Swingueira
No ritmo do Brasil que...
Por Vitor Velloso
Durante o Cine Ceará 2020
O Brasil e suas faces múltiplas que nem a objetiva é capaz de captar, segue como uma espiral em nossa cultura, onde a necessidade de reafirmar nossas regionalidades são mantidas como frente única para essa compreensão da brasilidade em si. “Swingueira” de Felipe de Paula, Bruno Xavier, Roger Pires e Fargo Gurjão é um documentário que busca na dança que dá título ao filme, algumas das questões mais honestas e sinceras de seus personagens, porém se atrapalha com alguns excessos.
A escolha da informalidade para guiar a estrutura do projeto, parece vir em boa mão, já que o exercício didático nortearia a projeção. Contudo, o longa passa a perder força conforme busca bases para se descolar de qualquer escola classicista de produção, aliando-se à sua forma, de forma consciente ou não. Desta maneira, “Swingueira” cai em quase todas as armadilhas que poderia, afim de articular a expressão como uma veia pulsante da cultura brasileira, nordestina, pois se alia às representações de grau comum. Ou seja, é uma estrutura pré-definida, demarcada, que estás a mirar a distribuição para a televisão (o que espero que consiga).
Mas as escolhas possuem um peso e a pluralidade vira o jogo para a monotonia. O filme fica refém de seus personagens, ansiando por momentos espontâneos. E se torna incapaz de construir tais situações, pois sua montagem está mais concentrada no ritmo da obra que na condução da estrutura. Logo, os nortes de uma conjuntura que pudéssemos recorrer à análise crítica dessas relações e vidas, daria lugar às suas emoções e relatos. Mas ainda assim, o longa não capta esses movimentos de desarme diante da objetiva, tanto quanto gostaria. É um exercício de “observação” onde a falta de intervenção, seja na condução ou na montagem, demonstra uma fragilidade em sua totalidade, soa falta de crença diante do próprio material.
“Swingueira” parece sofrer de excesso de apego à determinados trechos e planos, que acabam comprometendo seu desenvolvimento. Transformando parte do documentário em mera exposição formal e cultural de uma situação com estruturas densas, exploradas de maneira superficial nessa objetiva subjetiva que não se vê “enturmada” na própria temática. Quem sabe um excesso de paixão… O ponto é que seu desapego também aparece de forma ocasional e sem grandes monumentos a serem debatidos, pois a obra se despede de personagens que abandonam a narrativa sem grandes rodeios e parecem seguir para rumos que o documentário não comporta e não parece de grande interesse fazê-lo.
Mas a rebimboca da parafuseta perde o balaio no momento em que se permite a recusa de um debate em torno do impacto daquilo nas vidas de seus personagens, para além dessa paixão contaminante. Neste ponto, o filme acaba defendendo uma visão unilateral de suas perspectivas e despensa no próprio ritmo, concebendo uma longínqua representação, quase formulaica, de uma realidade social, econômica e política com impacto óbvio e expositivo na cultura, sem que haja uma assimilação concreta de diversas questões que são apresentadas. Por essas e outras o longa parece se fragmentar em uma colcha de retalhos, com costuras muito frágeis, que comprometem o resultado final do filme.
Seria o movimento do êxodo, o fim inevitável para os que se permitem e vivem para algo que a paixão move a partir de seus corpos? Estado bruto é aquilo que a burguesia anseia em ver para reformular seus fetiches tacanhos e viris em torno da cultura brasileira, para quem sabe debater em um bar de alta grife. O ponto é que o desenho se torna arquétipo expositivo, utilizando-se de dispositivos que pouco avançam em torno da representação que tanto procurar durante sua projeção.
“Swingueira” é embebido em paixão, fala das mesmas e filma como tal, mas secciona de maneira bruta os diferentes “brasis” que cruzam a sua própria narrativa. Ainda assim, vale uma espiada para entendermos aquilo que nós no sudeste possuímos um conhecimento que não passa da superficialidade das representações midiáticas e uma cordialidade que pouco se vê nas bandas de cá. Questões antigas e contemporâneas entrelaçadas com um requinte de Brasil que deu certo, por vias tortas.