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O Rei Leão

O Rei Leão

De carne e osso

Por Fabricio Duque

Quando as primeiras cenas da versão (vendida como live-action, mas na verdade é CGI, em que há a recriação em computação gráfica) da animação “O Rei Leão” foram divulgadas, informando que sim o projeto aconteceria, muitos se pronunciaram perguntando o porquê de “catucar” o filme clássico, já que “não se mexe em time que está ganhando”. É verdade, uma decisão “vespeiro” arriscada de seu diretor Jon Favreau (de “Mogli – O Menino Lobo”, “Homem de Ferro”, “Cowboys & Aliens”, e ator na nova saga de “Homem-Aranha”, vivendo o papel de Happy).

Outro ponto levantado foi se as novas ideias acabaram e agora os produtores precisam apelar para refilmagens. Por favor, não sejamos tão puritanos e saudosistas, visto que cada vez o novo nos assalta mais com suas infinitas possibilidades, como no filme em questão aqui, que transforma seres animados em animais ultra realistas, em um quase 3D sem óculos especiais. Em “O Rei Leão” (2019), o espectador embarca no mundo próprio e altamente primitivo de uma fauna em seu habitat natural), soando como um passeio à moda naturalista e documental do Discovery Channel National Geographic.

O novo longa-metragem explicita mais o viés político ao abordar a história entre os dois irmãos (um lidera com democracia e diplomacia; o outro, pelo medo e violência; um, esperançoso e resiliente; o outro, ambicioso e pessimista com o lema de “a vida não é justa”; um reina pela igualdade e equidade; o outro, “mata tudo” por ego do mal), que importa o tema shakespeariano (a versão original foi inspirada em “Hamlet”) de até que ponto um chega para assumir o poder, ainda que sejam animais dotados de moralidades e crueldades dos humanos.

Não, nada mudou. Na verdade esta versão é sistematicamente igual. Cena à cena. Frame à frame. Neste, nós talvez podemos observar melhor uma mudança em nossa percepção, que ficou mais acentuada por causa do mundo em que vivemos no agora. Não há mais espaço a ingenuidades e sensibilidades. Busca-se o realismo cru, lógico e direto. E o tema ficcional daqui ganha contorno atual, universal e atemporal, funcionando como uma explícita reconstituição de época. Com seus golpes políticos; hipócritas e anti-éticas manipulações; a constatação de que todo rei tem medo; e a necessidade das revoltas que desencadeiam a guerra para restaurar a paz.

“O Rei Leão” é a fábula Disney da liderança. Uma jornada de crescimento de um filho, Simba (aventureiro e “invencível” ao perigo – “seguindo a liberdade” não querendo mais “ser filhotes”), que após ser consumido por uma imprudente culpa imposta e sádica (de não ter “ficado fora do vente”), em exílio, precisa transpor a inocência (de “despistar e ser imobilizado” e das “sombras sem proteção” e ou “treinar o rugido”) com a perspicácia adulta (em uma aventura que o reconecta a interligação de seu destino (“a vida que orienta”), permeando o passado com o respeito aos sinais ancestrais, os costumes típicos e às “lições que precisam ser ensinadas aos filhos”.

Simba precisa “deixar o passado para trás para mudar o futuro”. Sim, todas as cenas são majestosas e milimetricamente conservadas, com salvo exceções, por exemplo, no início quando Simba espirra, os pais nesta não riem mais. Não é mais fofo. E sim, a característica música essência que abre a versão anterior continua mantendo o arrepio na espinha, a emoção e as lágrimas. É um filme sinestésico.

Que estimula sensações primitivas e inconscientes. E sem suavizações a fim de “proteger” a nova geração Z, mas que procura uma integração pelo dispositivo da trilha-sonora, que adapta o “prob-lema” da “filosofia Hakuna Matata” (“sem preocupação”) ao pop “The Voice” de ser, talvez pela produção musical de Pharrell Williams, e nivelada ao estilo da cantora Beyoncé (que fornece voz a Nala). E que procura um “abraço” ao novo público com gatilhos comuns narrativos (a câmera lenta; alívios cômicos na medida sem excessos; elipses temporais fofas e estéticas; e o flashback, por exemplo). “O Rei Leão” continua com Elton John (um Sir britânico que é regido pela monarquia) e Tim Rice na equipe. A música tema ganhou o Oscar de Melhor Canção em 1995.

É sobre a mensagem “lembre-se o que você é”. É sobre compaixão. Sobre união e amizade. Sobre manter os valores morais e da família. Contra mentiras. É sobre desafiar o sistema e vencer na crença de um mundo melhor e mais justo. Sim, uma utopia incondicional de não desistir. De aceitar “o tempo de um reinado se levanta e se põe com o sol”; da árvore que simboliza o contato com os ancestrais dá o tom de representatividade aos costumes típicos de um “Rei que tem que fazer muito mais que sua vontade e entender o delicado equilíbrio”.

Todos estão ligados ao “ciclo da vida”. Independentes de animais humanizados, Vikings em guerra e ou super-heróis que pretendem salvar o mundo, tudo é exatamente o mesmo. Concluindo, a pergunta dos críticos “Havia necessidade de refilmar o clássico?” é irrelevante, já que o cinema é uma arte de experimentar imagens e histórias. É igual? Sim. A mesma coisa? Não. Se vale à pena? Sim. Talvez por ser realista demais tenha tirado a fantasia do desenho, assim como aconteceu em “Dumbo”. E “Aladdin”. Sim, mas esta é melhor.

4 Nota do Crítico 5 1

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