Curta Paranagua 2024

Ser Feliz no Vão

O meu país

Por Vitor Velloso

Mostra de Cinema de Gostoso 2021

Ser Feliz no Vão

“Um ensaio preto sobre trens, praias e ocupação de espaço”. Difícil encontrar uma definição melhor para “Ser Feliz no Vão” de Lucas H. Rossi dos Santos que realiza um manifesto em torno do corpo negro e de uma política de existência que incomoda a burguesia eugenista. O resgate de algumas imagens clássicas do cinema e da cultura brasileira aparece como uma motor para a estrutura do curta, dominado pelo material de arquivo, anunciando seu fim e atravessado por um manifesto visual-formal. De Tim Maia à vulgarização de “nossas vergonhas”, Nina Simone encontra Elza Soares para reforçar que o país é o lugar de fala da maioria da população, reprimida por uma classe média que não aguenta ver seus espaços ocupados pelo “Méier”. 

“Vão nos matar de nojo. Por comer frango e farofa na praia”. A icônica fala é a apresentação do escárnio do filme diante dessas investidas segregacionistas. Ao passo que vemos o ódio vexaminoso da burguesia da Zona Sul, a montagem do filme emenda a lotação no trem, nos ônibus, à caminho das praias e a queda dessas “fronteiras” impostas. A homologação cultural é um sonho mambembe que não encontra base firme. Enquanto houver Elza Soares, Djonga, Tim Maia e MC Carol a burguesia terá de contentar-se com a MPB de cobertura, porque na praia a caixa de som é individual. 

Antes de encerrar o breve texto sobre “Ser Feliz no Vão”, tenho que dividir um acontecimento recente. Em um shopping da Zona Norte carioca, três garotos negros (13 anos no máximo) saiam de uma Casas Bahia com uma caixa de som lacrada. Rasgaram a embalagem, ligaram o som no máximo, escolheram um funk sobre o Flamengo e seguiram dançando com sua caixa pelo shopping. A maioria dos lojistas riam. A reação dos clientes se dividia. Aqueles que se incomodavam, iam ter que fazer um esforço para pensar em como destilar seu ódio, porque o som não deixava nem pensamento fluir. Engoliram seco uma “cena absurda daquela” enquanto os garotos seguiam para uma loja de venda de camisas de time. 

4 Nota do Crítico 5 1

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