O Que Aconteceu na Abertura Oficial do CineBH 2021

O Que Aconteceu na Abertura Oficial do CineBH 2021

Com o tema Cinema e Vigilância, live inaugural apresentou falas e argumentos pelo academicismo do cinema

Por Vitor Velloso

A abertura oficial da 15ª Edição do CineBH 2021 (acesse o site aqui), que aconteceu às 20h do dia 28/09 de maneira remota através da live no canal da Universo Produção, com a apresentação de Erica Vieira, levantou uma série de questionamentos com a performance audiovisual que tinha como intenção: “apresentar ao público a programação e o conceito do evento com arte, música, imagens e movimento, no âmbito da temática central desta edição: Cinema e Vigilância.”

Na sequência de imagens da cidade de Belo Horizonte, performances musicais e entrevistas, uma série de questões costurava essa apresentação inicial: “Qual seu lugar no mundo? Qual seu endereço? Qual seu IP? Qual sua identidade?”. Os questionamentos feitos visando essa temática central, foram compreendidos a partir dos depoimentos que falavam da importância dessa identidade e de saber onde estamos no mundo e onde queremos ocupar.

Após a performance, aconteceu o debate inaugural da temática “Cinema e Vigilância”, que está disponível na íntegra no YouTube, no canal da Universo Produção. O debate contou com a presença de Paulo Tavares – arquiteto associado ao Forenseic Architecture | DF, Bernardo Oliveira – professor, crítico e pesquisador | RJ, Patrícia Mourão – pesquisadora, professora e curadora | SP, com mediação de Pedro Butcher – curador CineBH e colaborador Brasil CineMundi | RJ, para debater a temática central.

“Ao longo da história do cinema, as tecnologias da imagem e do som conceberam o olhar como um poder perverso de intervenção e controle sobre o real. O audiovisual testemunhou e tomou parte da construção de uma tríade em que imagem, controle e poder se tornaram elementos estruturais na sociedade da imagem e na “sociedade das telas”, como definia o crítico Serge Daney. Não por acaso, destacamos o trabalho do coletivo Forensic Architecture, que se dedica a realizar investigações audiovisuais que invertem os objetivos das tecnologias de monitoramento e vigilância para denunciar os crimes desses mesmos sistemas. De que maneira os aparatos tecnológicos se utilizam de cada indivíduo para formarem essas sociedades das telas? Como o poder se apropria dos dispositivos para impor interesses escusos aos rumos coletivos? E de que maneira se re-apropriar dessas técnicas e estéticas para confrontá-las?”

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Durante o debate uma série de provocações e indagações foram feitas pelos convidados, desde a necessidade de se debater a “factualidade das imagens”, ou suas verdades inerentes até a própria significação delas. Quando Bernardo Oliveira lembra do filme “A saída dos operários da fábrica (1995)”, de Harun Farocki, sua fala traz uma ideia de um certo momento inicial da história cinematográfica que é marcado pela interpretação do autor sobre as imagens e seu saturamento de “sentidos”. Já Patrícia, trouxe para o debate a inversão que a extrema direita faz da própria relativização da verdade, como um dispositivo para o que ela chamou de países “neofascistas”.

Contudo, o ponto alto do debate foram as falas de Paulo Tavares sobre o trabalho da Forensic Architecture e sobre a saturação de imagens a partir dos termos que chamou de “socialização dos termos de produção”, onde cada pessoa que possui um smartphone é vigiado e cria a possibilidade da vigilância no mesmo dispositivo. Ao entrar nesse campo da discussão, traz a questão da desconstrução dos discursos, citada por Patrícia, e de como o Estado detém esse monopólio tecnológico, criando uma defasagem em parte da produção dessas imagens pelo público civil, lembrando de como algumas áreas do Império Norte-Americano são borradas quando a procuramos. Esse diálogo que trouxe uma série de indagações em termos da imagem em si, recebeu uma dose mais material e política com a fala de Paulo.

Nosso editor-chefe, Fabrício Duque, fez uma pergunta durante a transmissão “Então toda imagem nasce manipulada? Existe verdade no olhar?”, que foi gentilmente selecionada pela Erica. A resposta retornou a certos pontos iniciais da exposição, que falava da divergência das interpretações com relação a isso, citando Brakhage como exemplo.

Com um convite para conhecer o trabalho da Forenseic Architecture, o debate inaugural foi encerrado, dando início à programação da 15ª Edição do CineBH, que conta com exibição de filmes, debates, oficinas e muito mais. Até o dia 03, a programação, gratuita, está disponível no site da Universo Produção e o Vertentes do Cinema irá realizar a cobertura diária.

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