Diretor: Semih Kaplanoglu
Roteiro: Semih Kaplanoglu
Elenco: Nejat Isler (Yusuf), Saadet Aksoy (Ayla), Ufuk Bayraktar (Haluk), Tülin Özen (Sahaftaki Kadin), Gülçin Santýrcýoðlu (Gül), Kaan Karabacak (Çapaci Çocuk), Semra Kaplanoglu (Zehra)
Duração: 97 minutos
País: Turquia / Grécia
Ano: 2007
COTAÇÃO: EXCELENTE
A trilogia do diretor Semih Kaplanoglu chega ao fim, se o leitor optar pelo processo inverso. É de trás para frente. Este filme de 2007, realizado como primeiro, na verdade é o último. É a fase adulta. Apresentando seu personagem principal com sofrimento resignado, tendo que retornar à família por causa da morte de sua mãe. A forma como Semih objetivou mostrar seu trabalho, demonstra uma curiosidade instigante.
O poeta Yusuf volta para sua cidade natal, onde não aparecia havia anos, desde a morte de sua mãe. Yusuf se depara com uma casa abandonada e quase totalmente destruída. As lembranças do passado, a culpa e o remorso tomam conta daquele homem. Mas ele encontra conforto e alívio com a presença de Ayla, uma jovem garota que o espera no local para dar assistência.
A narrativa é lenta. Em cenários contemplativos, espera-se por algo ou alguém aparecer. Vem do longe ao próximo, com quase closes de seus personagens, que possuem tempo sem correr com suas ações. Não há música, e sim ruídos. A personagem não cabe na tela, utilizando a metalinguagem para não aprisioná-la. A camera anda e procura. Há interação e substituição. Quem está do outro lado do cinema é cúmplice e observador. Os enquadramentos utilizam o foco como a simetria da cena.
Yusuf trabalha em uma loja de livros usados (sebo). Outra vez a imagem ultrapassa a tela. É a mensagem do desespero. Como se o personagem precisasse da camera para expurgar suas catarses. De novo os ruídos são inferidos, não se mostram. Essas características apresentam-se recorrentes. Utilizar elementos físicos, como um toca discos, os humanizando. O espectador é capturado e embarca, sem volta, na trama, simples. São poucos diálogos. Só os necessários. Objetiva-se o aprofundamento, retratando a espera.
Há o contraste quando prende mostrando planos longos. Em ações triviais, como fazer a barba, ele revive o seu passado. E aprende que sua mãe classificava os seus parentes em plantas. “Ainda vejo ele nos meus sonhos”, diz-se. Resgata-se a tradição e o costume perdido. É uma viagem de retorno. Realizar as promessas da mãe (explicadas nos filmes posteriores ou anteriores). “Eu não acredito nesse tipo de coisa”, diz, cético, mas se rende.
Entre ovos, metáfora a família, e chá, de boas vindas, motos e banho turco, sonhos de prisão em poços, ele omite o sofrimento, tendo como aliado os detalhes subjetivos abordados pelo roteiro do longa. Aos poucos, a história é explicada. Yusuf, um escritor de poesias, prêmio por “O poço” e lê um livro chamado “Bal” (que quer dizer mel, nome do filme “Um doce olhar” (início das três partes)
O diretor domina a linguagem cinematográfica. Transporta quem está assistindo para um mundo lento e introspectivo. A fotografia acrescenta a qualidade. A cena da vela é extremamente bem feita. Há ingenuidade e pureza nas ações. Como na vingança infantil. O road movie começa, quando re visita parentes e realiza os últimos desejos de sua mãe. Há referências aos outros filmes (como disse). Perceba as cores vivas, que criam o contraste com a falta de vida de seus personagens, mostrando um fiapo de esperança da felicidade.
Vale muito a pena ser visto. A narrativa direciona o espectador a um mundo interno, que a remissão da culpa e do remorso pela opção egoísta que ele escolheu. Quando abandonou tudo para vivenciar os próprios sonhos, ele esqueceu quem era. Retornar aos fantasmas é necessário e libertador. Recomendo.
Melhor filme, Antalya Golden Orange Film Festival, Melhor direção de arte, Antalya Golden Orange Film Festival, Melhor fotografia, Antalya Golden Orange Film Festival, Melhor roteiro, Antalya Golden Orange Film Festival, Melhor filme, Istanbul International Film Festival, Melhor atriz, Sarajevo Film Festival.
Nasceu em 1963, na Turquia, e formou-se em Cinema e Televisão na Universidade de Dokuz Eylül em 1984. Trabalhou como roteirista e diretor de televisão, e em 2002 realizou seu primeiro longa, Away from Home. Em 2004, exibiu Angel’s Fall no Festival de Berlim. Desde 1987, escreve também artigos sobre arte e cinema. Este é o segundo filme de sua Trilogia de Yusuf, que com Yumurta (ovo) e o filme Bal (mel) sobre as transformações econômicas e sociais de regiões rurais da Turquia. A sequência é ovo, leite e mel.
1 Comentário para "Ovo [Yumurta]"
Um dos melhores filmes que já vi. Este realizador está no pódio dos melhores, para mim, juntamente com Wenders, Allen, Rohmer, Fellini, Polanski e poucos mais que não vou agora citar. Por causa deste filme, apaixonei-me pela cidade de Tire. Infelizmente não tenho dinheiro para poder visitar a casa da mãe de Yusuf, aenorme praça central e os caminhos para o cemitério, entre outros. Tem um roteiro muito parecido com o de “Im Lauf der Zeit” de wenders . Parabéns Kapanoglu.