Steakhouse
Prato servido
Por Vitor Velloso
Durante o Festival de Locarno 2021
“Steakhouse” de Špela Čadež possui uma estrutura curiosa em seus breves minutos de projeção. As coisas funcionam em um tempo particular, a narrativa é dada com pouquíssimos diálogos presentes, os planos possuem uma duração que cadencia a tensão entre dois espaços. E essa dicotomia faz o filme introduzir a questão para o espectador, em especial como a animação transforma os sentimentos de seus personagens em uma urgência dos próprios espaços, tanto a mulher quanto o marido abusivo.
Está claro que esse encontro é uma preparação delicada, ainda que veloz, construída em torno dessas “expressões faciais” e das reações com o tempo. As constantes checadas na hora, comum às duas pessoas, demonstram que os sentimentos se opõem. O marido abusivo sente ódio e o medo da mulher se confunde com a tristeza. O trecho central, onde a animação é invadida por uma fumaça, consegue redirecionar a tensão dos primeiros minutos. O motivo dela muda, não apenas por entendermos o que está acontecendo, mas a relação desse espaço e tempo é turva o suficiente para os movimentos estarem à espreita. A montagem se divide nas individualidades, nas ações e reações, mantém o ritmo lento até que uma insinuação de violência vai se acentuando ao ponto de sua exposição transbordar para um desenho sonoro que se torna insuportável, alto e quebradiço.
O clímax é um momento que dissipa essa tensão geral para oferecer uma certa recompensa, não apenas uma libertação da personagem, mas um respiro necessário para o próprio espectador. Apesar da paciência na construção e da consciência em ser sintético através da própria forma da animação, “Steakhouse” se encerra com um símbolo que deixa o espectador com mais dúvidas que respostas, o que é positivo do ponto de vista dramático, mas soa como uma resolução menos direto que a construção promove e essa dicotomia não faz bem para uma curta-metragem que propõe uma abordagem tão imediata.