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The Death and Life of John F Donovan

Dramas meramente estéticos

Por Fabricio Duque

The Death and Life of John F Donovan

Durante o Festival do Rio 2009, após ter sido premiado no Festival de Cannes do mesmo ano (com três prêmios na mostra Quinzena de Realizadores), o público foi surpreendido com o filme “Eu Matei Minha Mãe”, de um diretor “prodígio” (termo cunhado à época), iniciante e ao mesmo tempo ainda adolescente (escreveu o roteiro aos dezessete anos). De lá para cá, o interesse só aumentou. Xavier Dolan imprimiu um estilo único que versa principalmente na estética pop-hipster-arthouse e no tema recorrente de histéricos surtos com a questão materna.

Quase dez anos depois, em 2018, “The Death and Life of John F. Donovan”, o longa-metragem sobre a morte e vida de um famoso ator conturbado e angustiado (de “planeta diferente”) com a impossibilidade de ser o que realmente é, surpreende de novo ao trazer um elenco de peso: Kit Harington (do seriado “Game of Thrones”, que aqui encarna o protagonista que dá nome ao título), Natalie Portman (que substituiu de última hora a atriz Jessica Chastain), Susan Sarandon, Kathy Bates, Thandie Newton, Ben Schnetzer (interpretando Rupert Turner com vinte e um anos) e Jacob Tremblay (ator de “O Quarto de Jack”, “Extraordinário” e neste o co-protagonista que também divide a função de roteirista com o diretor). Esta última informação pode explicar toda a forma como se assiste ao filme. 

“The Death and Life of John F. Donovan” corrobora outra característica de seu realizador canadense, ser um filme de atores. De momentos construídos. E finalmente (alerta de spoiler), resolver as “pendências sentimentais” com sua mãe (que assim se mescla em duas). Ainda que o espectador perceba o cuidadoso apuro técnico da tradução da imagem (linguagem conceitual de vanguarda pop existencialista com suas epifanias de tempo pausado), a obra em questão não consegue se sustentar, tudo por causa da fragilidade de seu discurso, mais histérico,  mais “pestinha”, ultrapassado, inocente e infantilizado, como a de uma criança mimada que “brinca” de ser adulta (achando-se persuasiva), mas não cresceu o suficiente e que ainda não possui a perspicácia defensiva dos “maiores”. Que ainda enxerga a mãe como “Bitch” e só falta bater a porta do quarto. Ah, mas tem o “eu te odeio”.

O longa-metragem é uma luxuosa embalagem de presente. Só que o que deveria ser aprofundado mantém-se no terreno da superficialidade. Dolan sempre atiçou o público com seu que blasé pretensioso, muito advindo da estrutura da Nouvelle Vague francesa e com um que bem modernizado (e jovem) de Denys Arcand. Mas neste o que captamos é apenas a ingenuidade. Um experimento que retrocede a própria liberdade já desenvolvida, talvez, não se sabe, por causa da tentativa de adentrar no mercado cinematográfico americano.

Como já foi dito, “The Death and Life of John F Donovan”, que se inicia com a frase do poeta naturalista  Henry David Thoreau (“Ao invés de amor, dinheiro e fama, me dê a verdade”), é um filme de atores, que podem mostrar toda a força de suas maestrias por monólogos compartilhados, como o “ensinamento” de Barbara Haggermaker, agente interpretada por Kathy Bates, e/ou os surtos-catarses do personagem de Jacob Tremblay (um fã incondicional, passional e admirador do ficcional ator famoso). E/ou nos mínimas expressões que explicam mais que palavras.

Contudo, os instantes também englobam tentativas de espontaneidade, que infelizmente se utiliza dos gatilhos comuns e confortavelmente padronizados (que soam como gratuitas incursões, forçadas, clichês e piegas, quase falsamente críveis): os olhares julgadores em um Set de filmagem, a dança na boate, o “esconderijo” no carro, o banho de banheira com a família, as conversas com o irmão, a chuva após a agressão, a sabedoria old-school de um “anjo de guarda”, a futilidade de descobrir o perfume do dia. Sim, a dosagem acabou tendendo muito para o lado da auto-ajuda. De cartas trocadas e indecifráveis anonimatos “vivendo a sobrevivência da intimidação” com um garoto britânico de onze anos e sugestão de pedofilia pela mídia.

Para John F. Donovan, com seu “sorriso sonhador”, que leva café a todos no Set, “cada coisa e pessoa é um risco”, uma impossibilidade de mostrar a verdade. É um ator que “precisa” esconder a homossexualidade para “agradar” o público e produtores. E às vezes, mesmo “sabendo que é sabotagem”, expõe um pouco a própria vida, como levar um “amigo” ao lugar de trabalho. Entre esnobes, sincronias, desvios, mau humores, mentiras, escapes, intolerâncias, digressões, que querem “pular os porquês”, o filme caí na própria “armadilha do rato” ao tentar “comer o queijo”, por exemplo quando “sensibiliza demais” a “arrogante” e impaciente repórter do Times (jornalista que “não quer sujar o nome fazendo artigo sobre atorzinho merdinha arrogante”), mas aguenta a dor quando a piada de Sid Vicious do início explica a morte do fim. E ou com a frase crítica “Atual hoje, atemporal amanhã”. Com a trilha sonora “Rolling in the Deep”, de Adele (Dolan dirigiu a artista no videoclip “Hello”), “Stand By Me” na voz de Florence + The Machine, “Bitter Sweet Symphony”, de The Verve, “The Death and Life of John F Donovan” é mais uma incursão ao universo indie, que aqui prefere a forma à complexidade de seu conteúdo, aumentando demasiadamente o tom dos dramas.

2 Nota do Crítico 5 1

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