Curta Paranagua 2024

Os Pequenos Guerreiros

Um Ceará lúdico

Por Vitor Velloso

Durante a Mostra de Tiradentes 2022

Os Pequenos Guerreiros

O longa de estreia de Bárbara Cariry é um divertido passeio pela imaginação das crianças durante uma viagem pela belas paisagens de um Ceará material e lúdico, na mesma medida. “Os Pequenos Guerreiros” possui uma estrutura convencional de projetos voltados para crianças, especialmente na relação de seus personagens. O que transforma a experiência do filme em algo particular, é a maneira que a montagem consegue trabalhar essa trama a partir do campo fértil no desenvolvimento da cultura popular, dos mitos e das memórias. Não por acaso os primeiros minutos relacionam o carro a esse sonho de poder viajar novamente, como ele carrega possui “história”. Porém, assim que as crianças são introduzidas e o espectador já começa a conhecer a personalidade de cada uma, o longa passa a trabalhar com um universo possível, onde a imaginação é elemento fundamental para que haja uma construção da cultura popular a partir de um didatismo.

Assim, enquanto “Os Pequenos Guerreiros” articula passagens como os motoqueiros mascarados e os encontros inusitados, o casal artista, permite que o espectador assimile o caráter social da obra através de uma carpintaria sonora que sabe utilizar os sons ambientes e as músicas. Aliás, a linguagem é eficiente para manter o equilíbrio entre a exposição e a efetividade. Por exemplo, já nas cenas iniciais fica claro que a decupagem cria uma dinâmica clássica, partindo de planos médios para closes, reações, respostas, em um esquema bastante comercial, contudo, na sequência em que os motoqueiros convidam os personagens para participar de uma festa, há um esforço que prioriza os espaços e a ambientação, focalizando a performance dos artistas que traduz boa parte do clima que impera no filme: “Basta acreditar na história que você vai ver. Basta acreditar na vida para se viver.”

Esses cuidados formais, são capazes de reforçar o didatismo e ainda manter uma nota particular da diretora, que demonstra a bagagem como produtora (tendo trabalho com o pai Rosemberg Cariry, o irmão Petrus e Geraldo Sarno). Sempre debatendo questões estéticas dos filmes e compreendendo a cultura regional como grande fonte de inspiração nas obras, Bárbara é capaz de traduzir a festa de Santo Antônio através de uma montagem paralela que mostra a população carregando o tronco, as crianças brincando, a tradição familiar, o ensaio, as cores, os sons. A grande quantidade de elementos e informações, são sintetizadas pela consciência de uma construção que, neste momento, acelera suas imagens mas repousa em seus objetos de interesse. Dessa forma, “Os Pequenos Guerreiros” é um projeto que está sempre em equilíbrio dentro de suas propostas, com um ritmo que flui bem ao longo da projeção e é capaz de divertir todos os públicos.

Em determinadas cenas é possível perceber que a interpretação dos atores está excessivamente expositiva, dando a sensação de que o encaminhamento infantil acaba pesando nessa relação da materialidade de um Ceará que se agiganta diante dos olhos do espectador. Está certo que neste quesito, o projeto acaba soando um trabalho de apresentação de território, mas consegue fazer isso sem precisar se inclinar para uma espécie de promoção do mesmo, pois a exaltação dessa cultura é feita com a caracterização de um cotidiano leve, lúdico e repleto de aventuras em cada parada.

A estreia de Bárbara Cariry na direção de um longa-metragem era aguardada pelo público do cinema, que não decepciona e entrega um produto que sabe ser didático e divertido na medida certa. Pode não ter participado de nenhuma competição na 25ª Mostra de Tiradentes, mas sem dúvida foi um dos projetos mais agradáveis de se assistir durante a edição. Quando uma criança evoca os poderes de Jaspion, vê um Godzilla em uma praia cearense e conversa com um ET em um posto de gasolina, é difícil a coisa desandar. “Os Pequenos Guerreiros” poderia ser utilizado nas salas de aula, todos sairiam ganhando com isso.

3 Nota do Crítico 5 1

Pix Vertentes do Cinema

  • Pequenos Guerreiros de Barbara Cariry, ótimo filme, recomendo para todos assistirem nesse final de ano. Já assisti no Cine São Luís ano passado no festival, adorei!

Deixe uma resposta