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Quatro Dias com Eduardo

O Retrato do Dia a Dia

Por Vitor Velloso

Durante o Festival do Rio 2019

Quatro Dias com Eduardo

“Quatro dias com Eduardo” é um projeto fadado às indicações em festivais nacionais, mas que já nasce como um projeto datado pelo cenário político que o Brasil vive. 

Assim, é mais honesto analisar ele enquanto uma obra cinematográfica isolada de uma possibilidade de contextualização contemporânea, que aplicar toda sua estrutura à atualidade das relações públicas. Logo, o exercício se torna anacrônico em forma, mas excessivamente temporal em discurso. Essa problemática é referente às mudanças no cenário brasileiro desde que a eleição retratada na obra se encerrou. 

Dirigido por Victor Hugo Fiuza, o documentário explora um tempo limitado de Eduardo Suplicy, um final de semana, em sua eleição para vereador em 2016. Construindo uma imagem pessoal e familiar que esbarra em debates políticos constantes em sua residência, à popularidade do político em meio a sua comunidade. A suposta eficácia da obra parte deste íntimo retrato que busca retratar parte de seu dia-a-dia em meio a campanha, porém conforme o progresso do filme se dá no ecrã, fica claro que diversos materiais ali presentes cumprem uma função de maior curiosidade das relações interpessoais de Eduardo que uma funcionalidade na estrutura fílmica em si. 

E o pano de fundo da campanha, dá espaço à um ciclo de barrigas na montagem, que acabam realçando diversas questões já conhecidas por quem apoia a carreira do protagonista, que independente do longa, não diferencia em nada a visão que se tem sobre o mesmo. O exercício de afirmação acaba tornando a proposta assertiva em humanizar uma figura que já é desconstruída em um meio social que assume as contradições, aparentes, de sua figura com parte de sua trajetória. 

Porém, até onde o filme atinge algo que realmente adicione a qualquer debate antigo, ou vindouro, acerca da imagem deste estilo de política ou da imagem central de Eduardo é um debate que pode vir a atingir parte do público que se disponibiliza a assisti-lo. E a resposta deste questionamento depende diretamente do conhecimento deste espectador acerca de Suplicy, pois o viés político, ainda que ideológico, não é um ponto trabalhado na obra, logo, ele reduz quase de forma absoluta as possibilidades de inserção das características partidárias ali envolvidas. Com exceção da participação de alguns outros políticos e de uma entrevista que Eduardo utiliza para promoção de seu livro, “Quatro dias com Eduardo” tangência propostas e ideologias, focando única e exclusivamente na reta final da campanha.  

E se a proposição funciona em termos didáticos de esclarecimento das relações familiares do protagonista com filhos etc. Os momentos são parcialmente invasivos, a ponto de um almoço entre os filhos ser reduzido ao som dos talheres e uma ocasional, e rara, conversa sobre o cotidiano de cada um. Mas o teor burocrático que o cineasta insiste em manter mesmo nestes momentos mais pessoais, acaba tornando o ritmo da obra mais lento que poderia para o público, gerando uma crescente de bocejos ao longo da sessão até que o fim da projeção ocorra. 

Ainda que o longa não seja formalmente problemático ou transmita um discurso político que possa vir a incomodar algum tipo de espectador, nada é digno de nota durante toda a experiência com o documentário, transformando uma curiosidade em algo facilmente esquecível. E por mais que a figura de Suplicy seja curiosa pela sua versatilidade de diálogo com diferentes setores da política nacional, principalmente com a esquerda, a superficialidade que se encontra aqui, não consegue abordar nenhuma nova camada que já não tenha sido visto através da internet ou da grande mídia. Revelar a residência ou qualquer diálogo com o povo nas ruas, difere muito pouco da cobertura que sua assessoria faz pelas redes sociais através de live e posts. 

Como dito anteriormente, “Quatro dias com Eduardo” não é problemático em nenhum ponto em específico, além de seu ritmo, pois não se arrisca em nenhum momento, então se torna um passeio cinematográfico que aponta a câmera para uma figura especial do cenário político nacional e espera algum grau de empatia de seu público alvo com seu protagonista. Mas no fim, é destinado a todos aqueles que já possuem algum tipo de aproximação com o mesmo, logo, prosseguimos com o massageamento de ego da esquerda brasileira, que pouco diz sobre seus erros e acertos, mas aplaudem os indivíduos. E neste quesito, nada se distancia muito de “Democracia em Vertigem”

3 Nota do Crítico 5 1

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