Suk Suk – Um Amor em Segredo
Gestos à margem
Por Vitor Velloso
Em Breve
À margem da família tradicional, dois avôs escondem uma paixão e passam a se encontrar entre os feixes de Hong Kong em “Suk Suk – Um Amor Em Segredo”. A direção é assinada por Ray Yeung que procura criar alguns traços de sensibilidade em meio às lutas cotidianas de poderem assumir-se para o mundo. É uma narrativa que não possui uma base dramática distinta da construção realizada na primeira metade, onde uma exposição rápida apresenta as características dos dois personagens e como esse romance se desenvolve entre suas diferenças.
Apesar de tudo, é um filme que não se distancia das demais produções de Hong Kong que chegam no Brasil com certa frequência, ainda que sua temática seja motivo para um determinado mercado comum na Zona Sul Carioca. Está certo que será mais uma adição de catálogo que ocupará o fim da tarde e início da noite nas salas do Estação Net. É um longa tipicamente veiculado pela Vitrine Filmes, existindo um apelo distinto do grande mercado, mesmo que essas distâncias não sejam tão grandes como parte do público acredita. De toda forma, “Suk Suk – Um Amor em Segredo” é desenvolvido a partir desse eixo protagonista, na relação entre os dois homens e não se permite grandes fugas de uma certa monotonia da rotina de cada um. Seus encontros se tornam um motor dramático, onde a base do conflito é colocada como uma questão extra-tela, ou seja, é o preconceito de uma sociedade que assombra um romance construído a duras penas e resistência de ambos os lados.
Hoi (Ben Yuen) e Pak (Tai Bo) se tornam o centro de um drama que apresenta uma ocidentalização da cultura de Hong Kong, seja com o filho tomado de particularidades do ocidente, que não consegue esconder suas fragilidades diante de uma perspectiva tradicional, ainda que faça duras críticas à formação dessa mesma tradição, ou mesmo com as histórias orais que vão dando corpo aos personagens. Essa última é um momento relativamente delicado e curioso, onde a memória de uma situação constrangedora envolve a invasão cultural norte-americana, ou poderíamos dizer: os vestígios de um mundo globalizado, a fim de suavizar o discurso. Fica claro para o espectador que são décadas de opressão, tanto aos seus corpos e sexualidade, como ao avanço destrutivo da verticalização de uma cidade que vai permanecendo na memória. Não por acaso, em um gesto gentil de Hoi, vemos como a feira que vende legumes e peixes faz parte da história de um passado que foi escanteado do cotidiano de Pak, sempre ocupado com seu trabalho.
E é nessas brechas que o filme encontra espaço para desenvolver outros personagens que são importantes na contextualização da luta contra a homofobia. É o glamour de um dos idosos, que divide sua vaidade com um pequeno grupo, ou mesmo na deterioração física de outro personagem, que precisa da ajuda de seus amigos para se locomover. “Suk Suk – Um Amor em Segredo” acaba se perdendo com o passar da projeção, assumindo um caráter prosaico com pouco ou nenhum objetivo claro. As coisas vão se dissolvendo ao espaço da saudade e esses recortes de felicidade sempre são costurados com uma melancolia que apesar de crescente, faz o ritmo da obra (que aguarda esses encontros) cair drasticamente e perder esse apoio dramático, dando lugar ao desfecho mais programático. O que é uma pena, já que a consciente decisão de seccionar o tempo para uma objetiva que se aproxima do carinho, ainda que assuma uma certa formalidade, dá lugar ao senso comum dos dramas ocidentais, esse desencontro catalítico e inevitável.
“Suk Suk – Um Amor em Segredo” possui bons momentos, mas é incapaz de se manter sólido até o fim e acaba tornando-se monótono. Algumas decisões estéticas, em especial quando assume o submundo da sociedade para apresentar uma nova liberdade para esses personagens, é realmente interessante, ainda que nunca consiga sair de um certo grilhão do ocasional.