Os Croods 2: Uma Nova Era
Contra as cavernas do amanhã
Por Fabricio Duque
Platão, em o “Mito da Caverna”, conseguiu, literalmente, traduzir a filosofia da arte da vida, esta um conceito altamente complexo. O texto grego confronta a própria percepção de evolução, em que primitivos, sem nada a perder, precisam aprender a vencer as limitações da proteção do escuro, tornando-se corajosos para desbravar o novo desconhecido. A animação da Dreamworks “Croods”, em 2013, não só se baseou na “Caverna” como expandiu a metáfora, trazendo a ideia utópica da busca pelo amanhã. De que o paraíso-eldorado está em seguir a luz e um novo confronto-paradoxo: de que para “crescer” como ser humano é necessário padronizar pensamentos com praticidade e zonas de conforto. É quebrado assim o equilíbrio com a aventuras desventuradas, em que o acaso participa como agente-roteirista ao gerar situações fora do controle e possibilidades de se existir. De sair da caixa. De aceitar as diferenças idiossincráticas que cada um de nós internaliza no mais íntimo do querer insconsciente.
Em 2020, é lançada a continuação “Os Croods 2 – Uma Nova Era”, que chega amanhã aos cinemas (sim, uma imprudência sem tamanho, visto que ainda estamos com uma alta taxa de mortes diárias – será esta uma ação aos moldes primitivos de dentro da caverna? Enfim…). A sequência desenha uma nova era e seus aprofundamentos evolutivos. As personagens tentam entender as definições de amizade, amor, proteção, respeito às opiniões alheias, de feminismo à la Amazonas, ciúmes, novas formas de caverna e até mesmo broderagem. A nova era é o movimento. O conhecimento monolito que a cada descoberta reverbera outros desejos. E de que cada um busca um amanhã diferente, não binário e não padronizado. Mas toda a maestria do filme está em seu tom espirituoso, por uma narrativa cadenciada, entre drama e comédia surreal, e de sutileza ultra realista moldada à ficção.
Realizado por Joel Crawford (estreante na direção, que foi o “cabeça” de “Trolls” e aqui assume a função de ser a voz do pai do Guy), a animação “Os Croods 2 – Uma Nova Era” é uma ode à vida. Uma terapia completa em um pouco mais de noventa minutos. Que compreende falhas, desvios e escolhas subjetivas de seres, visivelmente orgânicos, humanos e imperfeitos. A essência do filme está em sua desconstrução. De mitigar qualquer resquício de limitação para fornecer a plenitude da liberdade. E da felicidade, que na verdade, se encontra ao decorrer da própria aventura. Pode soar um exemplo de auto-ajuda? Sim. E qual o problema disso? Se nossas existências são lapidadas nas questões básicas universais. E é aí que nos questionamos? O que é evolução? Roubar água de um outro povo? Fazer acordo com monstros para garantir uma confortável prisão? Ou “cair no mundo” e ter “cicatrizes” como história de vida? Ou se unir e aumentar a “família”?
“Os Croods 2 – Uma Nova Era” nos permite desvencilhar da massificada convenção social imposta e explorar formas não convencionais em um roteiro construído Kevin Hageman, Dan Hageman, Paul Fisher e Bob Logan, adaptado da história de Kirk DeMicco e Chris Sanders, os diretores do primeiro filme, que se basearam no argumento original de John Cleese. Por mais que a direção tenha mudado, a atmosfera é a mesma, talvez por conta dos mesmos atores, Emma Stone, Nicolas Cage, Ryan Reynolds, Catherine Keener, Cloris Leachman, Clark Duke, Leslie Mann, que não pouparam esforços para criar empatia, naturalidade e verdade.
O longa-metragem segue assim corroborando a atual estrutura da animação, que é pincelar humor direcionado. Cores e ação às crianças. E perspicácia-sagacidade nos diálogos aos adultos. “Os Croods 2 – Uma Nova Era” é uma parábola. Uma mensagem neurológica, transbordada de nossas sinapses. Aqui, cada personagem defende sua personalidade. Suas manias. Seus propósitos de sobrevivência. Tudo se embasa pela necessidade de se buscar o amanhã. A terra prometida. Um novo mundo. E vai além quando desconstrói até mesmo a Esperança. É uma obra família, mas não de apenas aparência (para constar à sociedade) e sim algo real. Verdadeiro. Que faz sentir “borboletas no estômago”. E/ou o querer da limitação de uma moldura. “Os Croods 2 – Uma Nova Era” representa a normalidade. A atual família de nossa nova era: imperfeita, disfuncional, irritante e egoísta, mas que consegue enxergar a positividade do futuro, pontuada de otimismo e de novos desafios, que se safam porque estão unidos.