo. O som é analisado em relação ao tom, ritmo, volume, timbre, harmonia, localização espacial e ressonância, neurotransmitindo o “hormônio do prazer”. A repetição  do pop, por exemplo, permite que nossa mente crie uma visão abrangente da música. A percepção dos idosos de altas frequências diminui e as baixas frequências como o baixo e a bateria do rock – são ampliadas. Isso pode explicar a cena em que o pai de Barb (Rachel Bloom) cantarola mais o “pop grudento” que o rock. Mas também é contrastado o motivo de Poppy (Anna Kendrick) estar tão relutante em expandir gostos e confusa quando Branch (Justin Timberlake) analisa que a tristeza do sertanejo da Delta Dawn (Kelly Clarkson) cria uma melancolia boa. Para concluir, “Trolls 2 – World Tour” é também político pela força da democracia. De uma diplomacia-sinestesia. É um filme que respeita o “quadrado” de cada um, e, acima de tudo, encontra maneiras de condensar pela troca da “grande música” a união pacífica e compartilhada entre os povos.   

4 Nota do Crítico 5 1

Conteúdo Adicional

Pix Vertentes do Cinema

Deixe uma resposta