Projeto Gemini
Will Smith no Smithverso
Por Vitor Velloso
Ang Lee é um diretor conhecido pelas inovações tecnológicas no cinema, sempre levando a sétima arte até o limite de sua época. “Projeto Gemini” é um projeto realizado em favor da tecnologia, não o contrário, o que em tese enfraquece a produção autoral do cineasta, mas que neste caso serve como uma resposta à indústria de produção em massa que busca única, e exclusivamente, cifras. Não que “Gemini” fuja este modelo, mas vai atrás daquilo que se limita à uma experiência audiovisual. Na cabine, a projeção foi realizada na sala Xplus, em 3D+, a 60 quadros por segundo.
A imersão proposta pelo diretor é absoluta e intrigante, utilizando mais imagens para aprofundar o campo dos planos, o 3D torna-se parte da narrativa com uma velocidade própria da película. Inicialmente é possível estranhar o longa, já que qualquer movimento de câmera implica em um realismo de outras proporções. Logo, sendo um filme de ação, cada cena é uma explosão de estímulos visuais. E é apostando nisso que Ang Lee estrutura seu trabalho, em pequenos, e intensos, blocos de megalomania visual, não à toa a trama se torna parte de um fundo que salta o primeiro plano à vista do espectador.
A construção do clima proposta é canhestra, não sentimos tensão alguma ao longo da projeção, nem empatia pelos personagens. Tudo está a favor de um espetáculo de partículas estourando e de uma movimentação bruta e sem freio. O segredo é acelerar ainda mais. Ao assistir uma longa cena de perseguição que troca de um tiroteio convencional, à câmera em primeira pessoa, enquanto os protagonistas buscam equilibrar suas motos, quase sempre olhando para baixo, que precede uma luta envolvendo moto, repleta de piruetas. Ang nos propõe à vertigem dos quadros cinematográficos.
A saturação daquilo que conceitua a sétima arte enquanto…cinema. A absoluta hipérbole que emerge da tela transforma a verve cinematográfica em gênero de maneira inorgânica, pressionando cada vez mais uma completa artificialidade ao real que se remonta em frame a frame. Enquanto transforma o olho humano em um verdadeiro parque de diversões, o diretor lança ao público o desafio de reconhecer entre os cortes rápidos, a tênue linha entre o fato e a consumação da produção. Narrativamente as falhas são óbvias, nada que está entre uma cena de ação e outra funciona. São breves exibicionismo tecnológicos, uma abelha que incomoda o protagonista, surgindo em proporções colossais na tela (em proporção à seu tamanho no plano), um aperto de mão que invade a perspectiva do espectador, um avião que atravessa a tela em rumo à um mar de nuvens.
Com isso, a confusão está instaurada, são viagens e diálogos desnecessários que complementam o vácuo entre os tiroteios e explosões. Porém, tal bagunça infla a expectativa pela próxima cena, para que a tecnologia possa se sobrepor sob a própria obra. Esse jogo de espera gera uma constante movimentação da trama, retirando a atenção dos detalhes da mesma, o que ajuda o longa, já que a fragilidade do drama e da construção da história traria o projeto à luz de suas falhas. E se fugirmos da questão imagética da proposta fílmica, outro ponto de destaque é o som do longa, que consegue dar tanto impacto quanto o exagero de elementos em tela. Tiros de escopeta e metralhadora possuem camadas distintas na equação final, causando uma reação diferente ao estrondo de cada.
As críticas negativas que podem ser feitas a tal tipo de projeto, por racionar cada etapa da produção à uma tecnologia, não se configura, necessariamente, em um problema, já que a proposição não é nada além da experiência única em uma sala de cinema. “Projeto Gemini” recusa a história, a trama e mergulha de cabeça nas intenções vertiginosas de acelerar o cinema ao limite do espectador. Se “Mad Max: Estrada da Fúria” fosse exibido desta maneira, o espectador sairia da sala sem discernimento da realidade. A diferença é que aqui não se acelera os planos, mas sim a imagem. Um projeto para ser lembrado como a diversão que é, nada além.
“Esta história não é aquela que poderia ter sido contada no cinema como o conhecemos. No entanto, graças à incrível nova tecnologia digital, não só podemos finalmente ver tanto o jovem quanto o velho Will Smith juntos na tela, mas também podemos vivenciar a história de uma forma profundamente imersiva. É uma grande sorte poder experimentar e testar os limites do que o novo cinema digital tem para nos oferecer. Não menos do que isso, poder trabalhar com dois Will Smiths. Eu realmente espero que este filme proporcione uma experiência cinematográfica completamente nova para o público em todo o mundo”, finaliza o diretor Ang Lee.