Curta Paranagua 2024

Possessões

Um registro questionável

Por Vitor Velloso

Possessões

Estreando no cinema, Tiago Santiago, autor de “Mutantes”, dirige “Possessões”, um filme de terror que reúne alguns nomes conhecidos da TV e cinema brasileiro, como Tuca Andrada, Lígia Fagundes, Rocco e Antônio Pitanga, Marcelo Serrado,  Fernanda Nobre e Dado Dolabella. O longa caminha com extremo didatismo, tentando desenvolver sua trama a partir de diálogos expositivos, atuações questionáveis e uma série de efeitos…controversos para gerar sua “tensão”. 

Desde os primeiros minutos, o filme faz um grande esforço para explicar o que está acontecendo para o espectador, mesmo que a narrativa seja bastante simples e autoexplicativa. Assim, conforme entendemos qual a entidade que está atormentando os personagens, os conflitos são expostos com diálogos diretos, sem que o público conheça de fato os protagonistas, seus dramas, características etc. Não por acaso, “Possessões” faz questão de apresentar os estranhamentos religiosos que uma personagem possui e um suposto arrependimento de outro, para ao menos esboçar alguma coisa que possamos nos apegar. E esta cena contém algo verdadeiramente problemático na obra, a intenção de filmar um ritual umbandista como uma passagem de terror, algo questionável e que pode gerar revolta em uma parcela do público. Não por acaso,  o caráter expositivo dos diálogos é ainda mais reforçado aqui, para tentar “explicar” ao espectador o que estamos vendo, o que está acontecendo e o que irá acontecer. Estas passagens são cada vez mais frequentes na obra, com repetições de diálogos, atitudes absurdas de determinados personagens e uma constante sensação de não irmos a lugar algum com o passar do tempo de projeção. 

Neste sentido, é como se o filme tivesse dificuldade de encontrar o próprio objeto, pois uma vez que estabelece qual a “ameaça”, passa a tentar fixar uma alternativa “dramática” para lidar com esse espírito “encosto”: o amor e frase motivacionais. E é necessário utilizar as aspas aqui, pois não é exatamente uma questão desenvolvida pelo roteiro, mas é algo que é possível deduzir a partir das falas dos personagens. Desta forma, os segmentos vão se estabelecendo como curtas praticamente isolados, onde essa suposição de uma ameaça torna-se cada vez mais boba, desde uma torneira abrindo sozinha até uma pia pegando fogo. Não por acaso, o projeto não consegue construir nenhuma tensão a partir dessas cenas, apenas cria uma amarga sensação de uma necessidade programática de mexer alguns clichês para movimentar sua narrativa ou projetar qualquer sombra de um terror propriamente dito. Somando esses pontos às atuações pouco inspiradas, cada nova sequência se torna um tanto vergonhosa quando lembramos que não trata-se de uma paródia e sim de um filme de terror. 

“Possessões” acaba tendo dificuldade de construir uma obra que consiga fazer sentido em si, transformando a curta experiência em um amontoado de clichês e cenas forçadas para transmitirem algum tipo de desconforto ou pavor, sem saber como estruturar e/ou provocar esses sentimentos no espectador, pois não basta ter alguns elementos comuns aos filmes de terror para que o gênero se estabelece. De toda forma, com o passar do tempo, tudo vai se tornando ainda mais estranho, seja com a atuação do vizinho ou os conflitos de uma personagem que se recusa a acreditar em absolutamente tudo que acontece ao seu redor, com inúmeras evidências etc. 

Sem dúvida, trata-se de um filme pouco criativo e eficaz na sua proposta. Especialmente quando se perde no próprio universo que (não) tenta estabelecer e apenas oferece pequenos elementos aos quais o espectador deve se apegar. E a forma como o longa lida com a umbanda é verdadeiramente perigosa e pode ser vista como desrespeitosa, não apenas por apresentá-la como mero misticismo, mas também por representá-la como um segmento de terror. “Possessões” não é uma das estreias mais empolgantes que Tiago Santiago poderia apresentar, longe disso, mas a forma como trata o gênero e as religiões, é realmente um ponto que terá de lidar pois a repercussão negativa pode ser bastante…grande. 

1 Nota do Crítico 5 1

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