Curta Paranagua 2024

Os Melhores Anos de Uma Vida

A nostalgia e suas consequências

Por Vitor Velloso

Os Melhores Anos de Uma Vida

“Os Melhores Anos de Uma Vida” de Claude Lelouch é mais um drama francês que desembarca no Brasil para compor a programação dos amantes da língua. É mais um filme centrista em torno da verdadeira obsessão por um romance. O longa até tenta ir para um caminho menos óbvio ao tentar traçar alguns paralelos com o cinema em si e alguns musicais, mas trava na chatice monumental de longas cenas de diálogos previsíveis e troca de olhares intensos. Com sua fórmula prescrita o barato programático possui seu ápice no sonho síntese de Jean-Louis (Jean-Louis Trintignant), que expõe aquilo que o cinema francês mais deseja: uma fuga romântica em alta velocidade seguida de morte de autoridades. A cena é engraçada por sua falta de sentido, mas serve para exemplificar a base de uma cinematografia industrial calcada nos mesmos arquétipos narrativos há décadas. 

Aos amantes do subgênero, é um prato cheio de nostalgias e memórias dessa base primária para a própria obra. Mas essa reverência é de um conservadorismo constrangedor, ditando aquilo que vemos na práxis política do próprio país e na linguagem das obras de grande circulação. Essa produção não consegue desvencilhar esse “mito fundador” de uma geração e passa a perseguir o próprio rabo. É como parte de uma geração que conhecemos bem aqui no Brasil, um saudosismo que a gente sabe exatamente onde termina. “Os Melhores Anos de Uma Vida” está longe de ser uma das piores coisas que desembarca da Europa nesses tempos, mas cura insônia que é uma beleza. E se parte do público não abandona a projeção, muito se deve à Trintignant e Anouk Aimée, que para além de grandes atores, possuem uma harmonia assombrosa em cena. Mas o desinteresse pela trama é uma barreira complicada de superar, afinal são noventa minutos retornando ao mesmo eixo dramático para fomentar essa nostalgia de forma cíclica. A questão do musical surge como uma espécie de guia para um projeto que só não está perdido em tempo integral, porque o espaço é o mesmo e suas performances centrais sustentam parte de alguma curiosidade gerada no início. 

O pior é que Lelouch faz desta masturbação reverencial seu próprio pódio egóico, onde utiliza parte dos elementos históricos que fez parte para traçar características da própria obra. Os personagens despejam parte do conhecimento do ancião e mantém o ciclo aceso. Parte dos espectadores irão se deliciar com a proposição saudosista, podendo até treinar o idioma. 

Contudo, se falta interesse na trama, a costura entre os tempos é feita através de uma forma que se adapta para cada nova situação relembrada, com a cena anterior e uma espécie de “emulação” que a montagem realiza. Não por acaso, os diálogos são longos e a montagem apenas recorta na transição da consequência anterior. Além disso, “Os Melhores Anos de Uma Vida” reconhece os enquadramentos a partir do atravessamento que os mesmos possuem para uma certa fotogenia do momento em si. Conciliando o pragmatismo com a dissolução de uma possível vulgaridade expositiva.

Mas os diálogos são quase insuportáveis e possuem pouco sentido na maior parte do tempo. Para agravar ainda mais a chatice absoluta, a partir da segunda metade o longa passa a flertar com uma breguice canônica que desafia qualquer um a continuar diante da tela. O possível interesse formalizado a partir do primeiro diálogo, vai por água abaixo e resta a sensação de que poderíamos não ter tocado em “Um Homem, Uma Mulher” ou fazer um curta de homenagem em alguma abertura de festival, seria mais honesto com a própria proposta, mas a institucionalização formal do saudosismo já agride o cinema francês há muito tempo e não mais flerta com a indústria, abraça por completo essa proposição conservadora que não acha espaço para se desenvolver, apenas retorna no tempo para lembrar de como um dia essa digressão era a grande diversão da produção momentânea. 

“Os Melhores Anos de Uma Vida” tenta soar como despedida e termina em bocejos. Ao menos os dois atores sustentam alguma coisa nessa bagunça generalizada.

2 Nota do Crítico 5 1

Conteúdo Adicional

Pix Vertentes do Cinema

Deixe uma resposta