Direção: Sandra Werneck
Roteiro: Paulo Halm, Michelle Franz, Adriana Falcão, Sandra Werneck, José Joffily, Mauricio Dias
Elenco: Com Sandra Werneck (diretora), Nanda Costa, Ângelo Antônio, Nelson Xavier, Kika Farias e Amanda Diniz, Marieta Severo, MV Bill e Daniel Dantas
Diretor de fotografia e Câmera: Walter Carvalho
Direção de Arte: José Joaquim
Som direto: Leandro Lima
Montagem: Mair Tavares
Edição de som: Waldir Xavier
Trilha sonora: Fabio Mondego, Fael Mondego e Marco Tommaso
Produção: Sandra Werneck
Produção Executiva: Elisa Tolomelli
Produtora: Cineluz
Distribuidora: Europa Filmes
Duração: 90 minutos
País: Brasil
Ano: 2009
COTAÇÃO: BOM
A opinião
A diretora Sandra Werneck usa a poesia e sensibilidade em seus filmes. Ela prefere abrandar situações tensas e complicadas. Aborda de forma rasa e com redenção os acontecimentos e seus personagens. No ditado popular, Sandra “morde e assopra” em cada instante filmado. Ela humaniza o tema abordado, com isso o aprofundamento é superficial. Colocam-se assuntos de favela, prostituição, educação, relacionamentos familiares, pedofilia, gravidez na adolescência, poder do dinheiro, superações com a utopia da esperança.
O longa objetiva a retratação do politicamente correto, não julga, mas direciona, intencionalmente, a trama. O corte seco, a saturação da imagem do morro com a personagem principal pedalando uma bicicleta fornece realismo, já abrandado pela música tema que descreve completamente o que será transmitido ao espectador. Este trabalho técnico, feito pelo competente Walter Carvalho, enriquece a formação dos instantes, como por exemplo, o enquadramento da imagem com carros passando, transpassando cortes estáticos de um mesmo plano.
“A pessoa tem que ralar muito para ser gostosa”, diz-se. Os personagens aproveitam as oportunidades para sobreviver e para o crescimento. O sexo fácil, sem pudores, por dinheiro e por comida. “Eu não to na vida. Só faço isso pela minha filha”, diz. O contraste maior é o real querer. Elas buscam o príncipe encantado, em seu cavalo branco, festas de aniversario de 15 anos e calças da “gang”. “O que adianta ter 17 anos se eu não posso ir pro baile”, revolta-se. “A geladeira vem ate com comida dentro”, diz uma das adolescentes quando encontra um homem de posses, sem se importar com a origem desta grana e ou se usa resolver ou não. “Mulher minha tem que ter tv de plasma”, ele diz.
Há referencias. Não sei se proposital, mas utilizam o elemento camisa do time América em um avô doente, bêbado e fracassado. A adolescência em uma comunidade é retratada com greves de professores em uma escola publica, critica recorrente às condições de ensino. Há programas envolvendo sexo nas cadeias, maconha, mas o que os seus personagens querem é a simplicidade e a fantasia. “Uma festa de 15 anos; Wesley me beijando; e que meu avô fique bom. Devia ter uma regra: todo mundo deveria ter mãe pra sempre”, com essa frase o sentimentalismo cresce. A cena do estupro do tio em uma casa destruída tenta chocar. “Você já viu algum irmão seu?”, tenta sensibilizar. Tenta-se manipular lágrimas do espectador. E descamba para o clichê e o sentimentalismo exacerbado.
O agravamento destes problemas é cavado pela própria pessoa. A falta de cuidados interfere na realidade como uma visão profética. “Quero que conheça a minha realidade”, diz uma personagem a um preso mostrando a sua filha. Depois de tudo, a vida volta ao normal. Ou continua, como o leitor preferir. É um respiro para que novos problemas possam ser cometidos. Vale a pena assistir pela interpretação de Nanda Costa que ganhou o premio de melhor atriz no Festival do Rio 2009. Também ganhou o premio de melhor filme pelo Júri Popular no mesmo Festival. Há o esforço para dosar a poesia e a realidade. Abrandar os temas. Mas na maioria das vezes o que acontece é apresentar a omissão. Falta a vivencia, o drama real, sem isso o que resta é um modelo folhetinesco. Os prós ganham e o filme merece ser visto. Recomendo.
A carreira de Sandra Werneck abrange documentários e filmes de ficção, de curta, média e longa-metragem. Com três milhões de espectadores, “Cazuza – O Tempo não Pára”, codirigido por Walter Carvalho, foi um dos filmes mais premiados do cinema brasileiro desde a Retomada. As comédias românticas “Pequeno Dicionário Amoroso” e “Amores Possíveis” foram êxitos de bilheteria e ganharam prêmios no Brasil e no exterior. “Amores Possíveis” foi eleito o Melhor filme Latino-Americano do Sundance Film Festival, em 2001.
Apesar de reconhecida pelo público pelos filmes românticos e pela cinebiografia de Cazuza, Sandra Werneck tem uma longa história dedicada ao documentário. Ela começou sua carreira dirigindo filmes de forte cunho social e em formatos pouco convencionais. Nesta lista estão “Pena Prisão”, “Ritos de Passagem”, “Damas da Noite”, “Profissão Criança”, “A Guerra dos Meninos” e, mais recentemente, “Meninas”.
1 Comentário para "Sonhos Roubados"
Caraca Fabrício…. deui até preguiça de ler hehehe
Me lembra aquelas "teses" escritas pelo pessoal da "ContraCampo".
=P