Saiba Tudo o que aconteceu na Abertura do CineBH 2022
Cerimônia oficial de início do festival de cinema belo-horizontino teve performance audiovisual, homenagem à atriz Rejane Faria e discursos sobre imagens produzidas pelo cinema em Belo Horizonte
Por Vitor Velloso (à convite do festival)
A 16ª Edição da Mostra CineBH 2022 é apresentada a partir do resgate da memória do cinema nacional e da identidade latino-americana. Os textos de apresentação procuram ressaltar a importância e valorização do cinema brasileiro, especialmente em um contexto tão adverso para a sétima arte no país.
Mas se nos textos esse resgate é realizado a partir da programação da Mostra, a cerimônia de abertura, que aconteceu na noite do dia 20/09 no Cine Theatro Brasil Vallourec, contou com uma série de performances que reforçaram a identidade latina a partir de referências culturais. O interessante foi perceber que parte desse resgate não significava apenas um apanhado histórico, mas uma negação da cultura estrangeira imperialista. Nos termos de Tomaz Tadeu da Silva, essa lógica é criada na própria definição do termo de identidade, que só pode existir enquanto tal, tendo um outro a ser negado. Logo, nesta cerimônia de abertura, nós percebemos o texto passar de Camões à Bolívar, citar Guevara e projetar nomes importantes da identidade e cultura latino-americana, como uma provocação a certas indagações da temática da atual edição: “Cinema Latino-Americano: Quais as imagens da internacionalização?”.
Algumas perguntas lançadas na tela permitiram o público presente entender que essa internacionalização citada no texto não deve ser encarada de uma perspectiva moral. Aliás, a internacionalização foi pauta da CineBH em 2019 e seu texto de apresentação da temática, que, naquele momento, explicitava o sucesso do cinema brasileiro em festivais internacionais. Contudo, com a mudança de contexto para esse debate, alguns questionamentos foram feitos durante a cerimônia, também presentes no texto do Cleber Eduardo, coordenador curatorial, sobre a necessidade de legitimação do cinema latino-americano nos circuitos europeus e indivisibilidade de nossas histórias. Uma das perguntas levantadas foi a capacidade do cinema latino funcionar sem bênçãos exteriores. São questões difíceis de responder em um primeiro momento e ao longo da 16ª Edição da CineBH será possível registrar como um tema tão complexo foi sendo trabalhado nos debates.
Ao longo da cerimônia foi possível perceber uma ligação explícita, desenvolvida pela curadoria, entre debates expostos no “Veias Abertas da América Latina” e diversas menções às intervenções estrangeiras nos países latinos, como os golpes de Estado e a ideologia perpetuada por herdeiros contemporâneos dessas chagas tão presentes na história de nosso povo.
Em outro momento da apresentação do CineBH 2022, observamos como a curadoria está trabalhando questões relacionadas às imagens produzidas pelo cinema em Belo Horizonte ao longo da pandemia, depois desses dois anos, quais são essas imagens? Como sempre, as temáticas e questionamentos abrem um leque de possibilidades para a discussão, favorecendo o interesse pelo debate e por pequenas provocações que podem acontecer em um diálogo que reúne pessoas do Brasil inteiro. Nestes largos horizontes de diferentes perspectivas, temos a certeza de que o cinema brasileiro enfrenta um grave problema para se sustentar, tanto pelo retrocesso das políticas públicas no setor da cultura, como por outros atravessamentos políticos que deram uma nova face para a chamada “internacionalização do cinema brasileiro”. Se a dependência, a partir de uma perspectiva não fatalista, é uma referência pouco resgatada neste momento adverso, vale rememorar o que Samir Amin compreende como parte essencial da cultura, que sendo valor de uso, não deve ser valor de troca.
Se essa compreensão parece nos escapar nas discussões frequentes, o mesmo não acontece com Rejane Faria, homenageada desta edição. A atriz subiu ao palco e se emocionou ao lembrar sua trajetória e a importância que a Filmes de Plástico teve em sua carreira. Não por acaso, Maurílio Martins, André Novais e Gabriel Martins deram um breve depoimento sobre essa parceria de enorme sucesso. As falas passaram por memórias pessoais, causos em Set e uma sincera declaração de admiração.
Rejane falou dos desafios profissionais que enfrentou ao longo da prestigiada carreira e de como o processo de aprendizagem não se encerra com a atual homenagem, pois segue produzindo e criando. Emocionada, demonstrou preocupação com o atual momento do Brasil e da cultura nacional, mas declarou votos de esperança para o futuro.
Ovacionada de pé, recebeu os aplausos de um público que sabe da importância da atriz para o cinema nacional nos últimos anos, mas também da representatividade mineira que Rejane se tornou, especialmente agora na campanha “De minas para o mundo”, que procura ressaltar a importância de “Marte Um” para o contexto atual. Dançando e chorando, Rejane foi o ápice de uma cerimônia de abertura que se encerrou em samba e cantoria, sobre a América Latina, cultura periférica e visibilidade.
Com criação e direção de Chico de Paula e roteiro de Chico e Raquel Hallak, coordenadora geral da mostra, a performance representou um híbrido de arte, música, imagens e movimento, buscando inspiração nos conceitos da CineBH desse ano. Participaram o músico Acauã Ranne, o grupo percussivo Agbara, a cantora Claudia Manzo, o coletivo hip hop U-Manas, o coletivo de dança Grupo Identidade, a multi-instrumentista Nath Rodrigues, a atriz e cantora Lira Ribas, o bloco carnavalesco Samba Queixinho e o artista visual Rafael Cançado. Na sequência, na mesma noite, exibiu o filme de abertura “Os Ossos da Saudade”, de Marcos Pimentel, documentário filmado em diversos países falantes da língua portuguesa e cujo projeto de desenvolvimento esteve no Brasil CineMundi.
A cobertura do CineBH está apenas começando e ao longo dos dias, o Vertentes do Cinema publicará críticas e matérias especiais da Mostra de cinema da capital mineira. Continue acompanhando aqui no site!