Top Gun: Maverick
Introdução à Imortalidade com Tom Cruise
Por Bernardo Castro
Festival de Cannes de 2022
Após quase quarenta anos de espera, a tão aguardada sequência do clássico dos anos oitenta chega aos cinemas. Um verdadeiro alento para os corações dos fãs apaixonados, a nova aventura se apossa de elementos do primeiro filme do cânone, uma das mais prolíficas obras cinematográficas do final do século passado, fazendo valer a demora. Com Joseph Kosinski na cadeira de direção, “Top Gun: Maverick” traz Pete ‘Maverick’ Mitchell, novamente interpretado pelo imortal Tom Cruise, de volta a ação. O longa marca a volta do ator às telas após um momento conturbado de sua carreira. Em 2020, Tom se envolveu com uma polêmica durante as filmagens do próximo filme da franquia Missão Impossível, onde foi acusado de agredir verbalmente membros da equipe de filmagem que descumpriam os protocolos sanitários, impostos em virtude da pandemia.
A continuação também marca a volta de parte do elenco original. Além de Tom Cruise, que também assina como coprodutor, Jennifer Connelly (“Uma Mente Brilhante”, “Réquiem para um Sonho” e “Construindo uma Carreira”) e Val Kilmer (“Val”, “Batman Eternamente” e “Kiss Kiss Bang Bang”) revivem os seus papéis originais. Novos atores compõem o elenco, acrescentando novos tipos e agregando nas interações com o protagonista. Dentre eles, os mais famosos são Miles Teller (“Whiplash”, “Divergente” e “Quarteto Fantástico”), que vive o filho do falecido Goose, e Jon Hamm (“Madmen”, “Baby Driver”, “Belas Maldições”) como o almirante Beau ‘Cyclone’ Simpson. As dinâmicas quase paternais entre Miles e Tom Cruise guiam a narrativa. Sem hesitar, Miles Teller mostra um pouco de seu talento já antecipado em “Whiplash”.
O uso constante de jargões e termos técnicos denota o aparentemente extenso trabalho de pesquisa acerca do funcionamento da Marinha norte-americana. Diferente da maioria das sequências recentes, o novo Top Gun não decepciona. Apesar das recorrentes homenagens à história pregressa, ele também não se escora no puro fanservice e tenta explorar novas possibilidades no universo da trama. As cenas de ação – o carro-chefe da realização – são estarrecedoras e, alguns ousariam dizer, revolucionárias. Compostas por frenéticas sequências de combate aéreo e manobras de incomensurável peliculosidade, é mister reconhecer a atratividade do longa, capaz de prender a atenção de qualquer espectador. A trilha sonora utilizada é a original do filme de 1986, servindo como uma espécie de resgate nostálgico e honrando os fãs mais fiéis.
Há uma tentativa de se manter a baixa resolução das câmeras antigas em determinados momentos; porém, combinado ao horizonte tremeluzente do porta-aviões e das bases aéreas, não há um choque muito grande entre estes e as câmeras de alta definição acopladas às aeronaves. Existem raros momentos em que efeitos especiais são utilizados, dando a primazia aos efeitos práticos – uma tentativa tom-cruisiana de manter a ação da história fidedigna. Como já foi dado a inferir, a fotografia é espetacular; observar os caças costurando pelos céus desperta a criança há muito tempo esquecida dentro de nós. O realizador ainda fecha “Top Gun: Maverick” com chave de ouro e consegue cativar com o frenesi que precede os últimos cinco minutos de desfecho.
Um dos maiores problemas no filme é a falta de representatividade feminina. Há um esforço duvidoso de incluir representantes de minorias étnicas, que não ganham muito destaque no enredo como todo – a eles, são delegadas poucas falas. No entanto, a participação efetiva de poucas atrizes femininas incomoda o público no geral. Monica Barbaro (“Chicago Justice”, “Chicago PD” e “Splitting Up Together”) interpreta a única participante do esquadrão de elite. Jennifer Connelly apresenta-se em uma condição estranha de subserviência para com a personagem principal. Na ideia de preservar a essência oitentista, acabaram por não se ater às dinâmicas sociais desse século.
No geral, “Top Gun: Maverick” não só obtém êxito na entrega de um fan-service de qualidade, como vai além, sendo um dos melhores filmes de ação já feitos nos últimos anos. A agitação extática facilita o envolvimento com o longa, ameniza a passagem do tempo e surpreende os adeptos da cinefilia mais céticos. Obviamente, como todo bom blockbuster, ele não traz consigo uma narrativa revolucionária ou agrega uma nova ideia de como se fazer cinema, visto que não tem essa pretensão. Porém, é taxativo ao acatar com a incumbência de entregar uma peça de entretenimento de qualidade direcionada às massas.